Rabat e Paris: a crise ou oportunidade?

Os meios de comunicação estrangeiros, durante mais de um ano e meio evocam uma crise silenciosa entre Rabat e Paris, tendo em vista cinco ou seis hipóteses, as quais são resumidas na questão porque Marrocos foi excluido da tradicional périplo do presidente francês, levando-o a três -Países da África do Saara, a última foi a Argélia, 25 de agosto, além do fato de reduzir o número de vistos franceses, emitidos para os marroquinos.

Outro ponto levantado, foi sobre a concorrência marroquina da influência francesa na África, além do dossier marroquino do Saara, a espera da adesão de Paris a uma posição, semelhante ao do Washington, Alemanha e Espanha, e por fim a questão da espionagem eletrônica ou grampo telefónico.

Tal visita de Macron, presidente francês, à África depois de sua eleição para um segundo mandato, veio numas circunstâncias caracterizadas pelas ameaças à segurança, por um lado, e a crise alimentar, por outro lado, o que agiganta, portanto o céu do continente com consequências da guerra ucraniana.

Com base no contexto da última viagem do Ministro dos Negócios Estrangeiros russo a África, o Presidente francês, Macron foi a esses países porque a França enfrenta uma expansão da influência russa ou chinesa.

No contexto do primeiro mandato do Macron, o Marrocos tem sido o primeiro destino do presidente francês, em linha com as tradições, estabelecidas por seus antecessores no Palácio do Eliseu.

De modo geral, esta visita do presidente francês à Argélia não deve constituir uma mudança na posição francesa quanta a questão do Saara marroquino, pela simples razão que tal visita veio por uma iniciativa argelina, através de um convite do presidente Abdelmadjid Tebboune, sem deixar outra opção ao presidente Macron, diante das novas tensões após os problemas e criticas no quadro das declarações anteriores sobre a movimentação popular e tipo do regime militar argelino.

Além disso, esta visita veio no contexto da chantagem da Rússia aos países europeus sobre o gás, repetido fechamento do gasoduto “Norstream 1”, por razões técnicas, levantando a hipótese evitat qualquer crise como se disse no dito árabe, apontar apenas “camisa do Othman”.

Outro fator foi a economia francesa, depois de seis meses do início da guerra ucraniana, ela entrou num estado negativo, neste verão, ameaça o declínio da demanda interna, e a inflação que ensombra a renda e o padrão de vida dos franceses, podendo levar a uma recessão e queda recorde no valor do euro, fatores esses levam a França a buscar acordos comerciais e alternativas ao gás russo.

Voltando ao caso da redução do número de vistos, encontra-se que esta decisão soberana diz respeito a outros países e não Marrocos, sobretudo à Argélia e Tunísia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês justificou tal fato, recusar receber alguns dos seus cidadãos por motivo de imigrantes clandestinos.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores marroquino, trata-se apenas de uma medida técnica relacionada à pandemia de “Covid-19”. No entanto, Marrocos continua a ser o primeiro país africano em número de vistos franceses, concedidos aos seus cidadãos, com mais de 150 mil vistos só no ano de 2022.

Quanto à questão de concorrer com a França no nível continental, continua sendo um assunto improvável porque os investimentos marroquinos ainda estão no início e não constituem uma ameaça real como a China, Turquia, Brasil, Estados Unidos, Japão e outras potências tradicionais ou emergentes.

Há também cooperação e, por vezes, integração entre Marrocos e França em direção a África, o caso do setor bancário, seguros e indústria farmacêutica. Tendo em vista, por exemplo, a indústria de fertilizantes fosfatados, uma vez que o Marrocos e França não competem neste campo.

Quanto ao programa de espionagem “Picasos”, tem ficado claro, quando Marrocos entrou com uma ação no judiciário francês contra a mídia francesa, promovendo notícias contra Marrocos, em termos de acusações sem nenhum fundamento, uma vez que essas plataformas mantiveram um certo silêncio e interrompendo suas campanhas, com tudo o que isso significa.

Considerando que a cooperação estratégica e a segurança estão em seu período mais importante entre Paris e Rabat, resultado das manobras militares conjuntas entre os dois países, na região leste fronteiriça com a Argélia, sob o nome de “Vento de Shirk”, levando mensagens aos interessados.

Concluindo com esta posição francesa sobre o dossier do Saara marroquino: embora não tenha feito jus ao reconhecimento oficial da soberania marroquina sobre o Saara, Paris continua sendo um aliado confiável de Marrocos em suas batalhas diplomáticas, especialmente no Conselho de Segurança, sem esquecer que o falecido presidente francês Jacques Chirac foi o primeiro chefe de estado europeu quem chamou o Saara marroquino das províncias do sul do Reino.

Por isso, o presidente argelino Bouteflika costumava a chamá-lo, com grande desagrado, do "Chirak Alaoui", em referência à família real no Marrocos.

A falta do reconhecimento direto da França do Saara marroquino decorre de uma questão tática, preservar seus principais interesses no mercado argelino, sobretudo nos campos de petróleo e gás, dada crise argelina com a Espanha no contexto por trás a posição de apoio de Marrocos, justificando tal hesitação francesa.

Lembrando que a França continua sendo o primeiro parceiro económico de Marrocos, embora a Espanha lhe tenha tirado o primeiro lugar como parceiro comercial do Reino, mantido no topo da lista dos investimentos directos estrangeiros destinados a Marrocos, em termos do volume cumulativo, estes dois indicadores, além da cooperação militar e segurança, parecem suficientes para rejeitar qualquer conversa sobre a crise.

Apesar de tudo isso, algumas diferenças entre estes aliados, caso do Washington e Paris envolvendo o acordo submarino com a Austrália, ou ainda do escândalo da espionagem americana nos telefones dos presidentes europeus, durante a era do presidente Obama.

Enquanto às mensagens diretas e inteligentes sobre a parceria e meio de construir um futuro, trata-se da perspectiva em relação ao Saara marroquino, com base no discurso de 20 de agosto, dirigidas a todos os países do mundo e não a um determinado país em questão.

Vale acompanhar e ver os resultados da visita de Emmanuel Macron ao nosso vizinho oriental, por três dias. Ao contrário de seus predecessores do Elysée. Com tudo isso Aguarda-se a posição do vento que ia numa mudança estratégica, que seja gradual e com um longo fôlego, porque a sabedoria da política do reino, unida pela força da unidade e da frente interna, bem como da crença do povo e justa causa nacional.

Lahcen EL MOUTAQI

Professor universitário-Marrocos

ELMOUTAQI
Enviado por ELMOUTAQI em 30/08/2022
Código do texto: T7594411
Classificação de conteúdo: seguro