OS LOBISTAS DE DEUS

Lobismo é uma atividade política exercida por pessoas de influência junto aos Poderes Públicos com o objetivo de defender interesses de grupos específicos. Pode ser ostensiva ou velada, exercida por particulares ou grupos organizados. Não é uma atividade ilícita ou mesmo antiética. Na verdade, trata-se de um meio legal de exercer pressão sobre o Poder Público, mais especificamente o Poder Legislativo, para que este aprove matérias de interesse do grupo que o lobby representa. Numa democracia representativa existem lobbies de todo tipo, que por vezes se confundem com outros grupos de pressão que exercem seu poder através de bancadas legislativas, eleitas por grupos específicos da sociedade para defender, com exclusividade, os seus interesses.

O Lobby é, pois, a prática de buscar acesso aos agentes políticos e fazer com que eles saibam das demandas de determinados segmentos da sociedade, usando pessoas que têm canais de contato junto aos órgãos de governo. O lobista geralmente é um intermediário que conhece a forma de funcionamento do governo e de seus elementos chaves, ou então tem acesso a pessoas com poder de decisão dentro dele.

Lobbies sempre existiram. Não é criação das modernas democracias. É, na verdade, uma tradição histórica que nasceu com o próprio conceito de governo. Até no Novo Testamento ele aparece no episódio em que o grupo conservador radical do Sinédrio judeu faz lobby junto ao governador romano Pôncio Pilatos para que ele mande crucificar o desordeiro Jesus de Nazaré, que segundo eles, estava desencaminhando o povo judeu. Esse foi um claro exemplo de lobismo exercido em nome de Deus, e não foi o primeiro da História. Por isso não estranhamos que um lobby de pastores evangélicos esteja trabalhando no Ministério da Educação para defender assuntos de interesse de prefeitos de diversas cidades. Aliás, esse lobismo não deve estar sendo exercido apenas nesse Ministério, mas em todos os níveis do governo Bolsonaro, pois sabe-se que os evangélicos constituem uma das bases mais importantes do seu governo. Isso sem considerar que vários dos seus ministros foram cooptados nesse movimento e o próprio presidente nunca escondeu que ele mesmo é adepto dele.

O Lobismo de Deus é uma atividade bastante forte no atual governo. Até no STF o presidente fez questão de indicar um ministro “terrivelmente evangélico”. Para ele o pedido de uma "contribuição" não deve ser motivo de escândalo. É de conhecimento público que a maior parte dos seus apoiadores evangélicos segue o tal “evangelho da prosperidade’, movimento criado nos Estados Unidos pelo inefável pastor Norman Vincent Peale e desenvolvido no Brasil com muita maestria pelo bispo Edir Macedo. Nesse evangelho, Deus não gosta de pobreza e nenhuma graça é concedida gratuitamente. Por isso não sei por que alguns prefeitos estão chiando pelo fato de os tais lobistas de Deus pedirem “contribuições” para que seus pleitos junto ao Ministério da Educação sejam atendidos. Afinal, até São Francisco de Assis, que não era evangélico, concordava com isso: não foi ele que disse que é dando que se recebe?