Requiem da democracia?
Hoje, ainda impactado pelo resultados das urnas, que por um lado me deu esperanças, já que Lula ficou na frente do seu oponente, contudo mostrou-me uma grande incoerência, com a votação de um congresso extremamente conservador.
Num regime presidencialista é impossível governar sem apoio. Portanto, vemos agravada a situação de Lula, caso seja eleito no segundo turno, continuará refém do Centrão.
Lembro de Ulisses Guimarães, que afirmou:
"Se acha essa câmara ruim, espera a próxima".
O Bolsonarismo conseguiu eleger e posicionar muito bem seus principais simpatizantes e até mesmo quem navegou nessa onda, como Moro e Dallagnol se elegeram. Apesar de todas denúncias e escândalos amplamente divulgados, envolvendo todos eles.
Como entender e analisar esse fenômeno? Como aceitar a fortaleza dessa tal DEMO (POVO) + KRACIA (GOVERNO), quando o povo é tratado como gado, passa fome, é sufocado, humilhado, morre sem ar, amparo, passa fome, sem emprego, mendiga nas ruas, se espremem em favelas e se alimentam de pé de galinha, osso e sebo, são iludidos com falácias hipócritas de falsos pastores e messias belicosos e mesmo assim, perpetuam no poder, cíclicamente, os seus próprios algozes.
Em qualquer democracia, minimamente fortalecida, o povo já teria se revoltado e exigido a queda do seu opressor. Mas hoje, mais do que nunca, essas manifestações são orquestradas por uma mídia e influenciadores vendidos e corrompidos pelo poder. Basta fazer uma breve análise do golpe 2016, contra Dilma
Alguns afirmam que a culpa é da falta de educação. Mas quando comparamos a situação de outras "democracias", mais ricas, "educadas" e consolidadas, em todo o mundo, observamos, que também dizem sim ao crescente fascismo e conservadorismo. Questiono-me onde estamos errando?
Recordo o pensamento de Simone de Beauvoir:
"O opressor não seria forte, se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos".
A questão não está só na educação, mas na qualidade da educação. Formar analfabetos funcionais, só alicerça e consolida o problema. Isso não é educação!
Educar é essencialmente, formar pessoas com capacidade de pensar por sí mesmas. Saber ler e acima de tudo interpretar, com isenção, os problemas e situações cotidianas. Sobretudo, envolvendo política
A questão é bem mais antiga e profunda. Talvez o estudo de livros como A MORTE DA DEMOCRACIA, de Steven Levitsky e Daniel Ziblattt e outros estudiosos, possam jogar um pouco de luz sobre esse complexo tema. Não tenho conhecimento para tanto e apenas, como eleitor e cidadão que sofreu e chorou a morte de amigos na pandemia e vive a crescente derrocada da democracia, tento entender como o povo pode ser tão docilmente manipulado?
Talvez o avanço das religiões evangélicas explique. Deus, armado, mostrou ser um poderoso cabo eleitoral e concedeu procuração para falsos messias belicosos e pastores mercantilistas, deitar, rolar sobre a consciência dos incautos crentes. Tudo em nome de "Deus e ele" acima de tudo e todos e claro, obediente e serviçal do poder.
Minha razão chora de luto e eu luto para combater minha presunção, ao pensar: será que só eu tenho razão ou eu que sou um idiota?
A verdade não me libertou. Ela, pelo contrário, fez-me refém de uma indagação: Vivemos o requiem da democracia? Ou ainda há esperança?
Estou abalado, triste e impactado, mas vou seguir o conselho do mestre Paulo Freire e vou esperançar. Porque, como disse:
"É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar, não é esperança, é esperar.
Esperançar é se levantar. Esperançar é ir atrás. Esperançar é construir. Esperançar é não desistir!
Esperançar é levar adiante. Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo".
Seria o momento de repensar a própria democracia, como ela se apresenta e é operacionalizada? Criar um novo sistema, misturando o que deu certo e buscando novas formas, com agregação da tecnología, para amenizar possíveis manipulações políticas, como no caso das infames fake news?
Em termos de sistema eleitoral e apuração dos votos, somos pioneiros e muito avançados. Mas em termos políticos, vivemos ainda sob a influência dos antigos coronéis. Com as mesmas famílias e clãs se revezando no poder.
Continuarei lutando. Vou esquecer os alienados, fundamentalistas. Vou investir nos indecisos. Vou buscar os que não votaram, para alertá-los sobre os riscos do momento atual. Todas as perdas para o pobre, preto, trabalhador, mulher, LGBTQIA+, etc.
Recomposto, vou levantar, sacudir a poeira e armado até os dedos com minha pena, em verso e prosa, mostrar para os congressistas, para os amigos e até inimigos, que a luta continua.