SADISMO NEUROLÓGICO
Em uma cena do filme Ben Hur, um general romano chicoteia o condenado Judá. Ao ver os olhos inflamados de ódio do prisioneiro, diz: “Seus olhos estão cheios de ódio, mas você tem sabedoria para se conter. Continue odiando. O ódio é bom. Ele nos ajuda a viver.”
Esse monólogo é um bom exemplo do que podemos chamar de pedagogia do ódio. Como é que aprendemos a odiar alguém, ou alguma coisa? Certamente pela dor que ela nos causa. Porque tudo que o ser humano faz tem como objetivo obter prazer ou evitar dor.
Trazendo o tema para o nosso cotidiano, o que justificaria o comportamento psicótico de pessoas que acampam em frente aos quartéis, pedindo intervenção militar para mudar o resultado de uma eleição que não deu o resultado que elas queriam? E não contentes com essa insensatez, promovem um verdadeiro atentado contra os poderes da República, tomando de assalto a capital do país, para promover um golpe de Estado?
Contra o que, ou quem, os bolsonaristas radicais estavam destilando o seu ódio? Contra o Lula? Contra o PT? Contra as autoridades que, na opinião deles, foram responsáveis pela derrota do seu candidato? Duvido que soubessem dar uma resposta lógica para essas perguntas. Em que, ou quando, ou medida, o PT ou mesmo Lula, teria causado alguma dor insuportável à essas pessoas, que justificasse o comportamento irresponsável, destrutivo e criminoso que elas adotaram na sua invasão às sedes dos Três Poderes da República?
A maior parte do processo mental que dá origem aos nossos comportamentos são “programas” introduzidos de forma inconsciente em nossa mente. Principalmente através de informações que os nossos sentidos recebem e não submete a um processo lógico de filtração. É o que acontece no presente caso. Uma campanha orquestrada de informações falsas inoculou o ódio dos bolsonaristas contra os seus adversários, de uma forma tão virulenta e passional, que os sentidos deles perderam todo o senso de realidade. Para eles, invadir e depredar as sedes do Poderes da República lhes pareceu uma coisa normal e justificável, como vingança contra algo, ou alguém que lhe provocou, ou poderá lhes provocar imensa dor.
No entanto, Lula e Bolsonaro são apenas pratos da mesma balança: dois demagogos populistas que pregam ter encontrado a fórmula perfeita de governo. E imbecil é todo aquele que compromete a própria vida por conta das narrativas que um e outro constrói para justificar sua ambição pelo poder. Ambos continuarão suas vidas desfrutando das benesses que o poder político lhes conceder. Mas os enlouquecidos apoiadores de um e outro, que praticarem atos criminosos em nome das ideologias que ambas as narrativas plantaram em suas mentes “programadas” terão suas vidas prejudicadas, talvez para sempre.
Alguém poderá dizer que isso é pura estultice. Eu chamaria de sadismo neurológico. Porque quem não encontra prazer em viver procura o sofrimento para sentir-se vivo. Os primeiros constroem, os segundos destroem. E assim caminha a humanidade.