Amor ou ódio – eleições democráticas ou golpe

Ou, como diriam outros, civilização ou barbárie. Muitos ainda duvidam de quem é quem nesta complicada e acirrada polarização que vivemos no momento, no Brasil e no mundo. Vale pensar a respeito.

Ainda há dúvida de qual o lado do amor e da civilidade, e qual o lado da barbárie e do ódio? Agora talvez o menos importante seja qual lado se considera o quê. O que importa mesmo é resgatar o sentido das palavras, amor e ódio, civilização e barbárie. Este resgate é urgente para revertermos a divisão da sociedade brasileira, que alcançou hostilidade impensável nos últimos anos: rupturas até dentro das famílias, entre irmãos, pais e filhos, cônjuges... E que faz com que alguns derrotados caminhoneiros e militares considerem-se acima de eleições democráticas.

A natureza do ser humano é por demais contraditória. Só assim para tentar entender como somos capazes de, bruscamente, descambarmos de um ambiente pacífico e amistoso para um clima beligerante, agressivo. Esta nossa instabilidade tem sido manipulada há séculos pelos impérios, para dominar suas colônias: o antigo axioma “dividir para conquistar”. Talvez o exemplo mais sanguinário disso tenha sido o genocídio de quase um milhão de pessoas em Ruanda em meados dos anos 1990, quando a etnia tutsi massacrou os antes tolerados hutus, incitados por programas de rádio que incutiam um ódio descabido, com o intuito de insurgir a população e frustrar nascentes aspirações de união e democratização do país.

Dizem os antropólogos que nossa beligerância vem do cérebro reptiliano que ainda conservamos, e que, respeitando a sequência evolutiva, é o primeiro que reage sempre que somos colocados diante de situações críticas. Reagimos instintivamente como os répteis reagiam há centenas de milhões de anos atrás. O cérebro límbico zeloso (dos mamíferos), o neocórtex racional (do Homo sapiens) e o cogitado cérebro hipofisário (dos seres iluminados) só chegam a se manifestar se conseguimos controlar a intempestiva reação do cérebro reptiliano. Assim, com rompantes de nossos ancestrais répteis, deixamo-nos levar facilmente por provocações que despertam nossos instintos mais primitivos. Por isso seria tão fácil transformar amizades em ódio, e legítimas derrotas em ressentidos instintos golpistas. Basta saber como cutucar o réptil que espreita dentro de nós.

Atualmente o imperialismo funciona mais dissimulado. Estamos no tempo da lawfare, das guerras cognitivas, das chantagens e especulações econômicas, da espionagem e da desinformação digital. Mas preserva-se o antigo objetivo: manter as colônias subjugadas, fornecendo matérias primas brutas e baratas, e impedindo o progresso e a verdadeira independência dos países explorados. A estratégia também permanece a mesma, com novas técnicas: provocar reações do cérebro reptiliano das massas, elas mesmas farão o estrago em favor dos impérios e seus lacaios locais.

O Brasil, desde o descobrimento, é uma colônia explorada. Agora enviamos para os países ricos grãos, carne, ferro, petróleo, celulose. Para não sermos eternas vítimas do “dividir para conquistar”, temos que nos unir para que a riqueza do país reverta para seu próprio povo, e não para o lucro do voraz mercado internacional. Para isso, o amor tem de superar a intolerância e o ódio; a civilidade ─ a capacidade de coexistir com respeito e justiça ─, tem de superar a barbárie ─ o fim da concórdia social.

É hora da temperança e da unidade nacional. Golpistas, tomem consciência. Vão para casa!