Bolsonaro: o mau perdedor
O que podemos dizer da atitude de Bolsonaro, que viajou para os Estados Unidos após a derrota para Lula e se recusou a passar a faixa presidencial para o petista? Com certeza, não podemos dizer que ele é um bom perdedor, pois não aceitou com dignidade a sua derrota. A sua atitude foi a de um covarde, mostrando que tinha apenas pose. E muitos que ainda insistiam em apoiá-lo devem ter ficado com muita raiva ao ver que tinham feito papel ridículo por causa dele. Bolsonaro realmente provocou algo inédito no Brasil, sendo responsável – ainda que indiretamente – por uma verdadeira cisão política, levando pessoas a se dividirem entre esquerdistas e direitistas e muitos adeptos da política de extrema direita simplesmente satanizaram a esquerda, transformando o PT num bode expiatório. Do mesmo jeito que, no passado, os adeptos do nazismo transformaram a comunidade judaica no mal, os que apoiaram Bolsonaro passaram a ver a esquerda brasileira como o mal, algo que tinha que ser extirpado. Isso se refletiu principalmente nas redes sociais, onde os que apoiavam Bolsonaro o enalteciam como um homem de bem, defensor dos valores morais, do patriotismo e da família e denegriam os esquerdistas chamando-os de vagabundos, desocupados e tantas outras coisas pejorativas, usando mesmo palavras de muito baixo calão.
Bolsonaro enganou muita gente que o via como paladino da moral, ignorando os sinais que ele dava, desde o início, de que representava o pior da política com seus pontos de vista medíocres e seu jeito reacionário, ignorante, despreparado, grosseiro e trapalhão. Porém, os que se encantaram com suas opiniões ridículas não quiseram acordar para a realidade quando os que viam o perigo que Bolsonaro era tentaram alertar. E Bolsonaro deu várias mostras de ser uma pessoa de moral duvidosa desde o momento em que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff. Somente uma pessoa de valores morais duvidosos elogiaria um torturador como Ustra. Qualquer um que tenha um conhecimento razoável das leis e da Constituição sabe que tortura é um crime hediondo e que fazer apologia de um crime também é um delito. Como se vê, Bolsonaro nunca escondeu quem era. As pessoas que o apoiaram preferiram se iludir, achando lindas suas palavras grosseiras e seu ponto de vista preconceituoso e limitado.
Foi horrível ver muitas pessoas chamando um homem como ele de mito, não levando a sério o fato de que ele demonstrava muito bem não possuir o menor preparo para assumir a presidência da República, dizendo que ele podia ser grosseiro mas que isso se devia ao fato de ser um militar e que, pelo menos, era um “homem de bem”, patriota e defensor dos valores tradicionais. Não foram poucos os que falaram que ele resgataria os princípios morais destruídos pelo PT e que isso mostrava que, “graças a Deus”, a maioria do eleitorado era constituída de pessoas conservadoras e defensoras dos valores morais.
A pose de Bolsonaro começou a cair logo no começo do seu governo. Ele se mostrou um verdadeiro desastre se comportando de forma grosseira até com os representantes políticos de outros países, não levando a sério a gravidade da pandemia do coronavírus e se portando com total insensibilidade quando confrontado com a realidade de tantas mortes, dando a desculpa de que era “Messias mas não fazia milagres.” Ele chegou a minimizar a gravidade da situação, falando que o vírus era apenas uma gripezinha mesmo quando as internações se davam aos montes, provando não ter o menor traquejo para lidar com tal situação, dando razão para que muitos se manifestassem contra ele, chamando-o de incompetente e genocida.
Agora, o que nós vimos? Vimos pessoas fazendo coisas verdadeiramente ridículas, não aceitando o fato de que a maioria das pessoas preferiu Lula, defendendo um golpe e fazendo barulho. Tudo isso por um homem que nunca se importou com o povo. Se alguém acha que Lula não é o melhor para o Brasil, tem direito a ter sua opinião, porém isso não significa que o melhor para o nosso país seja um homem que não sabe nem mesmo reconhecer a derrota e se recusou a agir com dignidade. Entretanto, o mal que ele implantou ainda perdura pois os seus apoiadores chegaram a cometer verdadeiros atos de vandalismo. Sejamos sinceros. Alguém viu os petistas ou esquerdistas fazerem coisas idiotas quando Bolsonaro se elegeu presidente? Até onde se sabe não. Mas os apoiadores de Bolsonaro têm ultrapassado todo e qualquer limite do bom senso, não querendo aceitar a realidade, mostrando que vivem em uma realidade paralela. Vai demorar muito para que o mal que foi gerado por Bolsonaro (de forma consciente ou não) seja definitivamente vencido.