PROTESTOS E DEPREDAÇÕES - E SE FICARMOS COM A CARA DO LACERDA OU DO BRIZOLA?

É triste ver tantos bons brasileiros, que se deixaram levar pelas narrativas fantasmagóricas de um outsider que acabou presidente da república, literalmente presos no ginásio da PF, passando as agruras e as necessidades decorrentes de tudo o que aconteceu em Brasília, no dia 08 de janeiro de 2023..

Tudo bem, esses brasileiros estão aí porque o PT governou e promoveu os maiores escândalos de corrupção que esse país já viu: MENSALÃO e PETROLÃO.

Todo mundo sabe que é verdade. Os caras devolveram dinheiro. As provas estão aí. O PT vem com essa conversa de que o Lula foi absolvido. Ora, não há uma sentença de mérito absolvendo o Lula, nenhuma. As questões que encerraram as ações contra ele são de ordem processual.

O problema nem é esse. Eu dou ao Lula o direito da dúvida se ele tinha consciência de tudo o que rolava na Petrobrás e das opções pragmáticas do José Dirceu no Mensalão. O problema é que nunca reconheceram publicamente o erro e nem jamais pediram desculpas ao povo brasileiro.

Daí, e por essa razão, surge o Bolsonaro, como poderia ter surgido qualquer outro, e ele soube interpretar a revolta do povo contra aquela engenharia de corrupção. O azar do Brasil é que, em 2018, ganhou o Bolsonaro e não um camarada mais articulado.

No entanto, ele, que ganhou de bandeja a presidência, devolveu-a no cercadinho. Não precisava, mas o Bolsonaro, assim como surfou na onda antipetista, anticorrupção, devolveu o poder para o PT. O povo revoltado, agarrando-se na única esperança, já que não foi ensinado a votar no primeiro turno, fazendo voto útil, foi comprando novas bandeiras, no turbilhão de revolta: justificadamente lutando contra a corrupção, embolando-se todo em questões de vacina, patriotismo, medo de comunismo, e por aí vai.

Esse movimento carente de líderes, na hora "H", no momento mais traumático, viu seu mito silenciar-se, tomar um avião, desembarcar na Flórida e ser internado por dificuldades intestinais no dia "D". Como único líder ele tinha a responsabilidade de permanecer e falar com seu povo, servir como interlocutor desse mesmo povo. Talvez, fosse esperar demais, devo reconhecer.

O povo saiu em marcha, conduzido pela PM do Distrito Federal, como numa procissão do holocausto, sem saber que estava sendo levado para o palco de uma grande tragédia. E no meio desse povo, com certeza, foram os infiltrados ou os celerados. Senhores e senhoras de bem, bons brasileiros, estão ali, nesse momento, colocados num ginásio esportivo da Polícia Federal, sem lideranças que os conduza, sem advogados, e, com certeza, sem entender até mesmo o que aconteceu.

Há muita coisa estranha nisso tudo: uma polícia que leva o povo para o palco da tragédia, retira-se, e deixa o circo pegando fogo; um Secretário de Segurança que vai beber água nas fontes do Tio Sam, seguro na América, e que desliga o celular na hora "H"; um governador que não sabe de nada e vem a publico pedir desculpas e, sem apelo, é defenestrado pelo Ministro do STF, meio xerifão do Oeste; um governo Federal e um Ministro da Justiça que não sabiam do movimento, será que dá para acreditar? Sem falar no pior: um líder que, longe dos liderados, tem um problema intestinal e não manda nenhum recado, ele que é exímio nas redes sociais. Que tragédia!

Mas quem está atônito é o povo, são aquelas mil pessoas que estão presas na PF, que não depredaram nada, que estavam na onda de defender uma pauta de direita: Deus (como se Ele precisasse de alguma defesa), Pátria (como se esta pudesse ser aprisionada apenas por uma parcela da população) e Família (como se o núcleo familiar não se defendesse a si mesmo pela educação e o exemplo dados pelos pais). Ninguém destrói família por lei (ainda hoje na antiga URSS estão lá as famílias para quem respeita a família) e ninguém protege família (quem protege são os que compõe seu núcleo).

Nem tudo está perdido. Os conservadores se levantaram para dizerem aos progressistas: nós existimos e queremos participar. E os progressistas (PT, Lula e os demais) terão que entender que o Brasil de 2023 não será o Brasil de 2003. Não vão governar passeando, já perderam o brilho, o encanto. Agora é todo mundo com os pés no chão.

O que me preocupa é ver os expoentes dessa situação, o Ministro Alexandre de Morais, o Presidente Lula e seu Ministro da Justiça, Flávio Dino, discursando e fazendo uma leitura errada dos acontecimentos. Pensam eles que estamos vivendo num momento em que todos estão dispostos a cumprir as leis quando, no imaginário dos que protestam, o Lula é um culpado descondenado.

A imprensa, diga-se os veículos de mídia perfeitamente alinhados com os ideais da esquerda, comenta, sem nenhuma análise, que as pessoas que participaram dos protestos e mesmo do quebra-quebra fizeram provas contra si mesmos, eis que produziram vídeos e lives com a cara limpa.

Para mim é muita falta de percepção em não avaliar o porquê das pessoas terem feito o que fizeram de cara limpa, sem nenhum subterfúgio para esconder suas identidades, com exceção de alguns suspeitos (talvez os infiltrados) que ocultaram seus rostos.

É parte do povo brasileiro que expôs o rosto, mostrou a cara, e simbolicamente avançou temerariamente sobre os Poderes da República. Isso é realmente muito grave, é aterrador.

Mas não perceber nisso tudo que há algo muito mais profundo do que apenas querer agir como fascista é um erro crasso na história que estamos vivendo ou fazendo.

O Brasil está doente! Não são só os depredadores, taxados como "terroristas" que estão doentes (não sei se seria esse o crime numa análise feita por juristas não cooptados - Lei do Terrorismo - 13.260/2016, mas essa análise não cabe aqui), mas está doente todo o resto. Nós estamos perplexos. A direita não tem lideranças que sirvam de interlocutores, até porque ressurgiu na onda de um só outsider. A esquerda revelando apenas o que sempre teve, sob a condução do PT, um projeto de poder. E o centro, onde me incluo, sem saber o que dizer no meio dessa gritaria imensa.

Em 1964, Carlos Lacerda apoiou o golpe militar contra um governo eleito pelo povo, constitucionalmente instituído. Não demorou muito para que o AI-5 o pegasse. Os que puseram a cara para bater, repudiando a corrupção dos governos anteriores, agora órfãos de liderança e de generais, estão, de alguma forma, todos acuados num ginásio da PF (o Brasil da direita está lá), todos com a cara do Lacerda em 1968.

A esquerda e a imprensa que a justifica, fazendo uma leitura muito superficial, está ameaçada de ficar, em algum momento, com a cara do Goulart, do Arraes e do Brizola de 1964. Não se iludam, os brasileiros estão engolindo essa situação, não estão satisfeitos em ver o Lula e seu partido no poder, com exceção, é claro, do terço historicamente petista. Ninguém se iluda, porque 2023, 2024, 2025 e 2026 não são mais 2003, 2004, 2005 e 2006.

Uma coisa é certa, o único regime que não deixará ninguém alegre, mas também ninguém com cara de Lacerda ou de Brizola, é a DEMOCRACIA, só que ela é uma santa frágil e que não faz milagres, por isso, é bom andar devagar com o andor, porque o santo é de barro.