CAGANDO E ANDANDO

CAGANDO E ANDANDO

Carlos Roberto Martins de Souza

A canção “Caminhando e Cantando” se eternizou na voz marcante de Geraldo Vandré, em meio à ditadura ele escreveu a letra da música que expressava o sentimento perfeito dos manifestantes da época. A liberdade de expressão de Geraldo foi tanta, que a letra chegou a ser censurada e o cantor precisou sair do país, em exílio, para se proteger. Hoje, já em final de feira, uma nova canção está nascendo na voz nojenta e desafinada do cantor gospel, Jair Malandrão, um astro pop dos meios pentecostais. O título “Cagando e Andando”, ela conta a trajetória de um governo que nunca foi governo, mas foi celebrado nos meios evangélicos como o melhor que Deus tinha para o Brasil. Era o fim de uma vergonhosa história. Tomado de aflição e de expectativas para ver o seu futuro sendo parturiado pelos Juízes, no Bloco Cirúrgico do Hospital TSE, de onde poderia nascer um novo filho, o Mandato, Jair Malandrão optou por segurar as pontas, ou melhor, a merda. Mal sabia ele que seu filho Mandato nasceria morto, pior daria muito trabalho. No salão de Reuniões do Palácio do Planalto, um grupo de puxa sacos acompanhava o presidente, eram 17:00 do dia 02 de novembro de 2022. A televisão ligada na Globo indicava que havia algo errado, pois a tal emissora é tratada como lixo. Alguém questionou o porque a Globo, e ouviu o tradicional bordão politico: “Estou Cagando e Andando", em tom de deboche. Todos esperavam, com ansiedade, a vitória do astro Jair Malandrão, tinham apostado todas as fichas. Sucesso de público no meio evangélico, cristão declarado e batizado, contava com o apoio da Igreja para chegar ao segundo mandato. Mas havia um suspense mortal, um funeral prenunciado, uma caganeira generalizada se abateu sobre os presentes, era uma banda da bunda no vaso, outra na cadeira, a privada estava disputada. Tinha uns com o dedo enterrado no “coiso" para segurar o vazamento, queriam comemorar a sonhada vitória. 19:59h, entra o plantão do Jornal Nacional, e ai o Capetão sente um pequeno mal estar causado por uma cólica intestinal, era o prenúncio de que a diarreia iria provocar estragos, mas ele, turrão, pensou que não fosse nada, que uma urinada ou uma barrigada aliviasse. O parto bostal estava em andamento. Na fila do banheiro, Jair Malandrão sentiu a primeira contração, fechou a cara, deu aquela respirada, era o momento chegando, ele mordeu os beiços, dores se seguiriam, ele tomou consciência de que a sua “gravidez fecal” chegara ao nono mês, as coisas se complicavam, o produto gerado queria sair, e rápido. A cueca samba canção se contorcia ao de imaginar aquela bela cagada sendo jogada sobre ela. Com a fila longa, um cagão se contorcendo no vaso e gemendo, ofereceram ao Bozo um penico como alternativa. Logo se ouviu o “porra" bem ao estilo dele. E ai, ouviu de outro que estava na fila: “Calma! Somos todos iguais". Braços dados ou não, ele percebeu que não havia alternativa, que ele faria um parto de cócoras sobre o nobre penico assim que sentasse no seu trono particular. Era abaixar as calças ver no que dava. E deu. Um aliado, já percebendo que teriam um funeral para fazer, que Mandato já não respirava no ventre das urnas, cochichou no ouvido do paciente Malandrão: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Vamos, lembra? Lá nos quartéis lhes ensinaram uma antiga lição, de morrer pelo cargo, e viver sem razão. Acabou! Aflito, querendo ver a cara do filho, ele olha com cara de cagão para o amigo e diz: "Porra, cacete, mal posso esperar para chegar a minha vez na merda da fila, preciso bater um barro. Tá na porta, tô igual galinha na hora de botar o ovo". Os votos eram contados, o feto se contorcia nos seus últimos suspiros, e de lá, do interior do útero eleitoral se ouvia: “Daqui só saio morto", “Daqui não saio vivo, daqui ninguém me tira, pois há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos, de armas na mão”. Nesse momento, já anestesiado pelas contrações, Bozo sentiu um ajudante de ordens beliscando sua cueca, queria avisar que algo estava para acontecer, era dever cuidar das merdas do Capetão. Mas ele juntou forças e botou a sua falta de vontade para trabalhar e segurar as tripas. Eram momentos de terror, ele pedia por um camarão como solução para a borrada que causava convulsões tripais no seu bucho A fila do terror nem tinha começado a andar quando, para desespero do cagão, uma voz rouca e trêmula ecoou de dentro da privada, era outro cagão em estado de êxtase, já tinha botado as tripas para fora e não resolveu a sua crise de cagança não cedia: "Companheiros, minha situação está delicada, minhas hemorroidas estão expostas, minha luta vai demorar mais que o previsto devido a dificuldade de relocar tripas é grande, se alguém se prontificar, posso ser mais rápido”. Todos perceberam que o ajudante estava em apuros, ele ficou maluco querendo arrumar uma saída a qualquer custo. Os amores pelo presidente na mente, as flores no chão, a certeza na frente de que tinha chegado o fim, a história estava na mão dos juízes. Ali, na fila dos desesperados, “Andando de Cantando”, eles se sentiram gente comum, era preciso trancar o fiofó e rezar para dar tudo certo. Certo? Não! Já estava tudo errado. Com raízes militares, acostumado a defecar em situações de combate, restava combater a “Revolta das Fezes" de forma cirúrgica. Ele fez um cruzar de pernas desconcertantes, trancou a porta e respirou fundo, era para segurar o Trem Bala de merda que estava desgovernado, sem o maquinista saber como chegaria na estação a qualquer momento. O Jair Malandrão estava como tampa de chaleira, o suar corria, a camisa verde amarelo grudada na pele, era um momento de terror. A luta continua! A fila não anda. Mas ele está cagando e andando para o problema, a mente vazia dele está na Globo, quer comemorar, cagando e andando, a sua sonhada vitória. Arthur Lira, amigo de longa data, percebeu o sofrimento e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro. Cutucou e disse: “Aproveita, pois esta cagada aqui não tem câmera, não vai entrar na contabilidade”. E ai, ouviu o famoso “porra" como resposta. Parecia que sua técnica de evacuação das tripas funcionou, veio aquele alívio paliativo, o bucho descontraiu, a sensação de alívio foi em forma de gases passeando e retardando o tiro fatal. Tudo indicava que, pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado. Ufa! Era tudo que o pobre cidadão precisava, pois nem acompanhar o resultado ele conseguia, as dores do parto tiravam a concentração. Restava distrair entre um boletim e outro e rezar para vencer a caganeira e a eleição. Por algumas horas via-se a cabeça do garoto Mandato forçando a vacina da urna, mas não havia dilatação, os juízes, com os instrumentos cirúrgicos, logo empurravam o feto de volta. A revolta era grande, pois o “diarrista" que ocupava o banheiro não decidia, só gemia, o pesadelo do penico era visto como um vaso de ouro, a última esperança de um presidente. Vendo a situação se complicar, o oficial da hora providenciou alguns jornais “O Globo" e colocou do lado do urinol, queriam alguns “sabugos", mas não encontraram, seria uma espécie de consolo, pois poderia ser usado como massageador. A ideia de usar aquele “Neve", papel macio para refrescar a memória do Capetão foi deixada de lado, não dava tempo. De repente... Um silêncio toma conta, aquele “cresh" de cueca rasgando ecoou, ele percebeu um volume almofadado e um melado escorrendo pelas pernas. Era o fim trágico para uma espera, o prenúncio de que o parti fecal ainda reservava dolorosas surpresas. O Malandrão deu conta de que havia se borrado todo, o odor denunciava a sua tragédia. A coisa do coiso fedia tanto que tinha urubu batendo na porta querendo saber da carniça. O relógio não andava, a contagem estava mudando os rumos, para evitar constrangimentos, pegaram o Segismundo e foram a um “Lava Jato", pois só lá, as escondidas, poderiam tirar toda a merda do infeliz. Foi só uma frustrada tentativa. Era uma merda cremosa e suculenta, daquelas que dá orgulho de ser seu autor, não é fácil fabricar uma diarreia com tantos nutrientes. Só não fotografaram porque poderiam ter que pagar por danos imorais ao presidente. Uma obra prima da natureza tosca do Malandrão, digna de exposição em praça pública em Brasília. Era tenso aquele momento, o parto já caminhava, os obstetras do TSE preparavam o Atestado de Óbito e a Certidão de Nascimento, ele olhou para o amigo Lira procurando uma solidariedade e um pouco de conforto, e confessou baixinho: “Acho que me borrei todo". Arthur, já conhecendo a história do colega, diz: “Preocupa não, Bozo, foi só mais uma de muitas". Lira se dobrou em gargalhadas, acabou mijando na roupa, era a tal da urina solta, e a dupla sertaneja estava formada: “Cagão e Mijão”, depois das eleições eles vão se apresentar nos acampamentos de protestos pelo país. Boçal, um tremendo loroteiro, pensou: "Que se dane, me limpo depois, quero acompanhar o parto até o último minuto”. Ele lembrou do Tiraria e arrematou: “Pior que tá não fica". Mas como toda caganeira, só uma parte havia conseguido se libertar daquele corpo, tinha muita merda presa aguardando “Habeas Corpus Preventivo”, e iria custar caro. Foi só a fila andar um metro, e começou tudo de novo, a temida cólica voltou com força total. O tranca bunda foi imediato, os olhos arregalados do presidente denunciava a gravidade do caso, ele tentou disfarçar, uma especialidade dele, mas não foi suficiente, uma potente rajada emergiu do fundo das tripas, veio como uma bomba. Aquela massa de angu desandado se espalhou, cueca, calça, camisa, cinto, todos foram vítimas da merdaria. Até os sapatos foram agraciados. Foi daquelas de queimar a cavidade anal e deixar os beicinhos avermelhados. Um sopro solene veio empurrando a as bostas rumo a liberdade, “Cagando e Andando” a fila fazia suas vítimas. Para distrair e consolar, outro amigo que esperava na fila contou que um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar “Modess” na cueca, mas como não era sua praia, colocou as linhas adesivas viradas para cima, e quando foi tirá-lo levou metade dos pelos da bunda junto. Ficou aquela estrada sem pavimentação. Depois de tanto sofrimento por uma causa “pobre", sofrendo por um nascimorto gerado nas coxas da mentira, finalmente chegou a vez de refastelar a bunda podre no vaso, foram horas de súplicas, e ai o atordoado olhou para cima e blasfemou: "Agora chega, né, porra?". O azarado entrou, preocupado com a apuração global, não percebeu que o papel já havia acabado, mas não dava tempo, foi sentar e deixar cair, um alívio profundo e reflexivo, era a oportunidade de dar dignidade ao dia do sofredor. As calças estavam deploráveis, tiveram que improvisar, uma bandeira do Brasil foi a solução, pois a necessidade é mãe da invenção, então transformaram uma simples privada em um trocado de fraldas para idosos. A coisa foi tão complicada, que para arrematar, Malandrão precisou usar a mão, era a coroação, era para tirar a merda da bunda e jogar no vaso. A cueca, coitada, foi se afogar, o cagão se sentindo humilhado, mandou ela viajar, foi lançada no mictório. Foram centenas de descargas para despachar a companheira. Aliviado, envolvido na sua veste preferida, ele saiu do castigo, todos os presentes já o aguardavam, teriam que dar a noticia naus cruel de toda a história do Mico, ele havia perdido. Arthur Lira disse: “To Cagando e Andando, já me comprometi com o Lula, pois desta merda eu quero distância”. Coube ao Ajudante de Ordens anunciar o ocorrido, e o pobre coitado acabou entrando numa fria. Ele chegou perto, cumpriu o protocolo, mas pelo clima de velório, o Capetão percebeu que tinha tomado um coro do adversário: “Puta que o pariu, depois de todo este sofrimento, deste meu parto fecal quase me levar a óbito, só restava o óbito do meu novo mandato, acho que me ferrei, de merda em merda em merda eu me acabei na merda. Tá tido mundo Cagando e Andando para mim. Lá da rua ele ouvia a galera gritando: “Faz um “L" que passa!”. Foi a senha para o Malandrão cair em depressão profunda.

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 07/12/2022
Reeditado em 07/12/2022
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