UMA QUESTÃO DE ÉTICA E HUMANISMO
UMA QUESTÃO DE ÉTICA E HUMANISMO
Reedito, a seguir, artigo escrito pelo jornalista Alex Solnik em Abril de 2017, portanto, antes da catástrofe eleitoral que elegeu Jair Bolsonaro em 2018.
Assim o faço pela permanente atualização do tema, mesmo após decorridos cinco anos, faltando somente incluir as ações de corrupção e barbaridades ocorridas na gestão Bolsonaro, senão vejamos:
- As denúncias comprovadas de rachadinhas durante os mandatos políticos do próprio Bolsonaro e de seus filhos, com enriquecimento desproporcional dele e de suas ex- mulheres através da aquisição de imóveis comprados à vista, com dinheiro em espécie, incluindo um imóvel de seis milhões de reais comprado em Brasília por seu filho Flávio Bolsonaro, apesar dos discursos mentirosos envolvendo pátria, família, religião e Deus, numa espécie de reedição da Ação Integralista Brasileira de Plínio Salgado ou da TFP (Tradição, Família e Propriedade) criado por Plínio Correia de Oliveira.
- A inépcia de um governo cujo mandatário trabalha em média três horas por dia, deixando a máquina do estado praticamente nas mãos de seus ministros e auxiliares, que por sua vez, ficam envolvidos com assuntos e decisões no mínimo inúteis, banais ou ineficazes. Vide o Ministro Tarcísio, candidato ao governo de São Paulo, inaugurador de obras prontas de outros governos ou a Ministra Damares, senadora eleita pelos evangélicos porque ajudou Jesus a subir na goiabeira quando ele apareceu pra ela numa de suas crises existenciais que a fizeram pensar em suicídio se jogando do alto dum pé de goiaba. No seu ministério tratou de preocupações estratégicas como construir uma fábrica de calcinhas no Marajó para vestir crianças e adolescentes e assim evitar estupros (a mulher só pensa ¨NAQUILO¨).
- O desastre da política econômica com Paulo Guedes à frente privilegiando grandes grupos empresariais da industria, comércio, comunicação e agropecuária e assim entregando nosso patrimônio público, além de prejudicar abertamente o pobre e o trabalhador (ou podemos trocadilhar ¨pobre trabalhador¨) através de medidas prejudiciais aos avanços conquistados durante muitos anos de reivindicações e lutas (vide a intenção dele querer desvincular o cálculo dos rendimentos e aposentadorias do salário mínimo).
- Enfim, para não estender demais o texto, relembramos a postura imperdoável, desumana e cruel do Presidente frente à pandemia, dificultando sobremaneira o combate e a prevenção da Covid 19 com medidas ineficazes ou a falta de medidas comprovadamente científicas como o atraso nas compras de vacinas, a recomendação de tratamento com medicações inócuas, o incentivo à aglomeração, contrariando o resto do mundo e principalmente a chacota que fazia dos doentes e vítimas da pandemia, proceder impiedoso e hediondo, principalmente para aqueles que viviam e conviviam com os pacientes, particularmente as famílias e profissionais de saúde.
Em relação ao artigo do Alex Solnik, tenho defendido essa tese desde o final do governo Lula, na minha opinião, um dos melhores governos da história política brasileira, a despeito de não gostar do PT e das ferozes críticas que procuro ignorar. Afirmo isso não só pelo que vi, mas também pelo que vivi como professor e médico da saúde pública, também como cidadão e adepto da justiça social.
Impressionante a quantidade de brasileiros que se beneficiaram no governo dele e que não cansaram de elogiar e admitir orgulho pela situação social conquistada, mas que, nos dias atuais, não o reconhecem como responsável pelo período de prosperidade vivido, procurando sempre uma razão para condená-lo e culpá-lo pelas mazelas que hoje estamos enfrentando.
Tal racionalização nunca passa pela ¨mea culpa¨ e é tão restrita que não consegue enxergar a obviedade da premissa: ¨O povo estando bem, com sua capacidade mínima de bem estar social e econômico preservada e poder de compra mantido, o estado vai estar bem, sustentado pelo consumo interno¨.
O erro mais grave e imperdoável de Lula: a indicação e responsabilização pela eleição de DILMA, que a meu ver, apesar de todo autoritarismo, empáfia, ignorância, incompetência e arrogância, foi injustamente deposta por um processo político ilegítimo, capitaneado pelos calhordas conspiradores do impeachment.
Marco Antônio Abreu Florentino
VAMOS AO TEXTO DO JORNALISTA:
PREFIRO LULA ¨CORRUPTO¨A TODOS ELES ¨HONESTOS¨
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
Em 07 de Abril de 2017
Suponhamos, por absurdo, que o governo de Sarney, de 1985-89, foi honestíssimo; que o governo de Collor, de 90-92, foi limpo; que em seu governo duplo (94-98 e 98-2002), FHC jamais recebeu dinheiro sujo da Odebrecht nas campanhas; que tudo o que os delatores estão falando a respeito de Temer são falácias; e que, sim, o grande corrupto da Nova República é Lula.
Suponhamos, por absurdo, que ele exigiu um tríplex no Guarujá da Odebrecht (ou OAS), mas não ficou satisfeito com o mimo e mandou reformar (pela Odebrecht ou pela OAS); também exigiu um sítio da OAS (ou da Odebrecht), preguiçoso que é – só pensa em sítio e em praia - mas também não gostou e mandou reformar; que mandou a Odebrecht abrir uma conta de 40 milhões de reais (ou dólares?) para sustentá-lo na velhice; que mandou a Odebrecht financiar a construção do Instituto Lula; que mandou a Odebrecht pagar pelo armazenamento de seus pertences; que mandou a Odebrecht dar uma mesada ao irmão.
Ainda assim, ainda que todos os ex-presidentes e o atual tenham sido honestos e Lula o único corrupto, eu ainda prefiro o Lula.
Lula percebeu que o grande problema que emperrava o crescimento do Brasil era (e é) a desigualdade social, a fome e a miséria e deu prioridade a medidas e políticas de governo que atacaram essas questões cruciais. Foi por isso aplaudido em todo o mundo.
A elite patrimonialista brasileira, historicamente inculta, não percebeu que as diretrizes implementadas por Lula favoreciam o crescimento econômico do país e, portanto, o seu próprio crescimento e, no primeiro momento em que sua sucessora apresentou números econômicos negativos, resolveu patrocinar a aventura de desmontagem do que Lula criou, o que resultou no retrocesso social que ameaça jogar o Brasil no século 19.
Prefiro Lula "corrupto" a todos eles "honestos" para que o Brasil volte ao século 21. Mas não sou só eu. Milhares de pessoas se preparam para viajar a Curitiba no dia 3 de maio, não para assistir a uma final de campeonato ou do BBB, mas para acompanhar o depoimento de Lula perante o juiz Sergio Moro.
É óbvio que igual fenômeno não ocorreria se o depoimento fosse de Sarney, de Collor, de FHC ou de Temer.
Mesmo que seja condenado em todas as instâncias, mesmo que não possa concorrer em 2018, mesmo que seja preso, Lula não vai perder seu carisma, a estima da maioria do povo e um lugar garantido na galeria de honra dos grandes presidentes brasileiros.
OBS: Postado por Gabriel Florentino no Facebook em 18/04/2017