A CONSPIRAÇÃO DOS TRAPALHÕES
Mais uma trapalhada bolsonarista foi para os ares da indignação nacional com as declarações do senador Marcos do Val à revista Veja. O senador contou, com todas as letras, que Bolsonaro o teria coagido a participar de um golpe de Estado para impedir a posse do Lula e a manutenção dele no poder. Na conversa, o então deputado Daniel Silveira teria sugerido que Marcos do Val fizesse uma gravação clandestina do ministro com o Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, incitando-o a confessar, de algum modo, que ele teria influído no resultado da eleição, o que daria a Bolsonaro uma justificativa para anulá-la.
A conspiração tem sentido e explica a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres, que prevê uma intervenção no Supremo Tribunal Eleitoral e a consequente anulação da eleição. Remete-nos também à invasão das sedes dos Três Poderes no fatídico 8 de janeiro e às consequências jurídicas e políticas que cairão sobre os ombros dos ingênuos apoiadores do ex-presidente, que participaram daquela tresloucada aventura.
Bolsonaro teria ouvido a proposta sem se pronunciar. Já o senador disse que "pensaria" e que depois "faria contato". Mas ao sair, mandou uma mensagem a Alexandre de Moraes relatando a reunião. Dias depois, foi ao encontro do ministro no Supremo e detalhou o encontro. Morais teria pedido a ele que colocasse a denúncia por escrito, mas ele se recusou, razão pela qual o ministro disse que não podia fazer nada a respeito.
Ao que parece, Alexandre de Morais não levou o senador a sério. Aliás, parece que ninguém leva esse senhor a sério em Brasília. Essa ridícula intriga palaciana, na verdade, tem todo o enredo de uma ópera bufa. E não é de hoje que Bolsonaro e seus seguidores tem protagonizado essas palhaçadas políticas. Se elas não fossem perigosas e não provocassem trágicas consequências, seriam até engraçadas. Os personagens que tem aparecido nessa comédia sinistra teriam papel garantido numa enquete dos Trapalhões. Até o próprio Bolsonaro, que em toda a sua performance como presidente protagonizou mais um bufão do que um chefe de estado de um país tão importante como o nosso, caberia nesse contexto.
Também o presidente do PL com as suas declarações teria um papel nesse enredo. Ao que parece ele está levando tudo na brincadeira. Como se tudo fosse, realmente, apenas uma encenação sem consequências, urdida por pessoas sem tino nem responsabilidade, que estão tramando conspirações e promovendo badernas apenas para se divertir. Com isso ganhou um papel relevante entre os Trapalhões do Planalto, mas a trama toda, ao invés de lembrar as palhaçadas do Didi e sua turma, está parecendo mais com o enredo do Pânico.
Porque assistir aos Trapalhões num domingo à tarde rendia boas risadas. Mas ver que o nosso país esteve entregue à uma trupe tão atrapalhada e irresponsável, nos causa arrepios.