O romper das cordas
No último domingo, dia 23 de outubro, a sociedade brasileira presenciou o que de mais absurdo poderia ocorrer: um ex-deputado federal em prisão domiciliar resistir a prisão com tiros de fuzil e granadas. O alvo da ação da Polícia Federal foi Roberto Jefferson, filiado ao PTB, grande aliado do atual Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro do PL. É um defensor do armamentismo e apologista de golpe de Estado.
Contumaz incitador de crimes e ataques às instituições públicas, além de descumpridor de medidas judiciais, chegou ao cúmulo de transformar os seus atos antidemocráticos em propaganda eleitoral. Ele descumpriu todas as regras da prisão domiciliar, garantida após alegar problemas de saúde. Fato é que Roberto Jefferson nunca deixou de fazer política ou continuar a cometer os seus crimes.
A coisa foi tão grave que dois agentes da PF foram alvejados. Uma viatura foi cravejada de projéteis. A repercussão nas redes bolsonaristas foram divididas, mesmo assim assombrosas. Há quem alegasse que o resistente a prisão agiu em legítima defesa, embora ele é quem tenha iniciado os disparos e lançado os artefatos explosivos nos policiais. O fato virou uma distorção patológica da realidade.
Tudo ocorreu em nome do extremismo político, do bonapartismo dos trópicos e da liberdade de agressão. Apesar de ser o ideal-tipo de desordem institucional ambulante, o presidente Bolsonaro fez uma live para tentar desapartar sua imagem da de Jefferson. O resultado soou como covardia e traição para alguns bolsonaristas, para outros, foi uma loa a moderação política. Esse último nunca foi o tom de Bolsonaro.
Uma semana antes das eleições, e já vimos a corda se romper diversas vezes até o momento. Embora o tempo nunca retroaja, vivemos um loop de insanidade. Da violência política até assédio eleitoral, toda a lista de crimes possíveis já foram cometidos em nome da defesa de algo ou alguém. É o desejo do outro determinando o meu e o seu direito. Solução não tenho nenhuma. A tendência é piorar até nos afogarmos em puro ódio.
Me sinto o Angelus Novus de Paul Klee à moda benjamineana. Ando receoso, de costas para o futuro e de frente para todo o tragi-horror do presente. O Brasil ainda parece o Brasil, mas com alguns corpos estranhos a crescer gangrenosos sobre si. Sufocado pelos parasitas, ou melhor, doente de um vírus chamado bolsonarismo, logo desenvolverá outra cepa quando o velho agente infeccioso jazer morto de suma ignorância.