ANÁLISE OBJETIVA DOS GOVERNOS PETISTAS
As eleições se aproximam, já sabemos os candidatos, em breve saberemos nossos próximos governantes. Tudo indica que segundo turno entre Lula e Bolsonaro, nomes conhecidos que já governaram. Como anulei meu voto nas últimas eleições e não tenho simpatia por nenhum dos oponentes, vou tentar fugir um pouco dos adjetivos e analisar objetivamente seus governos, quem sabe ajuda o leitor a pensar.
Jamais gostei de Lula ou do PT. A visão distorcida da classe média como o inimigo do país (como se ela apitasse algo num país em que 5% das pessoas da elite têm 80% da riqueza, dominam o Congresso e a economia), o projeto de governo nacionalista e contrário a tudo que venha dos países desenvolvidos em especial EUA (como se investimentos deles não fossem bons), o apoio a regimes ditatoriais de esquerda, todas estas coisas sempre me incomodaram. A única vez em que votei no PT foi em Luiza Erundina para prefeita, porque o adversário era Paulo Maluf. No entanto, não votei em Bolsonaro, preferi anular meu voto. Fiz isso porque achava que o país estava tão dividido em 2018 que quem tivesse mais votos teria mais chance de governar, e porque não tinha certeza sobre se era melhor mudar ou continuar com um governo desgastado.
Para analisar os governos petistas, é preciso dividir em fases. A primeira foi o 1º mandato de Lula, de 2003 a 2006. Foi com certeza o melhor momento do PT no poder. Para enfrentar a resistência dos poderosos, o governo respeitou todos os compromissos das leis fiscais, honrou os pagamentos da dívida externa e progressivamente a trocou por dívida interna, com grandes ganhos e mantendo superávit nas contas públicas.
O governo neste período foi o que mais aumentou a renda de todos brasileiros, levando a um crescimento econômico forte. Os mais pobres tiveram o programa Bolsa Família, que tirou muitos da miséria, embora não tenha acabado com a pobreza e tenha efeito superestimado. Os de baixa renda não miseráveis tiveram o salário mínimo aumentado acima da inflação, uma política inédita e fundamental. A classe média teve correções da tabela do imposto de renda, que significaram aumentos de ganhos e também tiveram reajustes acima da inflação. Os servidores públicos tiveram carreiras valorizadas, com aumentos expressivos e muitos concursos. A elite ganhou muito mais, porque suas empresas tiveram aumento de vendas e porque para converter dívida externa em interna o governo subiu os juros das aplicações financeiras. A única forma de um país crescer é a maioria das pessoas ganharem mais e Lula conseguiu isso.
Houve outros méritos, foram introduzidas cotas sociais em concursos e universidades, que romperam com barreiras importantes e deram acesso aos pobres e negros ao ensino superior e carreiras valorizadas.
Não era o paraíso, havia problemas. Precisando de apoio no Congresso, o governo cedia cargos a aliados e houve escândalos de corrupção. O chamado Mensalão foi o maior, era um esquema de repasse de recursos para obras e doações das empresas que as faziam para campanhas em troca de apoio político. É importante que se diga que não era ilegal apoio de empresas a candidatos. No entanto, como condição para aumentar as doações as empresas formaram cartéis para as obras e o governo fechou os olhos para a prática. Isso levou à queda de figuras como Pallocci e José Dirceu e dificuldades para a reeleição.
O segundo mandato de Lula foi de reação do PT a dividir o poder com os outros partidos. A prioridade foram os projetos sociais e especialmente aumentar as obras, foi feita opção de sediar Copa do Mundo e Olimpíadas. Com o país crescendo beneficiado pelo aumento da renda, pela valorização das commodities e descoberta do Pré-Sal, tudo parecia ir bem, a popularidade de Lula e do partido era grande e Dilma foi eleita.
A primeira mulher presidente não tinha as habilidades políticas ou a popularidade de seu antecessor. Embora representasse um grupo mais à esquerda do PT, precisou ceder mais ministérios a mais partidos para conseguir se manter. O crescimento econômico arrefeceu, as contas públicas degringolaram e os casos de corrupção aumentaram. A Nova Matriz Econômica e a política dos campeões nacionais de Mantega fizeram inimigos na parte da elite que antes apoiava o partido.
As políticas de redistribuição de renda foram prejudicadas, primeiro as correções da tabela de imposto de renda cessaram e a classe média perdeu seus ganhos, depois o reajuste real do salário mínimo foi se reduzindo e o número de pessoas com Bolsa Família subiu menos. Com a perda da renda, aumentaram os que queriam a saída do PT.
Dilma teve poucas iniciativas próprias, a de maior destaque foi o Minha Casa, Minha Vida programa que ajudou muitos a terem casa própria. Teve pouco recurso para investir, porque pagou pelas obras decididas pelo antecessor, e houve muito superfaturamento nestas, estádios que custaram mais do que o dobro do previsto em lugares inviáveis. Era o preço a pagar para ter verba para as eleições e um mínimo de apoio no Congresso.
No final do primeiro mandato em 2014, começou a operação Lava Jato e a imagem de corrupção crescente quase impediu a reeleição, que foi por margem mínima no segundo turno e feita com a promessa de que as políticas sociais de sucesso iriam continuar e o crescimento econômico iria voltar.
Ao iniciar o segundo mandato em 2015, com as contas públicas deficitárias e sem crescimento, Dilma tentou restaurar a situação do governo com políticas recessivas que havia prometido não fazer e sua popularidade despencou, até mesmo em seu partido. Eduardo Cunha tornou-se presidente da Câmara, o Centrão tornou-se super poderoso e exigia cada vez mais dinheiro e cargos do governo para apoiar cada vez menos. Aécio Neves contestou o resultado das eleições e dificultou ainda mais a governabilidade. A mídia destacava as operações da Lava Jato e o PT não quis ou não conseguiu mostrar que a maioria das denúncias era em outros partidos, dos seus aliados. A elite financiava protestos de rua contra a presidente e boa parte da classe média e mesmo partes das baixas aderiram. A antiga base do governo, MDB e Centrão, vendo a chance de ficar com o poder sem o PT, decidiram apoiar o processo de impeachment, que foi um golpe político, ainda que perfeitamente dentro da lei. Então, em dezembro de 2015, menos de um ano do segundo mandato, a presidente foi afastada e em agosto de 2016 perdeu seu cargo definitivamente.
Muito se poderia falar sobre o que ocorreu a partir daí, a Lava Jato, as manobras para impedir a candidatura de Lula e as eleições de 2018, porém, isso extrapola a ideia do texto, de analisar objetivamente o que os governos petistas fizeram no poder, que foi o que tentei fazer acima.
Este é o quadro que vejo e que vou considerar na hora do meu voto. Não quero convencer ninguém de nada, cada um tem sua opinião, leia também o texto da Análise Objetiva do Governo Bolsonaro, espero que ajude a formar a sua sem considerar apenas os argumentos das partes, que frequentemente são parciais e distorcidos pela ideologia.