Falando diretamente com quem decide!... Até mesmo porque isso é tarefa apenas para aqueles que têm "aquilo tudo" roxo, beeem roxo...

Armeniz Müller.

...Oarrazoadorpoético.

Até mesmo porque uma coisa é falar desse tal Homem do Povo, recentemente ressuscitado politicamente...

...Mas que tal isto de arregaçar as mangas da ética, moral e coragem, indo até determinado lugar, e ali falar diretamente com quem realmente decide sobre tudo e todos, quiçá mesmo sobre a própria vida das pessoas dali?

Seguindo um pouco mais nas minhas andanças em busca de sinais democráticos no seio da população, acabei quase inadvertidamente me aproximando de um desses lugares pra lá de "quentes", essas modernamente conhecidas "comunidades" apinhadas de gente sofrida, tão perigosamente comuns nas periferias das grandes cidades brasileiras, onde ali testemunhei, de uma distância relativamente segura um interessante diálogo em que um repórter "à paisana", mas aparente e quase ostensivamente "grampeado" enquanto ali me pareceu corajoso ao extremo, entabulava diálogo com um baita sujeito no mínimo assustador do alto dos seus dois metros e tantas arrobas, também aparentemente esbanjando a mais pura safadeza, trejeitos malandros e arrogância própria dos bandidos, traficantes e malandros em geral, esses tais que nada temem ou respeitam.

Confesso que quase me arrepiam até os pelinhos dos meus umtantoquanto já desgastados neurônios, diante da mera lembrança do quanto me foi terrivelmente difícil captar tantos bons e necessários detalhes daquele repentino episódio “jornalístico” ali em frente às Casas Bahia onde, coincidentemente com o momento político nacional, o “repórter” usava uma gravata anunciadamente vermelha ao começar a entabular diálogo com aquele sujeitão de envergadura, porte e aparência realmente assustadores. Amedrontador aquilo... Mesmo assim, o admirável repórter logo começou sua disfarçada "entrevista" com o sujeitão, alfinetando:

- Geeente! O presidente Lula está ferrado mesmo... Até essas criancinhas carentes estão cobrando promessas de campanha do Homem do Povo, exigindo seus prometidos cento e cinquenta pilas nas maiores carinhas de pau, mas que tal isso, então?

- Aqui é daí pra mais, bem mais. Afinal, isso assim acontece porque elas são sangue do nosso sangue comunitário, meu chapa! Assim, até já nascem quase misteriosamente sabendo que têm de nadar pras bandas bem longe dos tubarões, se quiserem sobreviver até a idade adulta... Depois, aqui quase tudo se resolve mesmo é no chumbo, tá sabendo?

- Tô sabendo... Tô sabendo! Loucura isso... Mas ninguém daqui vai me assaltar, assim espero.

- Fica frio, meu jovem engravatado! Até mesmo porque ninguém aqui é tão animalesco assim de logo sair arrepiando... E depois você tá falando comigo, embora ainda não saiba quem sou, tá sabendo? Veja só que tá todo mundo alegre e folgado, pelo menos por agora... mas não se arrisque muito mesmo, que ninguém aqui é mané pra viver o tempo todo como carneirinhos ou aceitando perder sempre, como disse aquele outro engravatado todo acetinado, aquele desinfeliz que veste preto, quando passeando com nosso dinheiro lá nos States da América, tá lembrado, pô?!... Depois, isso de ser ou não ser assaltado aqui perto da comunidade, depende só de tuas atitudes mesmo, mano... Então, vê se trata de logo desligar esse teu zoião curioso, e ficará tudo mais ou menos bem procê. Então, fica bem friozão que hoje tá todo mundo alegre e folgado mesmo por aqui. Pelo menos por agora, enquanto segue a festa pro Homem do Povo... Que ninguém aqui nasce quadrado mesmo, ou é "mané" o suficiente pra aceitar perder sempre e viver na pior, de cabeça baixa e medrosamente obedientes, como berrou pra todo mundo aquele soberbão de capa preta lá nos States das Américas, tá sabendo? Será que ele ali lembrava que a frase que seu pessoal mais merece ouvir é “Perdeu, playboy?...

- Sim, sim, tô sabendo... Estou lembrado daquele triste episódio envolvendo um ministro do STF lá em Nova Iorque; mas quero aqui entender melhor sobre aquilo que as criancinhas perguntaram para o Homem do Povo. Como você entende que isso vai ficar? E sobre o que as criancinhas de vocês perguntaram pro Homem do Povo, a respeito de como ficarão seus cento e cinquenta pilas mensais por irem para a Escola, devidamente somados ao Bolsa Família de seiscentos reais e nada menos que isso... Como você entende mesmo que poderá ficar isso tudo?

- Olha aí, ocê da gravata avermelhada!... Tua conversa é meio complicada pra mim, mas o fato é que nóis daqui té que gostamos bastante mesmo dos da cor forte feito essa tua gravata, “e tarveis isso inté memo porque semo”, desculpe minha desafinadinha no português, um pouco assim como eles também... firmes e lutadores por questões de sobrevivência e das nossas complicadas causas sociais. Mas mesmo assim sendo, o Homem do Povo que não se faça de bestalhão pra riba da gente, pois ali na comunidade ninguém, nem mesmo as nossas criancinhas, semos mané como eles falam lá de cima... Eles todos que agora decidem sobre a vida do povão, que abram o zoião! Inté memo porque o nosso bicho-papão aqui das pedrinhas, da ervinha e do pó adorado por eles, quando decide pegar costuma pegar feio, bem feio mesmo, nos garrotes e belos pescocinhos de quem dá calote na gente!

- Quero acreditar que nada disso precise acontecer, afinal são só a bagatela de seiscentinhos reais, mais aquela prometida mesadinha de cento e cinquenta pilazinhas pra vocês comprarem coisinhas boas pra sua criançadinha, não é mesmo?

- Bagatela! Bagatela... Olha só como você disse, engravatado! Mas não se esqueça de que pra quem não conseguiu cumprir nem mesmo com os miseráveis oito reais de aumento pro primeiro salário mínimo dos trabalhadores de carteira assinada, esses coitados todos que também votaram nele junto com os petistas de carteirinha, isso tá bem longe de ser bagatela...

- Concordo, concordo... Vamos na calma, que a conversa vai longe.

- Bom assim... Mas são seiscentos reais, e mais cento e cinquenta pilas pra cada criança nascida, na creche ou na Escola, o sinhozinho quer dizer... Té mesmo porque isto não é assunto pra contador de lorotas, e quero acreditar que o sinhozinho não seja daqueles que pensam que as nossas crianças não têm fome, sede, necessidade de vestir e de brincar como todas as outras crianças “mais civilizadas” como as de vocês, mas esqueçam isso de pensarem que as nossas coitadinhas não passam de seres esquisitos que vivem num buracão escondido no centro da Terra, e que ali não são tentados pelas enganadoras facilidades da internet, praga moderna essa onde todos os brinquedos, roupas e tênis de marca, smartphones e eletrônicos em geral, bikes, motos e carrões parecem estar implorando para serem adquiridas por ricos, pobres e favelados. Será que estou certo ou errado pensando assim de você e das injustiças sociais, isso que é mais ainda tristemente percebido através das redes sociais dos famosos?

- Certo, certo... Isso mesmo. Eu te entendo perfeitamente, até mesmo porque já fui pobre como vocês, bem pobrezinho, aliás... Não fosse a Escola e o gigantesco sacrifício de minha mãe - que não tive a participação de meu pai de forma alguma na minha criação e educação -, investindo até o dinheirinho da comida dela em minha educação escolar... E por certo hoje ainda seria assim, socialmente tão inseguro como vocês... Mas, diga lá, com essa boa grana saindo todo santo ou endiabrado mês, isso vai dar para vocês viverem tranquilos em família e na comunidade de agora em diante, não é mesmo?

- Bom, bom... Isso daí na verdade, essa boa graninha prometida, vem pra ajudar a fechar os apertados orçamentos da gente, pois a nossa mulherada vai continuar pegando essa grana do Homem do Povo, isso tá decidido... Mas a companheirada daqui seguirão na mesma luta de sempre, uns enrolando sedinha, outros montando pinos, mais alguns transportando de lá prá cá e daqui pra todo lugar, mais os da entrega local, e cuidando da faxina moral e da segurança de todos, ficam aqueles que têm "aquilo tudo" mais roxo, bem roxo mesmo, usando as ferramentas que quase já nasceram sabendo usar pra sobreviverem, que aqui ninguém é quadrado, tapado ou mané, meu! Como digo e repito sempre nas minhas decisões, uma viraçãozinha esperta daqui, outras ali do asfalto grande prá diante, até mesmo porque os verdadeiros manés, os playboys soberbos que perdem sempre pra gente, eles moram nesses espigões de luxo onde ninguém é autorizado a entrar, mas nóis pega eles todos do lado de fora... A gente cuida que todos daqui tratem muito bem, de boa mesmo, os que vêm até aqui só prá buscar os seus interesses pagando tudo certinho na hora ou mantendo limpo seu crediário, e bem na durona, as vezes até escarneando mesmo os mais metidos, soberbos e sacanas. Esses últimos, quase sempre são aqueles engravatados com cara de bosta lavada que ocê vê na televisão! Esses merdinhas metidos a grande coisa e sempre nojentos e loucos por uma fungada no pó misturado, pela sua corrupçãozinha política de cada dia e pelos seus grandes e espetaculares amores de aluguel, pagos com o dinheiro da comida e da saúde dos pobres... Sem querer ofender as gatas espertas que tiram muita grana deles, e também sem querer ofender você que usa gravata de seda pura igual a deles... Mais nóis vai continuar largando ferro nesses daí como sempre fizemos, levando tudo que dá pra levar e se possível sem muito escândalo, pois você sabe como é complicado um escândalo envolvendo essa gente graúda... Té mesmo porque é assim que nóis consegue sobreviver nesta dureza de vida, mano: Um dia comendo filé, outro dia ovo frito e no outro só mingau salgado com pão sem fermento... mas logo volta o filé! e de agora em diante quem sabe até as prometidas picanhas, maminhas, caipirinhas de vodca ou principalmente aquela cachacinha Cinquenta e Um do Homem do Povo, ela que até desce adocicadinha, de tão boa ideia que é... Ah, você me entende! Mas tô sentindo que vai ser preciso tomar algumas decisões bem duras por aqui, se as coisas não saírem como prometido...

- Ah, é? E quem decide sobre tudo por aqui, talvez mesmo até sobre a vida das pessoas do lugar?...

- Tá falando com ele, engravatado! Menos sobre a vida das pessoas, inté porque sobre isso são as próprias escolhas, atitudes, acertos e bobeiras delas, debaixo da vontade do próprio Deus, quem decide... Não eu. Mas não é de hoje, e minha mãezinha me ensinou que quem decide é como um sofrido professor, pois muito antes de decidir tem de dar o exemplo, ensinar e até mesmo proteger os mais fracos dos rebeldes metidos a bandidinhos... E aqui o ensino, o exemplo e as decisões são brutos, muito brutos, meu! Olha só isso, que se esses caras da política não cumprirem o que prometeram pra gente, aí sim você vai conhecer quem decide as coisas na dura mesmo por aqui... Mesmo assim, para os demais assuntos um pouco menos urgentes tipo saúde, educação, segurança e emprego “pros de lá”, também vamos dar aqueles cem dias de início de governo pra eles começarem a resolver isso tudo. Mas a “graticidade” da picanha, isso tem de ser pra ontem, mesmo. Quem mandou ele prometer isso pro povão que até passou fome nos últimos anos...

- Sei, sei... Mas quero acreditar que nada de mais violento precise acontecer pra eles colocarem tudo em dia, não! Afinal, pra vocês o mais urgente são a continuidade do pagamento daqueles seiscentinhos do Bolsa Família, mais aquelas cento e cinquenta pilazinhas mensais pra comprar coisinhas boas pra criançada, não é mesmo?...

- Seiscentinhos, mais cento e cinquenta pilas pra cada criancinha, ocê quis dizer, né? Cuidado, que isso não é assunto pra lorota barata, repita isso até gravar nessa tua cachola inteligente, meu jovem curioso! Mas lembre sempre daquele ditado que fala sobre a curiosidades dos gatos, tá certo?

- Claro, certo, certíssimo!... Olha só isso, é o meu telefone que tá chamando, dá licença! Parece que tô indo nessa... Mas valeram muito as boas dicas do dia a dia de vocês, embora eu ainda nem saiba o teu nome... Justo você que mostrou ser um cara bem realista e muito legal e atencioso comigo, valeu mesmo. Até mais ver, grandão!

- Inté mais ver, engravatado gente boa! Ah, e quanto ao meu nome, você pode me chamar de companheiro, porque aqui ninguém gosta da palavra comparsa... Vá de boa, que aqui o feriadão da vitória do Homem do Povo vai longe. E pensar que de agora em diante isto tudo vai ser garantido por ele, o Homem do Povo, que parece ter vindo pro bem de toda a gente sofrida deste Brasilsão, mas que não seja nem louco de querer pisar na bola ou de querer tirar proveito da gente... Veja lá que isto que tô lhe dizendo é a mais pura verdade, tão pura quanto o nosso cobiçado produto principal... O Homem do Povo que não seja louco, nem de ao menos cogitar de começar seu governo novo, dando um chapéu justamente em cima do povo sofrido das comunidades... Inté mesmo porque daqui ninguém nunca saiu pra quebrar estátuas e fazer outras baboseiras no centrão, mas não nos custa nada fazer isso com gente sacana!... Gente de muitas e belas carnes e bem poucos ossos no corpo, mergulhados em soberba e sacanagens com os mais fracos, isso já não te garanto nada, meu! Aliáis, quer saber mesmo? Escuta só, que aqueles de lá têm bem mais carne macia e sedosa que ossos, mesmo... Sabe aqueles ossinhos bem fracotes, fracotinhos de doer? Tadinhos dos mauricinhos e das patricinhas, os ossinhos e a petulância deles são bem diferentes da nossa gana de vencer e dos nossos ossos duros de quebrar. Isso que nos aconteça, um calote nas promessas prá gente, e te garanto que eles não vão querer saber quem é mané de verdade, tanta quebradeira de verdade vai acontecer por todas as bandas onde vive gente pobre, a começar por esses bostinhas soberbos e sacanas que semanalmente compram o produto direto da gente, sô... Mas deixe eu te contar uma bem boa mesmo antes de você ir... É que eu também gosto por demais de tirar uma de repórter infiltrado feito você, seu espertinho de uma boa figa, heheheaiaiaiaiiii.

- Virgem santa!... Socorro, que o “companheiro” me descobriu aqui como repórter disfarçado! Gente do céu, acredito que vou ter mesmo de apelar para o poetinha para me ajudar a encontrar as palavras certas para escrever sobre isto tudo que estou aqui ouvindo e presenciando por tabela, ele que parece ser respeitado e adorado até pela companheirona do grandalhão, e lhe contar toda esta minha perigosa prosa com esse sujeito no mínimo assustador, apesar de bastante sincero no seu pitoresco linguajar de chefão local, e nem um pouco sacana ou ameaçador comigo... Sei que posso escrever uma bela reportagem sobre tudo isto que gravei escondido, mas ele, o poetinha, certamente saberá traduzir tudo e um tanto mais para aquela sua linguagem bonita e positiva pra caramba!

- Eh, mas não vá ainda, engravatado! Eu te garanto que mesmo sabendo quem você é, ninguém daqui vai por as mãos em você... Você tá comigo, ou já esqueceu quem manda e decide tudo por aqui?

- Não, não, não... Agradeço demais tua consideração, mas você sabe como é isso, o meu serviço, mas também te garanto que de mim não vai sair palavra alguma que possa prejudicar você e toda a tua comunidade. Só os fatos atuais, muito bem colocados, e nada mais... Mas, aproveitando a boa deixa de tua cortesia de me deixar ficar um pouco mais, então diga-me lá se é mito, verdade ou mentira isso tudo que dizem pelaí a respeito de vocês das comunidades em geral... Dizem que vocês costumam até mesmo "carnear" algumas vítimas nas suas fitas, essas pessoas mais difíceis de lidar... Isso procede?

- Mito, puro mito misturado com bastante mentira, engravatado! Imagine só isso... Té mesmo porque aqui não temos matadouro nem de animais, quanto mais de gente, mesmo que fosse assim como ocê disse, gente muito ruim de lidar... Afinal, e qual ia ser o nosso interesse e esperteza em "descarnear" essas nossas galinhas dos ovos de ouro? De minha parte, entendo que um possível desenlace final só deve ocorrer em caso de pura traição e boicotagem dos nossos negócios, nada mais além desse motivo maior... Até os segredinhos, segredões e identidade dos nossos clientes de boa-fé nóis daqui fazemos questão de respeitar, imagine a vida deles, então. Chegou aqui e se comportou, tá seguro. O fato é que as histórias da mídia têm de mostrar esse lado meio aterrorizante, até mesmo pra aumentar as audiências e o rico cacauzinho deles, certo? Assim, essas histórias contadas na mídia em geral sempre parecem bem mais feias do que são na realidade, que isso é feito assim pra muita gente poder ganhar seu tutuzão a mais, bem mais... Mas adivinha quem é que leva a pior nisso tudo, sempre!

- Ah, sei, sei... Verdade isso das reportagens recheadas de histórias aterrorizantes e chamativas. Bem verdade, infelizmente...

- Devagar e conversandinho na boa, você tá vendo que aqui também vive gente normal, e se prestar um pouquinho mais de atenção, vai ver que semo gente até bem mais normais que esses políticos, comerciantes e patrões que vivem às custas do sofrimento de tanta gente como a gente daqui...

- Legal te ouvir falando assim, companheiro! Aliás, além de líder comunitário, você poderia ser um excelente político também, sabia? Já pensou em fazer uma boa faculdade e poder cuidar pra valer dessa gente sofrida?

- Eu, um político, hein? Fazer faculdade?! Não brinca com coisa muito séria, que aqui você só está sendo tratado do mesmo jeito que mostra bondade e bons interesses com as durezas de vida da gente, só isso. Mas gostei bastante desse nome que você me chamou: companheiro! Até mesmo porque aqui isso é bem verdade, todo mundo se considera companheiro uns dos outros, que ninguém quer ter comparsas... Ouviu só que palavra mais feia e lembradora de sacanagens isso, comparsas? Então, o que a gente mais tem por aqui mesmo é isso: Companheiros de lutas, de alegrias, de sonhos e também de tristezas, muitas tristezas, pois aqui a gente também vive sonhando, sabia? Eita, que companheirada boa, sô! Cada um sempre pronto até mesmo a dar a vida pelo outro, se for preciso... Quanto a esse outro sonho de até fazer uma boa faculdade, é lógico que a gente aqui também sonha esses sonhos maiores... Mas aí acorda com o choro de fome das crianças da gente e dos vizinhos mais chegados, e que se pode fazer, senão largar de sonhar e sair pro trampo arranjar o que de comer pra turminha, sô... Mas que bom te ouvir perguntar assim prum sujeito bruto que nem eu... Te agradeço mais uma vez, engravatadinho! Confesso que tenho mesmo pensado em encontrar um jeito certo de viver, mas isso tem de ser muito bem pensado ali com minha companheira de cama e de bailões, até me parece que já te falei nisso. Quem sabe uma bonita e limpinha birosquinha de vender comida, pra ela tomar conta, enquanto eu podia virar um baita motorista de transporte público, que adoro ficar vendo esses biarticuladões passando ali no asfalto grande abarrotados de gente sonhando em melhorarem de vida... Eu ia ficar muito feliz se pudesse levar essa gente toda pra esse lugar onde elas querem chegar...

- Mas que lugar seria esse, companheiro?...

- Ora, ora, engravatadinho sabido, puxe um pouco pela tua cachola... O lugar de mudar de vida e ser feliz, ora bolas... Viu só como a gente daqui também sonhamos? Sonhamos e sonhamos, sonhamos até mesmo em mudar de vida, mas pra conseguir isso nunca seremos canalhentos como esses ricaços desgraçados que fogem das nossas "viraçãozinhas" sujando as calças de medo e covardia, mas quando caem em cana devido as suas gigantescas corrupções com o dinheiro arrecadado a ferro e fogo do lombo do povo, nem bem sentam diante do "capa-preta" e logo desfiam o verbo, dedurando toda a sua cambada de comparsas, quase todos ladrões do dinheiro dos contribuintes, esses sacanas que nunca acabam presos de verdade...

- Cara, você é um b a i t a cara mesmo, meu companheiro! A prosa tá boa, muito boa, excelente mesmo, mas acabo de ver descendo ali nada mais, nada menos que o famoso poetinha, o seo Mila, mais conhecido como arrazoador poético... Você já o conhece aqui da região?

- Pessoalmente, não. Mas sei pela minha companheira de cama e de bailões, que ele é um baita homem letrado nas sabedorias da vida... Talvez ele seja o único homem de quem não tenho ciúme, nem vontade de sair "descarneando" por causa das paixonites de minha mulher com as coisas que ele escreve... Te digo que eu mesmo, muitas vezes chego a me arrepiar coas palavras dele, tão bonitas e ajudadoras pra resolver as mais difíceis situações em que a vida costuma meter a gente. Mas que pena, ele já desceu bem lá pra baixo da lotérica, enquanto eu sonhava acordado na tua frente... Acho mesmo que você nem me acreditaria, se eu aqui te confessasse que muitas vezes eu estava metido até o pescoço numa feia, encruada e violenta fita... e ali do nada, sem nem mesmo entender como isso me acontecia, eu lembrava de algumas dessas coisas que minha companheira lia dele e me ensinava, e simplesmente eu largava ali os ferros, e tudo mais de fazer coisas ruins, e voltava quase correndo pro meu barraco de mãos vazias, mas bem contente por ainda aceitar que Deus, nosso Senhor Jesus Cristo existe mesmo até prá nóis daqui, e lembrar que ele, o poetinha tem razão quando escreve alertando e animando todo tipo de gente, inclusive nóis aqui quase sempre atolados nestas nossas lutas desmedidas, malfeitos em geral e poucas esperanças de mudanças positivas. Sem saber, ele tem me ajudado a controlar um pouco esta minha difícil natureza... Aliáis, escute só este escrito dele que ela fez questão de botar num papelzinho pra mim decorar: “”” Ah, essa tua imaginação! Cuidado, muito cuidado, companheiro! / Muitíssimo cuidado com essa tua perigosa / e possivelmente desembestada imaginação... / Pois qualquer dia desses / Num piscar de olhos / e exagerado devaneio mental... / Ou mesmo num daqueles momentos / ...passionalmente contrariados! / Ela, essa tua fértil / e mais ainda desencabrestada imaginação / Poderá te levar a becos sem-saída / e caminhos sem retorno, meu estimado companheiro! ///. P.S.: E então, você já parou alguns instantes que sejam, para refletir sinceramente em quantas vezes já nos deparamos com alguma situação específica, realmente ainda pouco antes perigosa e fertilmente imaginada por nós mesmos, e ali nos locais desses acontecimentos reais não conseguimos segurar espontâneas e talvez mais ainda perigosas reações, quase sempre acompanhadas de expressões finais como: - Vixe, e eu que já havia imaginado isso daí acontecendo bem ao contrário... E assim ocorrendo, quem garante que ainda existirá tempo hábil para consertar o que necessitar ser imediatamente consertado, antes do possível e humanamente irreparável desenlace sinistro? Aliás, permita-me quem vier a ler esta minha reflexão, quando quase meio século pretérito, lá nos meus saudosos tempos universitários daquele meu nadicadenada vocacionado curso de Direito sacrificialmente feito pela metade, durante minha passagem por aquela admirável Escola de Oficiais PM, lembro como se fora hoje ainda, quando aquele impulsivo mas quase amoroso e respeitavelmente comprometido Professor de Sociologia, o qual não lembro mais o seu nome, mas nitidamente seus divertidos trejeitos, berrou pra toda a turma ouvir e nunca mais esquecer: Merda cagada não volta ao cú, jamais! Então, aqui concordemos com ele que realmente é melhor pensarmos muito bem, antes de sair pelaí fazendo asneiras irreparáveis, certo? (Armeniz Müller) “”” Isso tudo eu te garanto que li muitas vezes, pense você, meu jovem engravatado... Foi assim que mais de uma vez larguei fitas bastante desumanas pela metade, sacou? Ah, e pelo que a minha companheira sempre diz, esse poetinha é um sujeito muito simples pra conversar pessoalmente, tão simples quanto um bom prato de feijão com arroz, diz ela... e veja você mesmo isso tudo que ele vive escrevendo prá gentes do mundo inteiro lerem, se alertarem e se animarem. Viu só isso, que assim lembrando do poetinha teu conhecido, até mudei pra melhor o meu palavreado?...

- Bom, muito bom isso! Vi sim, e foi muito bom mesmo constatar isso... Até porque eu mesmo preciso me aconselhar um pouco mais com ele, dia desses, sobre como escrever de um jeito um pouco diferente deste que costumo escrever, talvez até valorizando um pouquinho mais o sentido de humanidade nas minhas reportagens sociais, como esta que logo vou escrever sobre você e tua comunidade. Realmente tenho de reconhecer que preciso me humanizar bem mais!... Mas falando em sonhar, que tal seria fazermos uma fezinha nas loterias oficiais, agora mesmo? E vai que no fim do dia embolsamos uma bela bolada...

- Sei não... Você parece ter esquecido quem é que manda e desmanda nas loterias do governo, vira e mexe trocando todo mundo que dirige as coisas por lá, e alguns safados até mesmo retirando caixas e mais caixas de dinheiro vivinho da silva, como aquele caso dos mais de cinquenta e tantos milhões de reais "sorteados" nas loterias lá da Bahia de todos os santos e diabos, mas também de muitos políticos corruptos e ainda piores que nós todos daqui, juntos e emparceirados nas nossas fitas de empoderamento armado? Jogue nos acumuladões, e logo você vai ver onde seu dinheirinho suado ou mesmo trambicado vai parar... Posso até ser bandido ou favelado, mas não sou burro, sô! Prefiro comprar um bilhete de rifinha pra ajudar meus vizinhos, ou então uma cartela de bingão da Mega-Mania por aqui mesmo, na confiança total, e assim além de ter mais certeza de poder ganhar um baita carro limpinho da silva, ou até mesmo uma boladinha firme e garantida, e uma linda casinha abençoada prá minha família viver tranquila e segura... Sem esquecer que já de saída tenho mais certeza ainda de que acabo de dar uma amorosa ajudinha pros doentes internados no Hospital de Clínicas, isso por demais importante, até porque qualquer dia desses a gente mesmo pode aparecer por lá em busca de socorro também, não é mesmo? Verdade isso que te digo, engravatado! É o que nóis pensa... Pois até uma rifinha de vizinhança, escola ou lugar de trampo merece mais confiança que isso daí, meu chapa! Aliáis, eu falava mesmo lá bem antes é desses sonhos bonitos, sonhos de felicidade verdadeira, como bem diz o poetinha nos seus bonitos escrevinhados. Ou você acha que esses bancos do governo, quase já pertencendo por inteiros a essas verdadeiras quadrilhas formadas por tantos e tantos políticos ladrões e safados, esses que nunca morrem ou se aposentam, justo nos seus jogos de azar podem merecer a confiança dos apostadores humildes como nóis daqui, ou ainda acredita mesmo que um dia desses poderá sobrar algo mais que algumas moedinhas enferrujadas pros pobres coitados feito nós, aqui das comunidades ou da pobreza em geral? Acorda, meu simpático engravatadinho! Será que justo no país da mais completa e odiada corrupção política e social, você vai logo acreditar nos jogos de azar oficiais? Sou bandido, mas não sou burro! Melhor acreditar em mim que nessa gente, isso posso repetir mil vezes e até bater no peito ou no gatilho, se for preciso. Será que vale a pena você jogar cenzão por veiz, quase já sabendo que tá jogando quase direto prá dentro dos bolsos desses safados, a grande maioria deles que são capaiz mesmo de enganar as próprias mães? Pois a maioria das veis (Credo que fico nervoso coesses assuntos e descambo a falar bem errado, me adiscurpe...) é assim mesmo: Você joga cenzão e, se ganhar, quando muito ganha uns deis manguinhos, meu! E olha lá... Faça as contas dos prejuízos! Que tal ao invéis disso comprar a tua própria picanhazinha, e pagar com esse dinheiro de loteria que você sabe de antemão que ia jogando no lixo, ou diretamente nos fundão de bolso desses safados? Mas, mudando um naquinho de prosa, quero aqui te alertar que tem gente muito da ruim chegando pra mandar em todo mundo por esse Brasilzão afora... Olha só que disso, gente ruim, eu conheço e conheço muito bem, engravatadinho. Então, procure tomar muito cuidado ao andar por aí de agora em diante, bisbilhotando safadezas da tigrada! Sei que você é honesto no que diz ou pergunta, mas é justamente sobre isso que quero te alertar, mesmo porque tá ficando cada dia mais perigoso ser honesto e sincero como você, num país como o nosso Brasilzão, onde o próprio povo em geral decidiu partir pra malandragem total, sem nem mesmo pensar nas consequências disso. Pense bem nisso, engravatadinho sabido! Dá licença que tô saindo assim meio de fininho, porque ainda não aprendi a me despedir completamente de quem gosto de verdade...

- Virgem santa! Como ao menos pensar em tirar a razão de alguém assim, que mesmo andando armado até os dentes, me sai admiravelmente bem-informado e camarada comigo desse jeito? Ainda mais sabendo que ele recebe suas informações praticamente direto das fontes, aqui lembro os taizinhos que vivem chegando ali na sua comunidade sempre desesperados por uma porçãozinha pra fungar e logo saírem desbundando ou fazendo atrocidades por aí, pois certamente são eles mesmos que nas suas “viagens” revelam seus mais escabrosos segredos ali diretamente pro companheiro e seus comparsas... (perdão, que ele não aceita em hipótese alguma essa palavra comparsa, realmente muito feia e lembradora de gente da pior espécie...) Mas não seria no mínimo triste isso tudo, se assim for realmente a vida de tantos brasileiros que foram praticamente expulsos das suas lavouras ou empregos rurais e até os dias de hoje nem eles, nem seus filhos e netos tiveram melhor sorte e menos ainda oportunidades sociais de ao menos tentarem mudar de vida na cidade onde vieram parar, sem nem mesmo poderem ter assim escolhido livremente, quem sabe tivessem doravante algumas boas oportunidades de aprendizado e emprego, e muitos deles chegassem mesmo a galgar alguns desses sacrificantes, mas bons enquanto corretos e recompensadores degraus na sociedade profissionalmente organizada, ainda que isso viesse a lhes acontecer ao dificílimo custo de imensos e sacrificantes esforços e renúncias pessoais e dos seus espinhentos enquanto socialmente violentos estilos de vida atuais? Geeente do céu! Agora sou eu mesmo que vou saindo de uma vez por todas desta umtantoquanto estranha circunstância em que me meti a pedido do admirável poetinha, para fazer-lhe esta alongada pesquisa de campo. Tchau, e até um dia desses qualquer!... Tomara então em situações bens melhores para todos os nossos esperançosos compatriotas, e principalmente para vocês da comunidade, que agora bem sei que assim como fazia minha santa e saudosa mãezinha, também tiram a comida da boca pra matar a fome das suas crianças e dos seus vizinhos mais necessitados que vocês. Pobres ajudando pobres, que tal de humano isso? Ah, e fiquem mui bem sossegados que vocês e suas valorosas companheiras logo, loguinho, poderão ler tudo isto que aqui proseamos, em mais um bom e correto texto do poetinha Armeniz Müller. Isso tudo na boa mesmo, e sem nenhuma sacanagem com intenção de lucro fácil, podem crer. Vixe, agora fui mesmo, té porque mais ainda que antes, continua sendo bom e salutar mesmo não abusar por demais da boa vontade de ninguém, isso que todos os indivíduos de bom-senso e elevado instinto de preservação devemos saber de cor e salteado. Valeu...

E assim... Parecendo-me umtantoquanto tristonhamente reflexivo, aquele jovem e incrivelmente entusiasmado e corajoso repórter "grampeado", na ocasião meu estimado auxiliar “frila” ali assimmeioassim infiltrado nas proximidades de uma folcloricamente temida comunidade local, em muito mesmo graças a sua gravata avermelhada em dia de realistas festividades e cobranças petistas, também enveredou rua abaixo feito este tão falado (por eles) poetinha, muito provavelmente analisando se realmente valia a pena contar as verdades que ouviu daquele estranhamente sincero e até bastante simpático e atencioso personagem do cotidiano sofrido e armado local... Ou se, como o próprio "companheiro" dele afirmou em dado momento da longa entrevista, o melhor seria também acabar contando mais uma bela e empolgante história recheada de mui bem-engendradas mentiras sensacionalistas para os seus ricos e curiosos leitores do lado de lá do asfalto grande... Leitores bons pagantes, que mui certamente só conhecem essa vida de sofrimentos e desumanas brutalidades das comunidades brasileiras, e quiçá do mundo inteiro, justamente através dessas histórias e vídeos chocantes que chegam-lhes diretamente nos visores dos seus dispositivos diuturnamente logados, isso ainda graças aos esforços originais, atitudes humanamente proativas e incontestável coragem dos destemidos e honestos jornalistas investigativos.

Até mesmo porque não deve ser nada fácil falar diretamente com quem realmente decide sobre tudo, inclusive sobre o cotidiano, o destino e quiçá mesmo em muitas ocasiões sobre a própria vida dos demais moradores, clientes de vícios e participantes de tantas escabrosas operações, bem como das suas vítimas circunstanciais nas propaladas fitas, ou ainda nos tristes casos de transeuntes acidentalmente feridos nos mais diversos locais em que atuam ou entram em confrontos armados com possíveis rivais ou contingentes policiais em serviço.

Eu mesmo, nestas minhas muitas e muitas andanças antes de escrever sobre tantas situações enfrentadas por gente que também a duras penas aprenderam a ser gente deveras humanizada, ajudadora e amorosa, conheci pessoalmente alguns desses respeitáveis repórteres investigativos, e bem sei das suas muitas tristezas e diminutas mas saltitantes alegrias, a cada encontro frontal com circunstanciais ou programadas coberturas das nuas e cruas realidades da vida...

...A eles todos, repórteres investigativos e seres humanos ainda hoje hipócrita, desumana e covardemente aviltados pela sociedade organizada e pelo poder político reinante, os meus mais profundos respeito, empatia e compaixão.

Abraços,

Armeniz Müller.

...Oarrazoadorpoético.

Armeniz Müller
Enviado por Armeniz Müller em 31/01/2023
Reeditado em 16/02/2023
Código do texto: T7708301
Classificação de conteúdo: seguro
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