O Provável 2023

Feliz Ano Novo! Que seja um período positivo para você leitor na vida particular. Vou lustrar a bola de cristal e tentar imaginar o que podemos esperar na política e economia.

 

Sempre esperamos muito de novos governos, em geral o primeiro ano tende a ser frustrante. Isso porque montar uma estrutura nova e fazê-la funcionar leva tempo e pelas leis brasileiras, o orçamento disponível é o deixado pelo governante anterior. Só isso já limitaria minhas expectativas do governo Lula. As circunstâncias de sua eleição, com quase metade do eleitorado votando contra e somadas as abstenções a maioria sem apoiá-lo dão mais motivos para prudência.

 

Espero do novo governo uma postura menos conflitiva, mais empática com a população mais pobre e mais aberta a negociação. Isso por si só reduz a sensação de guerra interna em que vivemos os quatro últimos anos, entretanto, nada resolve, são precisas novas pautas que devem avançar pouco neste ano.

 

O mais provável é que possam prosseguir as que já estavam na mesa, como a Reforma Tributária. A que está aí fala de redução de número de tributos e forma de arrecadação. É algo positivo para investidores e empresários, e marginalmente pode ajudar a aumentar o nível de emprego.

 

No entanto, se implementado, não resolverá o grande problema das pessoas, que é o nível de renda, que depende de tributação de salários e de micro empresas, que é do que vive a maioria da população. Isso depende do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e o que precisa ser feito é atualizar as tabelas de retenção e abatimento de despesas, defasadas em mais de 80% e que fazem com que se recolha muito mais imposto do que deveria, diminuindo salários e fazendo com que menos gente seja isenta.

 

Aumentar o nível de isenção é promessa de campanha, se cumprida será positivo, se aumentar as tabelas também para a classe média, isso sim é fator de mudança, teremos crescimento do consumo e da economia.

 

O problema é que para pagar isto, é preciso aumentar a tributação de quem ganha mais, o que enfrenta grande resistência dos poderosos, sobretudo servidores de altos salários do Judiciário e Legislativo. É preciso aumentar alíquotas de IRPF e de contribuições sociais, pelo menos para salários acima de R$ 40.000, o que só pode ser feito para 2024. Se o novo governo topar a briga, o Brasil entra no rumo da redução da desigualdade. A ver, parece bom demais para ocorrer e otimismo demais para esperar já neste ano.

 

Não devemos ter boas notícias do mundo. Não parece que a guerra da Ucrânia vai acabar e Estados Unidos, China e Europa devem ter crescimento menor para segurar a inflação criada por ela. Isso diminuirá nossas exportações, o que aumenta a importância de tocarmos a questão acima de tributação das pessoas para termos crescimento.

 

Os primeiros governos Lula tiveram como um motor do crescimento o aumento do Estado, com muitos concursos e maiores salários para servidores, o que foi positivo e necessário, saúde, educação e transporte precisam de gente e estes são bons empregos que levam gente para sair da pobreza de verdade.

 

No entanto, foram criadas distorções, hoje temos mais de 150.000 servidores públicos, nossos funcionários, que recebem acima do teto de já absurdos R$ 40.000 por mês, são pessoas enriquecendo com salários pagos por uma população que ganha em média menos de R$ 2.000. É preciso gerir melhor salários de servidores ou o aumento dos salários significará mais gastos sem melhoria dos serviços prestados. No entanto, falar em Reforma Administrativa para o PT é quase criminoso, é preciso mudar esta visão, gerir melhor o Estado é parte de reduzir desigualdade. Não creio que consigam ver isso em 2023.

 

Pode-se esperar do novo governo melhores condições para cultura, lazer e esporte, demonizados pelo anterior. É boa notícia, são setores importantes da economia que também geram bem-estar para as pessoas, só que quem tem de investir é o setor privado.

 

Se for falar em prioridade de investimento, o público tem de ser em infraestrutura, portos e ferrovias e acima de tudo energia elétrica,  de preferência de fontes renováveis, pois qualquer crescimento ou época de seca é suficiente para gerar falta de capacidade em eletricidade. Se ficarmos discutindo teoria sobre privatizar ou não, andaremos de lado. É o mais provável, no entanto, o certo é escolher a alternativa que trouxer mais investimento rápido, deixar a ideologia para lá.

 

O ano deve ter inflação alta, juros altos, com sorte dólar estável ou até um pouco menos desvalorizado, o que recomenda prudência nos gastos e poupar se possível. Deixe para consumir se der certo a redução do IRPF.

 

Já deu para ver que não espero um 2023 muito bom do lado da economia e da política. Então, precisamos focar nas nossas vidas particulares, não é o governo que vai resolver nossos problemas, temos de ser nós mesmos.

 

Com certeza eu queria estar pintando um cenário mais azul, aprendi com o tempo que ser menos otimista é o caminho mais prudente e ao menos para mim, funciona melhor preparar para algo ruim e às vezes ter a sorte de uma surpresa boa. Que eu esteja errado e esta venha para todos. Feliz 2023!

 

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 31/12/2022
Reeditado em 01/01/2023
Código do texto: T7684052
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