O Mundo é (deve) governado pelos fracos

Vamos conversar um pouco sobre duas frases que marcaram e marcam toda a história humana. A primeira delas é que o mundo é governado pelos fracos, e a segunda eu diria “que bom isso”. A primeira frase é dita pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) em seu livro “A genealogia da Moral, no qual o filósofo faz um estudo dissecante sobre a vida do homem, numa perspectiva dos valores e das morais como forma de dominação e poder. É uma frase bastante intrigante e, ai de nós, se não fosse os governos dos fracos! Passamos agora na contextualizado disso tudo.

O homem ao longo de sua história, como um animal qualquer, busca uma forma de maior facilidade de viver, de vencer as intempéries da natureza, que são cruéis. Somos seres de necessidade, talvez o mais dependente dos animais, e vivemos por toda existência nesta luta diária pela vida. Você pode pensar que, desde nossa vida extrauterina, começamos a batalha pela vida, seja simples ato de respirar, de agasalhar, de água etc. Por outro lado, temos ímpeto infinito de tudo, como diria Nietzsche desejo de potência, que gera potência e mais potência. Sempre digo que esses desejos são comparados a uma sacola furada, sem limites.

Quando deparamos com a evolução do homem na história primitiva, percebe-se que, mesmo com seus desejos individuais e sua essência, ele vê que sozinho é mais difícil vencer as batalhas travadas com a natureza. Portanto, para chegar longe no processo evolutivo, não pode andar sozinho, pois não conseguiria vencer as batalhas naturais pela vida. Agora então, com agrupamentos entre homens, a situação muda e as coisas começam a caminhar com mais facilidade. Enquanto um faz a caça, outro faz armas, cabanas e trabalha a terra. O homem é o único animal que transforma a natureza com o caráter teleológico, ou seja, é o único que com pedra, transforma ouro; que ferro faz armas; que com argila faz tijolos; que com madeira faz transporte, telhado etc.

Com mais facilidade de vencer necessidades básicas, vai evoluindo ao longo da história e começa viver em grupo primitivo. Após esse período, vai criando formas mais complexas de vida, ao tempo que já vê necessidade de maior controle uns com os outros, pois, sem limite, vão se destruindo novamente. A necessidade de regras de convivência torna-se vital para que ele consiga fazer essa travessia política-evolutiva. Era condição sine qua non para se manter vivo.

Agora, mesmo no período mais moderno, quando o homem já cria suas comunidades e mais adiante os estados e a contemporaneidade, ainda estamos vivendo com os mesmos dilemas filosóficos do sujeito coletivo e sujeito individual. É bem verdade que sempre esse dual filosófico nos persegue e vivemos em ciclos dicotômicos entre um e outro. Por exemplo, Alexandre Magno dominou vários períodos da Idade Antiga com o seu ímpeto de vencer, de construir impérios, de avançar frente a determinados povos, o fazia como homem Forte, que colocava desejos impiedosos de perfectibilizar suas conquistas. Na Idade Média, o governo Forte da Igreja Católica matou milhões na Fogueira Santa: os considerados hereges, os homossexuais etc. Em outro momento da história recente, podemos citar a Segunda Guerra Mundial em que o governo Forte do Nazifascista alemão Hitler, juntamente setores ultraconservadores, queriam destruir tudo aquilo que representasse como diferente. Portanto, contabilizou, segundo a ONU, a morte de mais de 60 milhões de pessoas, 40 milhões de civis e 20 de militares. No Brasil, em 1964, um movimento liderado por ultraconservadores e setores da Igreja Católica, com o Golpe Militar também mataram e retiraram direitos políticos de várias pessoas.

As leis, as legislações sobre a Moral e Éticas são produzidas a maneira de controlar esse ímpeto e esses desejos desenfreados, principalmente de homens Fortes, de Establishment, - ordem ideológica, econômica, política e legal que constitui uma sociedade ou um Estado. Podemos fazer um paralelo com os estudos do grande médico e filósofo, pai da Psicologia, Freud, cujo objeto de estudo gira em torno da mente. Ele define a mente em três camadas: o ID, o EGO e SUPEREGO. O ID, nosso desejo absoluto, regido pelas pulsões mais primitivas e totalmente sem controle; o EGO, a mente controlada pela razão, o medo; o SUPEREGO, controlado pelos morais, leis e a ética, as quais são regras que dominam esse ser animal que não tem limite no seu desejo e na sua individualidade.

Assim, o governo dos Fracos deve garantir a possibilidade de grupos humanos pensar e ser diferente. São regimes de governo que permitem a vida em liberdades, vontades e oportunidades. Em outras palavras, os governos do Fracos são o único meio de a sociedade humana evoluir.

Por Manoel Serafim

Filósofo

Esp. Ciência Política

ManoelSerafimSilva
Enviado por ManoelSerafimSilva em 27/04/2022
Reeditado em 09/05/2022
Código do texto: T7504439
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