A LIBERDADE NO MUSEU DAS GRANDES ANTIGUIDADES
Aqui, a pedir licença para uma opinião.
Para o Brasil e para o mundo, em tempos para lá de difíceis, urgente nos é procurar e encontrar verdadeiros
motivos para que comemoremos a chegada de tempos mais alvissareiros.
Tal é da natureza humana, nós e os políticos sabemos disso.
Por aqui, passamos por um período de dificuldades sanitárias, sociais, econômicas e políticas e, como tudo na vida costuma acontecer meio " junto e misturado", hoje, sete de setembro de dois mil e vinte e dois, também comemoramos nosso bicentenário da Independência Político-Administrativa de Portugal.
Deixamos, há duzentos anos, nossa condição de Brasil- Colônia para hastearmos nossa sagrada bandeira de Nação Independente que tão logo caminharia da estrutura de gestão Monárquica para a condição de República.
Como o tudo do que se tem conhecimento através da História narrada, dizem ter sido algo feito NO GRITO, no caso, no icônico GRITO DO IPIRANGA.
Um grito apenas simbólico que coroou o acontecimento, cujas bases políticas e sociais são bem mais profundamente enraizadas; todavia hoje comporta várias narrativas ao gosto de quem as narra, é o que percebo.
E por falar em Ipiranga, paralelamente ao tudo, também comemoramos o feito do qual, nos últimos dias, não se fala em outra coisa, ao menos na imprensa e no meio político mergulhado nos holofotes do clima das eleições majoritárias: a reinauguração do MUSEU DO IPIRANGA, aqui na cidade de São Paulo, depois de sua bela e gigantesca restauração artística, algo indiscutivelmente de primeiro mundo.
A gente comemora o feito, muito agradece e espera que o monumento se mantenha em pé, livre do vandalismo corrente por ora.
Mas...é preciso lembrarmos que o belo equipamento, patrimônio histórico e cultural que simboliza nossa INDEPENDÊNCIA HISTÓRICA , em última análise o exercício da liberdade de se ser uma terra autônoma, há nove anos jazia em meio às traças.
Totalmente esquecido, negligenciado, abandonado por quem tem a obrigação de zelar. Nisso ninguém nem toca observação.
Coisa que doía os olhos do mais insensível observador da História, ali estarrecido, chocado ao ver o estrago do tempo "in loco".
Agora, em tempos eleitorais, todo "político quer ser o "pai da criança" abandonada e depois restaurada a preço intangível à cidadania e aos moradores das calçadas, sob as tendas dos entornos deteriorados que circundam os palácios e os grandes feitos.
A pergunta: como conseguimos deixar um belíssimo aparato patrimonial e CULTURAL , SÍMBOLO QUE CONTA ALGO QUE NOS É TÃO CARO- A HISTÓRIA DA LIBERDADE DE SE SER INDEPENDENTE, deteriorar a ponto de ser preciso nove anos de restauração a preço de mais de duzentos milhões de reais?
Dizem que a iniciativa privada bancou os custos e a gente, claro, acredita. É o amor incondicional pela Pátria. E o povo não teria tal bolso...
Outra pergunta em tempos de eleições: o que significa para nós, cidadãos eleitores, INDEPENDÊNCIA?
Seria simplesmente ter título de eleitor e CPF?
O que é ser independente, afinal?
A MEU MERO SENTIMENTO CRÔNICO (de cronicidade, que significa algo que ocorre há muito tempo) sem Educação não há desenvolvimento do pensamento.
Sem desenvolvimento do pensamento não há nem entendimento do meio, tampouco discernimento de si no próprio meio minado, deteriorado, inclusive nos princípios fundamentais que regem a vida social em harmonia.
E com ambos déficits do principal não haverá consciência de cidadania.
Portanto, mais um questionamento: sem Consciência de Cidadania, de verdade, nos haveria verdadeira INDEPENDÊNCIA a se comemorar, no seu sentido semântico mais amplo e visceral?
Nossos tecidos sociais estão esgarçados!
O que sinto: sem Cidadania construída, constantemente promovida e sustentada, não há IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) compatível com felicidade social genuína e tudo não sairá dos discursos dos eternos " blá-blá-blás".
Os que nada mudam há tempos. Parecem o mesmo disco furado...disfônico pelos tantos anos decorridos.
Porque de nada adianta copiarmos soluções que vêm de fora, -dos primeiros para os últimos mundos!- e que não cumprem absolutamente seu real papel de nos alavancar do nosso progressivo e histórico " desenvolvimento retrógrado" de País.
Com certeza , CIDADANIA não é sermos os tantos filhos duma Nação a quem pagamos impostos cada vez mais altos sem retorno equitativo ao todo do alicerce social; país que se diz independente mas que não consegue caminhar para frente no que lhe é primordial para o exercício da LIBERDADE COM PAZ; vejamos, a exemplo, as atuais polarização política e segmentação social diabólica, cada vez mais compartimentalizadas em "diferenças nas diferenças", paradoxalmente sob a bandeira das igualdades; as crescentes contendas explícitas e subliminares que hoje em dia vivemos por aqui e por ali, a semear violência e rancor para todos os lados; e a engordar a audiência e o faturamento das mídias de notícias.
Triste cenário o nosso, a meu ver mais triste que o do museu até então carcomido pelo abandono.
Cenário social soerguido com tijolos da dor crônica, putrefeito pela Corrupção endêmica, essa doença política incurável que saqueia a mão que trabalha e sobre a qual se passa o manto da impunidade oficializada.
Uma Nação, que se diz genuinamente independente, repousaria sua glória sobre uma terra que cresce para todos, que cuida de todos os seus com atenção e responsabilidade , numa irmandade de vida digna que aduba o verdadeiro progresso e bem estar social em uníssono.
Enfim, a festa é nossa! Vamos comemorar!
Em breve haverá mais uma, a das nossas eleições, que dizem ser a festa da Democracia.
E depois vamos ao HEXA DO FUTEBOL MUNDIAL. Logo ali, mais uma vez vamos gritar: GOOOOL!
Só me resta acreditar e torcer para que, UM DIA, restauremos nosso País da mesma forma que, com tanta excelência, restauramos o nosso MUSEU DO IPIRANGA. Mas que não nos demore tanto...
Essa é a metáfora do meu texto, a de reconstrução que mais anseio e que aqui deixo registrada.
Escrevo de coração partido.
Afinal, torço, sem arquibancada, para que a festa da LIBERDADE advinda duma INDEPENDÊNCIA VERDADEIRA saia da simples observação dos relicários dos museus das grandes antiguidades... e possa caminhar conosco, solta e sem medos, pelas ruas da Cidadania restaurada.
Feliz futura INDEPENDÊNCIA, querido BRASIL!