ANÁLISE OBJETIVA DO GOVERNO BOLSONARO

 

As eleições se aproximam, já sabemos os candidatos, em breve saberemos nossos próximos governantes. Tudo indica que segundo turno entre Lula e Bolsonaro, nomes conhecidos que já governaram. Como anulei meu voto nas últimas eleições e não tenho simpatia por nenhum dos oponentes, vou tentar fugir um pouco dos adjetivos e analisar objetivamente seus governos, quem sabe ajuda o leitor a pensar.

 

Jamais gostei de Bolsonaro. Seu modo de falar sem moderação, a busca pelo confronto, a visão conservadora, a diferente religiosidade, a defesa do militarismo e a falta de empatia e principalmente a total não aceitação de ideias diferentes das dele sempre me desagradaram. No entanto, não votei em Haddad, preferi anular meu voto. Fiz isso porque achava que o país estava tão dividido em 2018 que quem tivesse mais votos teria mais chance de governar, e porque não tinha certeza sobre se era melhor mudar ou continuar com um governo desgastado.

 

Li seu programa de governo e quando vi seu ministério sem indicados políticos, tive esperança de que a corrupção diminuísse e que isso pudesse melhorar o país. Também achei que testaríamos a capacidade gerencial dos militares, que muitos diziam ser excelente. A disposição de não negociar com o Congresso pareceu desde o início problemática, porém, representava uma oposição aos conchavos e ao toma lá, dá cá, merecia o teste.

 

O governo Bolsonaro teve dois momentos muito diferentes. O primeiro foi enquanto Maia e Alcolumbre presidiam o Legislativo. Este foi o período das maiores realizações, a meu ver. A principal foi a reforma da previdência, algo inevitável e necessário que há muito era adiado. A proposta original era draconiana, acabava com o BPC, introduzia a idade mínima de 65 anos e o mínimo de 35 anos de contribuição. Com a atuação do Congresso, foi amenizada, ficou um sistema que acabará no futuro com as aposentadorias iguais ao salário da ativa para servidores, introduziu a contribuição progressiva para a previdência e que preservou a aposentadoria pelo BPC, única acessível para os mais pobres. Também criou regras de transição, acho que foi uma reforma boa dentro do que era possível. Foi o único feito no ano de 2019.

 

Em 2020, veio a pandemia. Embora o então Ministro da Saúde tenha alertado cedo sobre a ameaça, o governo subestimou o perigo, nunca aceitou as medidas de isolamento enquanto não havia vacinas e quando estas surgiram, adiou sua compra. O resultado foi um enorme número de mortes.

 

Entretanto, por causa da pandemia, houve o segundo maior feito do governo. Guedes propôs um auxílio pífio de R$ 200 para muito pouca gente. Também foi o Congresso na gestão Maia que aprovou o auxílio emergencial de R$ 600 que impediu que as pessoas morressem de fome no pior período da Covid. Foi mérito do governo ampliar o auxílio para muito mais gente e foi inédito ter uma renda assim para mais de 90 milhões de pessoas, muitos viveram melhor por algum tempo, testou-se o poder de tal política e popularidade cresceu.

 

O lado ruim é que ficou provado que auxílio apenas é insuficiente, ninguém deixou de ser pobre nem com essa ajuda, imagine com o quanto o Bolsa Família pagava. É preciso criar formas de aumentar a renda das pessoas de forma sustentável, que elas possam ganhar acima do salário mínimo do DIEESE por muitos anos para que tenhamos a maioria da população na classe média. E é preciso que esta tenha aumento de renda, porque é quem consome itens de maior valor e mais tipos de serviços. Só isso trará desenvolvimento por longos anos e não voos de galinha.

 

Os mandatos de Maia e Alcolumbre terminaram e, pressionado por pedidos impeachment aos montes pelos mortos da pandemia, o governo apoiou a eleição de candidatos dos partidos de sua base para o Legislativo. Após a eleição de Arthur Lira, o Centrão tomou o poder, literalmente de assalto. Podendo chantagear Bolsonaro com sua gaveta cheia de pedidos de impeachment que pode autorizar, Lira aprovou o orçamento secreto, verdadeiro mensalão legalizado, o fundo eleitoral de bilhões para os parlamentares e ocupou diversos ministérios, tudo isso já em 2021. Agora, temos o pior e mais poderoso Congresso de todos os tempos dando as cartas.

 

Em 2022, o presidente praticamente abdicou do poder. Com Lula novamente elegível e liderando as pesquisas, sua única preocupação passou a ser a reeleição. E, ante a ameaça de derrota já no primeiro turno, articulou sua última cartada, a PEC Kamikaze, na qual alegando um questionável estado de emergência obteve recursos para pagar Auxílio Emergencial de R$ 600 mensais até o fim do ano, bem como vale de R$ 1.000 para caminhoneiros e R$ 600 para taxistas. As benesses entrarão nas contas das pessoas ainda em agosto, em tempo para puxarem votos para o primeiro turno.

 

Não obstante o evidente viés eleitoral da medida, é impossível negar que os beneficiados realmente precisam de ajuda. Afinal, vivemos a maior inflação desde o Plano Real, os combustíveis estão muito caros e o desemprego alto, agravado pelo crescimento dos contratos de trabalho temporários e sem vínculo.

 

Como disse no início, eu li o programa de Bolsonaro. E posso afirmar que suas propostas não se realizaram. Não houve reforma tributária e nem sequer coisas simples como a isenção de IR para quem ganhava até R$ 5.000 saíram. O programa de privatização não chegou nem perto das 300 privatizações, não vieram os investimentos propagados e o ambiente de negócios piorou. Nada foi feito para gerir melhor o Estado, reduzir mordomias dos altos servidores do Legislativo, Judiciário ou sequer do Executivo. Os militares não podem se queixar, tiveram bons reajustes, novos armamentos, orçamentos crescentes, para eles o presidente deu tudo. Isso mesmo sem nenhum dos ministros militares tendo trabalho de destaque. Nas pautas de costumes, Bolsonaro conseguiu facilitar muito a posse e o porte de armas. Na gestão das estatais, nem as muitas trocas de presidentes da Petrobrás resolveram os problemas, agravados pela guerra, mas causados originariamente pela gestão da estatal.

 

Saindo das pautas e analisando os principais fatos, na economia o maior problema é que praticamente não houve crescimento econômico nos últimos 4 anos, apesar da enorme expansão do agronegócio com preços turbinados e dólar favorável aos exportadores. Também são fatos que houve a covid e a guerra atrapalhou. São, no entanto, situações que quem governa tem de enfrentar. É verdade que houve menos escândalos de corrupção, porém, a Lava Jato foi desmontada pelo Congresso com ajuda do governo e da PGR e muita coisa está escondida no orçamento secreto, a melhora foi pouca. O desmatamento cresceu e temos uma crise ambiental. A segurança não aumentou e as mortes no trânsito subiram.

 

Este é o quadro que vejo e que vou considerar na hora do meu voto. Não quero convencer ninguém de nada, cada um tem sua opinião, leia também o texto da Análise Objetiva dos Governos Petistas, espero que ajude a formar a sua sem considerar apenas os argumentos das partes, que frequentemente são parciais e distorcidos pela ideologia.

 

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 03/09/2022
Código do texto: T7597444
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