A METÁFORA DA IDIOTICE ÚTIL
Forrest Gump é um sujeito simplório que tem alguma deficiência intelectual. Ele faz todas as coisas meio que naturalmente, sem se dar conta das razões pelas quais está fazendo. Assim, com a naturalidade de uma criança ele acaba participando dos principais acontecimentos da história recente dos Estados Unidos, em alguns deles até como protagonista, mas sem ter a mínima noção da importância deles. Pela sua casa passam personagens famosos como Elvis Presley, que com ele aprende o famoso passo de dança que enlouquecia os seus fãs; também participa da guerra do Vietnã, vira herói da pátria e depois, sem querer, se torna um ativista contra ela. Joga tênis de mesa com Mao Tsé-Tung, torna-se um grande industrial da área de alimentos, e sem se dar conta do que faz, torna-se guru para pessoas que o seguem numa despropositada corrida através do país.
O tema central do livro Forrest Gump, o Contador de Histórias, e do filme homônimo estrelado por Tom Hanks, que ganhou vários Oscars na década de noventa, é mostrar que a nossa vida e as nossas ações, de uma forma geral, não são guiadas pelo que chamamos de livre arbítrio, mas sim impulsionadas pelos acontecimentos e neles nós somos levados como penas sopradas pelo vento. Essa, aliás é a última cena do filme: uma pena bailando ao vento.
É um baita choque na nossa vaidade. Nós pensamos que somos donos do nosso destino e que estamos fazendo as escolhas por nossa conta e risco. Forrest Gump mostra que não. Que nós somos, na verdade, como bois que fazem parte de uma boiada. Alguém toca um berrante e nós nos acalmamos; se um boi, de repente, começa a correr, a manada inteira vai atrás. Alguns são selecionados para engorda, outros para reprodução. Tudo concorrendo para servir o deus da utilidade. Só importa o que é útil, o que serve aos propósitos da sociedade. Ou de quem a manipula. Exatamente como o boi, de quem tudo se aproveita. É uma metáfora da idiotice útil.
Ela é bem delineada na corrida que Forrest Gump faz atravessando os Estados Unidos de norte a sul e de leste a oeste. Ele não sabia explicar porque estava correndo, apenas sentia que precisava fazer isso. E por onde passava, outras pessoas se juntavam a ele na esperança de encontrar, na despropositada corrida pelo país, uma razão para viver. Até que, um dia ele para de correr e a multidão que o acompanhava pelo país se pergunta: e agora? O que vamos fazer? O que vai ser de nós?
Lembrei-me do Forrest Gump ao ver a multidão de vândalos que invadiu a Esplanada dos Ministérios no fatídico dia 8 de janeiro. A grande maioria sequer sabia porque estava fazendo aquilo. Foram conduzidas como bois numa boiada estourada. A única diferença é que o condutor dessa boiada não estava junto com eles. Estava tomando o seu uísque em Miami enquanto os idiotas úteis se encrencavam.