Lula e Alckmin - ecletismo e pragmatismo

Ecletismo e pragmatismo: duas palavras que expressam ideias muito polêmicas. Atualmente, nestes tempos bicudos com agudas polarizações na política, na religião, na economia, na forma de lidar com a natureza e com a saúde coletiva, um olhar sobre ecletismo e pragmatismo pode nos auxiliar a compreender e a escolher. Estes dois conceitos podem traduzir ou um relaxamento de princípios visando atender arraigados vícios e conveniências, ou a compreensão de que é essencial enxergar a realidade para entender o que é viável num dado momento.

Ecletismo é o contrário de dogmatismo. Os dogmáticos são fundamentalistas, obedientes a doutrinas, muitas vezes cegamente, chegam a tornar-se fanáticos. Os ecléticos são mais flexíveis. Das doutrinas existentes, compartilham os fundamentos que lhes parecem mais razoáveis, sem levar em conta a qual preceito estão ligados. Por exemplo, é possível seguir os mandamentos católicos, mas desacreditar da concepção de Maria que gerou Jesus; acreditar na existência de outros mundos habitados; crer na possibilidade de reencarnação; ou na incorporação a um espírito primordial universal após a morte nesta encarnação.

O ecletismo é flexível, cede ao bom senso e à intuição. A noção de Deus para o eclético talvez seja algo indefinível, subjetivo, pessoal, único. Ele acredita, tem a humildade de reconhecer que há uma sabedoria superior que harmoniza as forças que se manifestam através da natureza. Mas reconhece que, embora conjeture a respeito, não tem certeza do que realmente seja esta sabedoria superior.

O pragmatismo é o contrário da ortodoxia. O ortodoxo é soberbo, julga-se conhecedor da única verdade. Segue rigidamente os princípios de sua doutrina, seja ela religiosa, econômica, política... Contrariar a doutrina parece-lhe afrouxar seus princípios, render-se à argumentação das outras doutrinas, consideradas rivais. Já o pragmático tende a ponderar entre teoria e prática, entre o princípio doutrinário e a realidade que distorce e inviabiliza a concretização dos princípios.

Pragmatismo é um conceito que está muito em debate na civilização atual. A teoria nos demonstra que o aquecimento global é uma realidade, mas na prática não conseguimos nos livrar dos combustíveis fósseis. A realidade nos mostra que as injustiças sociais estão nos conduzindo ao colapso, mas não conseguimos reduzir o egoísmo e fazer distribuição mais equitativa da riqueza produzida pelo engenho humano. Tais drásticas contradições seriam fruto do pragmatismo? Ou de uma ortodoxa subserviência a um arranjo civilizatório eivado de vícios?

Na política, temos vivenciado um contundente exemplo da realização do conceito de pragmatismo: dois candidatos com convicções díspares sobre economia, um socialista, Lula, outro liberal, Alckmin, mas ambos democratas e respeitosos das instituições republicanas, unem-se contra outro candidato, cuja principal marca é o ditatorialismo, a segregação e o ódio. O pragmatismo da união do socialista com o liberal vai dar certo? Terão que fazer concessões um ao outro, procurar encontrar o que é realizável perante a ameaça de barbárie representada pela alternativa tirânica.

Enfim, terão que ser sensíveis seres humanos e hábeis negociadores. Que Deus os abençoe!