É sensato proibir o ensino do comunismo?

Em primeiro lugar, deve-se definir comunismo, e a definição tem de vir sem dubiedades, e jamais permitir objeções, pois em não havendo consenso acerca do que o comunismo é eterniza-se as controvérsias em torno do seu estatuto, o que impede a concretização de políticas de proibição, se assim se deseja, de seu ensino, afinal, vai-se proibir não se sabe o quê. Além disso, se se proíbe o ensino do comunismo, há de se proibir o ensino das idéias dos intelectuais cujos nomes estão umbilicalmente presos ao movimento comunista, e apagar tais nomes dos livros de história? Que não se faça a apologia do comunismo, concordo; e que não se reverencie os seus líderes intelectuais e políticos, também concordo. Que se apresente o comunismo e correntes de pensamento que se lhe opõem, é o correto. Que se apresente o comunismo em confronto com pensamentos adversários, e muitos que sequer lhe tomam conhecimento, e se permita que cada pessoa pense a respeito das idéias políticas, e se decida, em respeito à sua consciência, se vai em favor desta ou daquela, comunista, ou não, ou se se isenta de tecer comentários a respeito, porque se reconhece ignorante do assunto, ou, se indiferente ao, e desinteressado do, assunto, que fique à margem do embate político público.

Para se ensinar o comunismo, se faz indispensável a quem está no papel de quem ensina saber o que o comunismo é, e conhecer os pensamentos políticos que se lhe opõem, e ter boa bagagem literária, intelectual, e conhecimento da história da civilização e da das idêias políticas, e, principalmente, ser dono de mente aberta, não um espírito sectário, e demonstrar disposição para se manter equidistante das ideologias para fazer o confronto correto entre elas. Mas quantos professores têm consciência de suas responsabilidades, e o temperamento que se pede para exercer com propriedade o magistério?

Os intelectuais não se entendem. Cada qual defende - com unhas e dentes, não poucos - a idéia que faz do comunismo. Para uns, é o comunismo um sistema econômico; para outros, uma ideologia (ideologia, para uns, materialista, para outros, de inspiração satanista); para outros, é um movimento político cujos adeptos visam a conquista do poder absoluto, que pode ser obtido por todo e quaisquer meios, pois o fim justifica os meios; e para outros, é uma cultura, que abrange todos os aspectos da sociedade e do comportamento humano; para outros, é uma religião política, civil, que prescinde da idéia de transcendência. O que é o comunismo, afinal? Não se sabendo o que ele é, e menos ainda como ele se manifesta, como se pode proibir que os professores o ensinem? E como podem os professores ensiná-lo?

Recebe o comunismo inúmeros, infinitos nomes. Os comunistas ressignificam as palavras, e fazem uso da retórica para vender gato por lebre. O comunismo atende pelo nome de social-democracia, socialismo cristão, democracia, liberalismo, neoliberalismo, capitalismo, maradonismo, fã-clube de Guerra nas Estrelas; enfim, qualquer nome que sirva para apresentá-lo com uma figura carismática, adorável, amável, ao povo (ou grupo, ou classe) que se deseja manipular e usar como bucha-de-canhão. Além do mais, muitos comunistas não se dizem comunistas; muitos dentre eles se dizem democratas, cristãos, defensores da liberdade. Há quantos comunistas dentro da Igreja, a pregar o Evangelho, deturpando-o, e corroendo-a, e destruindo-a, e, ludibriando os simplórios fiéis, cooptando-os para um movimento revolucionário que tem em seu fim a eliminação de tudo o que eles amam?

É o comunismo proteiforme, ser mimético; assume infinitas formas, inclusive as dos seus inimigos; e por estes se fazendo passar, enganam, e destróem, até o mais perspicaz dos homens.

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Proibir-se a apologia do comunismo, sim. Do mesmo modo que se deve proibir a do nazismo e a do fascismo, e a de qualquer outra ideologia. Deve-se proibir a apologia de todo sistema de pensamento, ideologia, socialismo, comunismo, nazismo, capitalismo, liberalismo. E não se faz aceitável que, nas salas-de-aula, professores ensinem seus alunos a idolatrar personagens caros aos revolucionários comunistas, e a se prosternar diante de símbolos de movimentos políticos, seja a suástica, seja a foice-e-o-martelo.

Professores têm de expor, com imparcialidade, as idéias fundamentais, elementares, das principais correntes de pensamento político-ideológico, e a história delas, o que só podem fazer se dotados de boa formação intelectual; infelizmente, muitos deles, desconhecendo-as, se de boa vontade, e bem intencionados, resumem seu papel na sala-de-aula a repetir lugares-comuns, platitudes, nem sempre com a postura apropriada. Se diz o professor "No socialismo, um órgão central, o Estado, planeja e controla as atividades econômicas, e no capitalismo são as atividades econômicas livres de planejamento e controle centrais.", ele não faz juízo de valor. Mas se ele diz "O socialismo produz justiça social e igualdade entre homens e mulheres, e o capitalismo, injustiça social e desigualdade.", ele faz, sem o saber - se bem-intencionado, mas destituído da formação intelectual que lhe permitiria fazer uma exposição correta -, juízo de valor entre os dois, vou assim dizer, sistemas, favorável ao primeiro, certo de que apresentou-os com imparcialidade; mas, se mal-intencionado, ciente de que tomou posição favorável ao primeiro, jamais adota a postura de quem se dispõe a ouvir voz destoante, e nunca apresenta exemplos das obras meritórias dos socialistas, e se diz imparcial porque falou dos dois sistemas, e não apenas de um, o socialismo.

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É o comunismo movimento revolucionário. E o anticomunismo, cujos agentes, usando dos artifícios dos comunistas, e alegando combater o comunismo, manipulam as massas, para cooptá-las, alimenta o movimento revolucionário, pois equivalem-se a mentalidade revolucionária dos comunistas e a dos anti-comunistas.

Retroalimenta-se o movimento comunista durante o embate entre comunistas e anti-comunistas, estes a usarem dos expedientes políticos daqueles.

Os conservadores revolucionários, seres que se reproduziram exponencialmente, no Brasil, nos quatro lustros que abrem o século XXI, adotam políticas contraproducentes, pois, de mentalidade revolucionária, estão a alimentar o monstro contra o qual dizem lutar. Usam das armas, reprováveis, muitas delas criminosas, que os comunistas usam, para manipular, e não instruir, o povo, as massas, as classes, as minorias.

Comunistas e anti-comunistas participam de um aparelho de moto-contínuo.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 21/04/2022
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