O AMOR VENCEU O ÓDIO E A VIOLÊNCIA
(Maurélio Machado)
Com 100% das urnas apuradas, Lula foi eleito presidente com 50,90% dos votos válidos dos brasileiros. Ao todo, o petista recebeu 60.345.999 votos. Bolsonaro recebeu 58.206.354, ficando com 49,10%.
(TSE)
DISCURSO LULA ONTEM: leia discurso de Lula na íntegra; veja pronunciamento
PRIMEIRO DISCURSO DE LULA
“Meus amigos e minhas amigas.
Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.
Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.
Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.
Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.
O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.
O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.
O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.
Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.
O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.
É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.
Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.
E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.
A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.
A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.
Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.
É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.
Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.
Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.
Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.
Minhas amigas e meus amigos.
A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo, uma grande nação.
Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.
A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.
Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.
É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.
O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.
É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.
Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.
Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.
Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.
Este será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.
Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.
Por isso, vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.
O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.
Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.
É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.
A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.
A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.
Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.
Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.
Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.
Não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.
Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.
Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.
Que ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.
Meus amigos e minhas amigas.
Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.
Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.
O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.
Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.
Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.
Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.
Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima.
Vamos re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.
Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.
Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.
O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.
Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.
Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia
O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.
Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.
Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.
Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.
Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.
Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.
Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.
Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.
Meus amigos e minhas amigas.
O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.
Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.
Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.
Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.
No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.
Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.
Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.
Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.
Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:
O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.
Maus uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada.”
DISCURSO LULA PAULISTA - Avenida Paulista
No seu pronunciamento após vitória sobre Bolsonaro, Lula deixou claro o desejo e a necessiade de o Brasil voltar ser um pais com esperança. - NELSON ALMEIDA / AFP
Queria dizer para vocês que essa não é uma vitória minha, não é uma vitória só do PT. Essa foi uma vitória de todas as mulheres e homens que amam a democracia, que querem liberdade, que querem um país mais justo. Essa foi a vitória das pessoas que querem mais cultura, que querem mais educação, que querem mais fraternidade, mais igualdade. Essa vitória é de todos os homens e mulheres que resolveram libertar esse país do autoritarismo. Por isso, eu queria dizer para vocês que eu estou com dificuldade, porque eu teria que fazer três discursos: um naquela ponta, outro naquela ponta e um aqui. Eu vou tentar aqui apenas dizer algumas palavras, eu tenho que agradecer a cada pessoa que me ajudou nessa campanha: à senadora que foi candidata à Presidência, Simone Tebet, uma companheira de muito valor, de muita qualidade, de muita competência, à nossa senadora do Estado do Maranhão; a Eliziane foi outra companheira muito dedicada nessa campanha, e à nossa companheira Marina Silva, que todos vocês conhecem, que foi outra guerreira. Tem figuras muito importantes nessa campanha. Esse senador Randolfe, do Amapá, foi um guerreiro, não apenas na CPI, mas na minha campanha também, ele foi um grande. Quem mais que eu não falei ainda? O nosso companheiro senador de Pernambuco, Humberto Costa, eu não tenho uma nominata aqui, mas eu queria dizer ao companheiro Haddad, eu acho que a campanha do Haddad foi fundamental para a gente chegar até onde nós chegamos. Vocês sabem que eu estou num misto de alegria por dentro, porque foi a campanha mais difícil que eu fiz na minha vida, não foi uma campanha de um homem contra outro homem, de um partido contra outro partido, foi a campanha de um conjunto de pessoas que amam a liberdade e a democracia, contra o autoritarismo que gastou mais dinheiro e usou mais a máquina do que qualquer campanha em qualquer momento da história. Então eu quero dedicar essa vitória à democracia e ao futuro do povo brasileiro. Meus companheiros, eu, agora, vou me dirigir um pouco àquela ponta, porque aquelas pessoas que estão de lá contribuíram para a gente ser eleito também, mas eu vou voltar aqui ainda. Eu tenho que ir naquela ponta e naquela ponta, para depois voltar aqui, tá bem? Eu vou àquela ponta. Alô povo brasileiro! Gente, vocês sabem que a razão da minha vitória foi a dedicação, o trabalho de cada um de vocês, de cada homem e de cada mulher que acreditava na liberdade, que acreditava na possibilidade de a gente recuperar este país para o povo brasileiro. Essa vitória não é a minha vitória, é a vitória do povo brasileiro e da democracia. Eu quero agradecer a cada companheiro e cada companheira que participou dessa campanha. Dizer para vocês que eu gostaria de estar só alegre, mas eu estou metade alegre e metade preocupado porque, a partir de amanhã, eu tenho que começar a me preocupar em como é que a gente vai governar esse país. Eu preciso saber se o presidente que nós derrotamos vai permitir que haja uma transição para que a gente tome conhecimento das coisas. Eu quero dizer para vocês que eu tenho dois meses apenas, dois meses para montar o governo, para conhecer a máquina como está, e eu preciso conhecer em cada pessoa que vai participar da nova democratização do nosso país.
Eu, talvez, tire uns dois dias para descansar. E depois, eu vou começar a trabalhar, porque eu já fui presidente, eu já ganhei a primeira vez, e essa, de todas as vitórias que eu tive, essa é a vitória mais consagradora. Porque nós derrotamos o autoritarismo e o fascismo nesse país. A democracia está de volta no Brasil, a liberdade está de volta no Brasil. O povo vai poder sorrir outra vez, o povo vai poder ter acesso à cultura, porque a cultura vai voltar muito forte para esse país. A educação vai voltar muito forte para esse país. E as pessoas que estão dormindo embaixo da ponte vão voltar a comer, vão voltar a ter moradia e vão voltar a ter emprego. Essa é uma das tarefas que vocês me deram, e eu espero nunca, espero nunca trair o sonho que levou vocês a acreditarem que era possível reconstruir esse país. Muito obrigado, gente. Muito obrigado, que Deus abençoe cada um de vocês. Agora, eu peço licença que eu vou fazer um discurso do outro lado, mas antes eu quero dar um abraço numa especial, que é a companheira Dilma Rousseff. Agora, nós vamos para outro lado para falar. Falei com a esquerda, falei com o centro, e do outro lado eu vou falar com a esquerda outra vez, aqui não tem direita. Agora, eu vou para a esquerda do lado de lá. Atenção, povo de São Paulo! Povo do Brasil! Eu já falei no centro, falei com a esquerda, e agora estou falando com a esquerda outra vez. Queridos companheiros e queridas companheiras, eu acho que hoje é dia de nós, que moramos em São Paulo, agradecermos a um povo extraordinário, um povo que foi ofendido pelo meu adversário, que é o nosso querido povo nordestino, que nos consagrou com essa vitória extraordinária. Eu quero agradecer aos 215 milhões de habitantes, mas o povo do Nordeste merece uma palavra especial, porque aquele povo foi muito porreta, no primeiro, no segundo, na eleição da Dilma, na minha primeira eleição, e vai ser muito porreta para ajudar a gente a governar esse país. Gente, eu não estou muito em condições de fazer muito discurso, porque a emoção está me comendo aqui, foi uma campanha muito difícil, não foi uma campanha do Lula contra o Bolsonaro, foi uma campanha da democracia contra a barbárie. Foi uma campanha daquelas pessoas que amam a educação, daquelas pessoas que amam ciência e tecnologia, daquelas pessoas que amam a cultura, daquelas pessoas que querem mais cultura, daquelas pessoas que querem trabalhar e ser remuneradas de forma decente, daquela mulher que quer um salário igual ao homem, exercendo a mesma função. Essa foi a vitória das mulheres que não querem ser tratadas como objeto de canto de mesa, querem ser tratadas como sujeitas da história!
A mulher quer, ela pode e ela deve estar aonde ela quiser sem pedir licença!
Por isso, companheiros, todos vocês sabem o que nós já fizemos nesse país. Eu jamais imaginei que a pobreza ia voltar do tamanho que ela voltou. Eu jamais imaginei voltar a ver nesse país mães e pais carregando criança no colo e pedindo comida porque não têm o que comer. Esse país é o terceiro produtor de alimento do mundo, o que falta, na verdade, é vergonha na cara das pessoas que governam esse país!
E eu volto a prometer para vocês? eu volto a prometer para vocês: eu tenho muitos compromissos, muitas tarefas, mas a mais essencial é garantir que cada criança, que cada mulher, que cada adolescente, que cada homem possam todo dia tomar café, almoçar e jantar as calorias e as proteínas necessárias! Eu quero que vocês saibam que nós vamos recuperar o Ministério da Cultura e vamos criar comitês estaduais de cultura para que a cultura se transforme em uma coisa para que todo mundo tenha acesso, para que a cultura se transforme em uma indústria de produzir emprego e de gerar renda. Quem tem medo de cultura é quem não gosta do povo, é quem não gosta de liberdade, é quem não gosta de democracia, e nenhuma nação do mundo será uma verdadeira nação se não tiver liberdade cultural, e o país vai recuperar sua cultura. Eu quero dizer para vocês que eu estou muito emocionado, porque foi a guerra mais difícil que eu enfrentei. Nunca na minha vida nós enfrentamos uma batalha em que o adversário jogou com tantas mentiras, que usou uma verdadeira indústria de fake news, que mentiu 24 horas por dia e que não trabalhava mais. Eu e a Dilma, quando fomos candidatos à reeleição, a gente trabalhava o dia inteiro, a gente só ia fazer campanha de noite, e por isso eu quero homenagear a companheira Dilma Rousseff!
Quero agradecer ao meu querido companheiro Alckmin pela ajuda que me deu e pela ajuda que vai me dar para resolver os problemas desse país. Eu volto a dizer para vocês: eu fui eleito para governar para 215 milhões de brasileiros. Eu vou governar para todos sem distinção, sem olhar se é rico ou se é pobre, sem olhar se é de esquerda ou de direita, mas as pessoas têm que saber: embora eu vá governar para todos, são os mais necessitados que irão receber a política mais influente do meu governo.
Nós temos que recuperar a educação das nossas crianças, porque as famílias mais pobres perderam dois anos com a pandemia, e nós precisamos fazer um mutirão para tentar reeducar essas crianças para eles poderem chegar no nível que deveriam estar. Nós vamos voltar a fazer uma revolução, vai ter ProUni outra vez, vai ter FIES, vai ter Reuni, vai ter Pronatec, ou seja, vai ter! Ninguém venha me dizer que a gente não pode colocar dinheiro na educação, que é gasto. Investir em educação não é gasto, é investimento no futuro desse país!
Portanto, gente, eu quero agradecer a vocês, e não podia deixar de agradecer à minha cara-metade, a companheira Janja.
Eu? eu quase que fui enterrado vivo nesse país. Eu considero o momento que eu estou vivendo quase que uma ressurreição. Eu recuperei. Eles pensavam que tinham me matado, eles pensavam que tinham acabado com a minha vida política, eles me destruíram, me destruíram contando mentiras a meu respeito, e graças a Deus eu estou aqui firme e forte, e amando outra vez, e apaixonado pela minha mulher!
E é ela quem vai me dar força para enfrentar todos os obstáculos, e eu quero dizer para vocês que não há nada nesse mundo que vá me fazer esmorecer. Não há nada nesse mundo que vá proibir eu fazer o que tem que fazer por este país. Esse povo tem que voltar a sorrir, esse povo tem que voltar a comer, esse povo tem que voltar a trabalhar. E eu vou, outra vez, recuperar o Brasil diante do mundo. O Brasil não vai ser mais pária da sociedade. O Brasil vai ser protagonista internacional, porque a gente vai voltar a receber os presidentes e visitar outros presidentes. E eu devo tudo isso a vocês, à generosidade de vocês. Eu digo sempre que Deus foi muito generoso comigo, porque sair de onde eu saí, não morrer de fome até completar cinco anos de idade e viver e ser presidente duas vezes, e voltar, aos 77 anos, e ganhar outra vez, só pode ser obra de Deus, e do povo brasileiro! E por isso eu não posso faltar com vocês, não posso faltar com a minha fé; e prometo a vocês que eu vou fazer tudo o que eu puder, até mais do que eu puder, porque o que vocês me deram, como voto de confiança, exige de mim respeito a vocês, admiração a vocês; e quero dizer para vocês que nós vamos voltar a criar conferências nacionais. Todas as políticas públicas serão emanadas do povo para o povo, em conferências nacionais, municipais e estaduais! Por isso, gente, do fundo do meu coração, obrigado, meu Deus, e obrigado, povo brasileiro, pela glória que vocês me deram de vencer essas eleições, e, por isso, eu não posso faltar, e eu sei que eu vou contar com vocês, porque somente com a participação de vocês é que eu tenho certeza que nós vamos cumprir todas as tarefas que nós assumimos com vocês. Eu acho que o povo já chega de sofrer, não é possível um povo tão bondoso, um povo tão carinhoso, um povo que gosta de música, um povo que gosta de samba, um povo alegre, sofrer tanto por um governo fascista, que não gostava do povo, que não gostava de negro, que não gostava de indígena; e a minha resposta para os indígenas é que nós vamos criar o Ministério dos Povos Originários! Para que eles nunca mais sejam desrespeitados, para que eles nunca mais sejam tratados como cidadãos de segunda categoria; e nós vamos ter uma luta ferrenha contra o preconceito e o racismo. O racismo é uma doença que nós precisamos extirpar do nosso país! Não é possível! Deus nos fez iguais, e não é possível que alguém seja tratado como inferior só porque não tem a cor branca. Não há nenhum branco melhor do que nenhum negro, e não há nenhum negro melhor do que nenhum branco, nós somos iguais. O que nós precisamos é oportunidades iguais para a gente provar que todo mundo tem competência, que todo mundo tem sabedoria. Meus companheiros, na minha esquerda, da Avenida Paulista, um beijo no coração de cada homem, de cada mulher. Eu vou descansar uns dois dias, depois estarei pronto para estar no governo e para apresentar o que nós vamos fazer. Um beijo no coração, um beijo no coração. Se eu fosse transformado em ouro, eu ainda não poderia pagar o que vocês fizeram hoje pela democracia brasileira, pela cultura e pela liberdade. Um abraço, gente! Um abraço! E até a próxima, se Deus quiser! Agora vou falar um pouco mais para o meio.
Veja, eu não posso falar, vou falar muito pouquinho. É o seguinte: eu vou falar um pouquinho aqui com vocês. Mas, primeiro, deixa eu passar aqui, para começar a cumprimentar o povo ali de trás. Porque o povo de trás também votou. Meus companheiros e companheiras! Um beijo no coração. Obrigado por tudo o que vocês fizeram. Essa vitória não é minha, não é do Alckmin, essa vitória é de vocês! Essa vitória é dos filhos de vocês, essa vitória é para os netos de vocês, porque é a vitória da democracia, da liberdade, é a vitória de reconquistar o direito de sorrir e de andar de cabeça erguida neste país. Obrigado, povo brasileiro. Obrigado, povo de São Paulo. Obrigado, Nordeste maravilhoso, que nos deu mais uma vitória. E aqui está a Daniela Mercury, representante do Nordeste. Um beijo no coração. Eu agora vou falar ali outra vez, me deram o microfone em quatro lugares para falar, eu não paro mais hoje de falar. Mais um discurso por aqui agora. Janja, venha cá. Janja... Por favor, Janja. Gente, eu quero, eu já falei das mulheres, eu não posso repetir. Eu não posso falar do Corinthians porque tem outras pessoas aqui. Mas deixa eu falar uma coisa. Gente, eu falei que não ia falar, e já falei três vezes. Eu quero me despedir de vocês, dizendo para vocês que um novo amanhã está surgindo. Não será uma tarefa fácil. Eu quero que vocês saibam que o governo será montado com a cara da minha vitória, com os partidos que participaram, com gente da sociedade que pode contribuir. Vocês sabem que a gente vai ter que ter um governo para conversar com muita gente que está com raiva. Em qualquer lugar do mundo, o presidente derrotado já teria ligado pra mim reconhecendo a derrota, ele até agora não ligou. Não sei se vai ligar. E não sei se vai reconhecer. De qualquer forma, eu quero que ele saiba o seguinte: eu devo grande parte da minha vitória a coragem e a atitude das mulheres brasileiras, que é a maioria absoluta da população. E quero terminar a minha fala, dando um beijo no coração de cada uma de vocês, e dando um beijo na minha querida Janja. Não chegou a ser um beijo de novela, mas foi um beijo. Obrigado, gente. Que Deus abençoe vocês. Que Deus abençoe e vamos juntos, que nós vamos recuperar o direito de sorrir desse país. O direito de ser alegre, o direito de estudar, o direito de comer. E o direito de continuar sonhando. Que Deus abençoe a cada um de vocês, a cada uma, e um beijo no coração. Um beijo no coração de todas vocês. Tchau, gente. Obrigado. E até o próximo encontro.