Dentro das quatro linhas
O Presidente da República Jair Bolsonaro costuma dizer que gosta de jogar “dentro das quatro linhas”, uma metáfora para representar seu autoproclamado respeito integral às regras estabelecidas. E jogar dentro das quatro linhas se torna o pressuposto maior e um dos pilares basilares da democracia, uma vez que existe a necessidade em se respeitar a vontade da maioria. Consultado o VAR representado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que atestou a licitude do processo eleitoral e a proclamação do vencedor do pleito, nada mais resta a questionar do jogo. Que não obstante evidentes jogadas desleais, caneladas, impedimentos, baixarias entre os participantes, cartões amarelos e outros lances reprováveis, as eleições transcorreram sem incidentes de maior vulto, respeitando-se o regulamento da competição.
De que adianta agora protestar contra o resultado do jogo? Se a maioria decidiu optar por uma mudança na condução do País, o que buscam então os manifestantes que resolveram por conta própria e à revelia de uma determinação judicial, manter a interdição de rodovias em todos os entes federados? Essa forma de contestação esteve no contexto das reivindicações há algum tempo, quando foram consideradas legítimas para reconhecimento dos direitos de uma classe trabalhadora e que historicamente mantêm a economia da nação, uma vez que os produtos são majoritariamente transportados por via terrestre no Brasil. Mas afrontar decisões judiciais, além de caracterizar crime, em nada contribui para que a vida volte ao seu ritmo normal, depois da cicatrização natural das rusgas causadas por um pleito eleitoral impregnado de excessiva polarização.
É hora de cada um juntar doses extras de comedimento, serenidade, equilíbrio, respeito e principalmente, responsabilidade para que a nação possa seguir em frente. Não somos inimigos, apenas adversários de correntes políticas divergentes, portanto temos interesses mútuos na construção e na manutenção de uma pátria próspera e que acolha, proteja e proporcione as condições necessárias para um futuro decente a todos os que nela vivem. O jogo foi encerrado. O vencedor terá a imensa responsabilidade em conduzir os destinos dessa gente trabalhadora e obstinada. O que se espera é que a disputa seja sempre acompanhada de reciprocidade no respeito às regras estabelecidas. Dentro das quatro linhas.