Anos Sombrios - I
Viver a vida como costumávamos está a cada dia mais desafiador. Todas as coisas estão se esgarçando numa subjetividade perigosa, mesmo ao mais atento observador.
Afinal, o que mudou? Francamente eu não sei, mas minha percepção é que alguns poucos se apropriaram de um volume muito grande de fortuna, da “passarela”, ocupando um imenso espaço e protagonizando imensos papéis através de mídias sedentas de manter as coisas como estão.
Há uma inversão extrema do que costumávamos mensurar como valores essenciais que um cidadão deveria ter.
Alguns já perceberam que falar bobagens absurdas traz likes que se revertem em alguns minutos sob os holofotes e também muito dinheiro. A riqueza sempre foi bastante buscada, principalmente pelos já muito ricos.
Mas, atualmente, todas as pessoas foram invadidas pelo desejo de alçarem à situação de riqueza, rapidamente - sem mais aquele ciclo de estudar, casar, formar família e aos 40 já se encontrar bem estabilizado.
E muitos embarcam nessa viagem, alguns com sérias consequências. E legado pra história, que é bom, “necas”.
A água está mais escassa, o ar menos respirável, - pesado; as florestas ardendo em chamas. O mundo ficou muito instável, tudo muito nebuloso.
Agora estão possibilitando viagens em volta da Terra- por alguns milhões de dólares por passageiro, em uma nave com lotação de meia dúzia de pessoas. E falam em habitar Marte.
O objetivo desses bilionários, - não tenho conhecimento se é científico ou meramente ânsia de juntar mais dinheiro. Mas essa história, pelo menos a curto prazo, há de causar a perda de muitas vidas.
É óbvio, também, que esses malucos não estão pensando nas gerações futuras, na preservação do Planeta, se este fosse o objetivo, o caminho mais seguro seria proteger o seu próprio quintal, agora, - e preservar as espécies que estão em risco de extinção.
Estão buscando dizimar a casa e os irmãos de pele vermelha, cá no Sul. No Norte isto já foi feito. Copiar maus exemplos é mais fácil que estruturar inovações bem sucedidas.
Até me vem à lembrança a canção de paz do RC (O Progresso) que diz “… nas estrelas, não! Eu peço. Não deixe que o azul do céu se inflame/que o sangue de inocentes se derrame…”.
Eu não sou contra o progresso, mas apelo pro bom senso, - continua RC.
A receita prescrita no momento deveria cuidar de menos polarização, menos nosso próprio umbigo, mais informação, mais amor, mais empatia.
Mas fico na torcida que ainda tenhamos oportunidade de presenciar um novo renascimento no qual possamos viver sem desassossego; com os pés no chão, cabeça erguida, mais artes: pincéis, telas, pinturas, partituras, livros, teatro, cinema e mais comida na mesa.
“O mar da história é agitado. Não estamos alegres, é certo, mas por que razão haveríamos de ficar tristes?” (Vladimir Maiakovski).
Precisamos manter a serenidade e a esperança de dias melhores.
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Júlio César Fernandes
Esboço _ JC ✍️ 31.10.21