Putin e Dugin.

Para quem não sabe, digo: Putin e Dugin não são personagens da Hanna-Barbera. E tampouco são uma dupla caipira, e menos ainda de sertanejo universitário. São dois personagens que estão na ordem do dia, e dos quais se fala, com mais tagarelice, e menos propriedade, nos dias que sucederam à morte de Darya Dugina, filha de Alexandre Dugin, guru de Vladimir Putin, atual tzar da Mãe Rússia,pátria de úbere generoso e braço robusto e mão pesada. Diz-se à boca miúda que do Putin é Dugin consultor de assuntos estratégicos e geopolíticos e outros assuntos correlatos e de outras dimensões - se é verdade, não sei. E também se diz que foi Putin agente da KGB, uma sucursal do inferno, atual FSB - e outra sucursal do inferno é a CIA. Mas é Putin guru... quero dizer, é Dugin guru do Putin? Popularizaram, e corromperam, a palavra "guru", que assumiu, aos olhos e ouvidos dos brasileiros, desde que a mídia nacional insistiu em vender-lhes a idéia, e idéia errada, de que era Olavo de Carvalho guru do presidente Jair Messias Bolsonaro, que mal lhe dava ouvidos, para desespero do filósofo - e não filósofo auto-nomeado - e de muitos de seus alunos e admirados; e a palavra "guru", prossigo, assumiu ares de criatura semi-divina, misteriosa, negativamente sapiencial, mentora intelectual, de cabeça repleta de carambolas e caraminholas cabalísticas, esotéricas, de ingredientes mágicos, místicos, inacessíveis ao comum dos homens. Vamos conservar tal título ao Dugin, e deixar explícito que "guru" tem, aqui, o sentido incomum de estrategista político, formulador das diretrizes de quem lhe segue, e sem pestanejar, as orientações, entendendo que é o "guru" Putin, quero dizer, Dugin, quem determina a estratégica geopolítica do Putin.

Pela primeira vez, assim me recordo, eu li o nome de Alexandre Dugin no livro Os EUA e a Nova Ordem Mundial, que dá a público um debate em que se confrontaram Olavo de Carvalho e Alexandre Dugin. Desde então odeiam-se de morte olavistas e duginistas, aqui no Brasil e em outras terras. Mas quem é Dugin e qual o papel dele na formulação da geopolítica de Putin? Não faço a mínima idéia, e acredito que tudo que se diz a respeito não passa de tagarelice de papagaio-de-pirata. Acompanhei, e antes da trágica morte da herdeira do Dugin, celeumas homéricas acerca de Dugin e de sua ascendência sobre Putin, e cocei-me a cabeça ignorando as razões de meu ato de coçar-me a minha plantação de cabelos. Agora, sucedendo-se à morte de Dugina, leio controvérsias, cujos participantes me parecem irracionais, acerca do papel de Dugin na política de Putin.

Antes de prosseguir, pergunto: Darya Dugina morreu? Ora, estamos falando de coisas da Rússia, a envolver serviços de inteligência, e espionagem, e contra-espionagem, e terrorismo, um jogo bruto entre personagens poderosos.

Prossigo: afirma-se que Dugin é o guru do Putin, que segue as orientações de Dugin. Ora, sabemos que as idéias do Putin... quero dizer, do Dugin, dentre elas a Teoria do Quarto Poder, que desconheço, está, livre para acesso público, impresso em papel. Afirma-se que as idéias de Dugin fazem a cabeça de Putin, que lhas segue à risca. Se é assim, então os inimigos de Putin, depois de lerem os livros do Dugin, e das idéias destes tomarem conhecimento, entenderam quais idéias movem Putin, assim podendo planejar estratégias que se opõem à dele, antecipando-se a ele, e sobrepujando-o. Mas não é isso o que se vê. Parece-me - não sei se estou correto ao fazer tal afirmação, que me inspiraram artigos que li de pessoas que reputo confiáveis - que está Putin a fazer de gato-sapato seus inimigos. Se nos livros de Dugin estão as idéias que movem Putin, das duas uma: ou os inimigos de Putin não as entenderam; ou as entenderam, e as usaram contra si mesmos (na verdade, contra os países da zona do Euro e os Estados Unidos), assim se aliando, conquanto em público digam o contrário, ao inimigo declarado. Ou então, outra conjectura: nos livros de Dugin não há sequer uma idéia que faça a cabeça de Putin e que a fama de Dugin, a de guru, e o principal, ou o único, do Putin é só balela, foi inventada e disseminada por Putin com o o objetivo de induzir seus inimigos a formularem políticas que tenham como sua fonte de conhecimento uma política fictícia dele, assim dele esculpindo uma imagem falsa, distante da verdadeira. O que é verdade e o que é mentira neste teatro de aparências? Não faço a mínima idéia. Penso, apenas, que Putin não seria tolo a ponto de construir uma política estratégica com os ingredientes que os livros de Dugin fornecem, sabendo que os seus inimigos os leram. Ou, não sendo tolo, e suspeitando que seus inimigos acreditam que nos livros de Dugin estão idéias que ele, Putin, jamais, porque públicas, usaria em suas políticas, as usa? Não sei, entende?

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 29/08/2022
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