E A GUERRA FRIA FULMINA A UCRÂNIA
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Orientação do autor:
Trata-se de dados históricos compilados nos quase 77 anos do pós-Segunda Guerra Mundial.
Sugerimos iniciar a leitura pelo "RESUMO" deixado no final do texto. Obrigado e boa leitura.
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Invasão da Ucrânia. Não se trata de uma disputa territorial ou econômica, mas de uma amostra do poderio bélico do invasor, que pressente o avanço sub-reptício da outra superpotência antagônica em direção ao seu território. Esse suposto avanço se dará com a ocupação de pelo menos um dos países da fronteira oeste da Rússia, quais sejam: Bielorrússia (vizinho à Letônia e Lituânia, banhados pelo Atlântico Norte e membros da OTAN desde 2004);
Finlândia (banhado pelo Mar Báltico, que acessa o Atlântico Norte pelos estreitos de Kattegat e Skagerrak);
Ucrânia (banhado pelo Mar Negro - extensão do Atlântico Norte via Estreito de Bósforo).
Comparação/temor do governo russo, em 2014, quando forças ucranianas bombardearam as cidades rebeldes da região de Donbass - na fronteira Ucrânia/Rússia:
"Forças ocidentais cercando a Rússia reverberam ecos de Leningrado"
(relembrando os horrendos 900 dias do cerco de Leningrado pelas forças nazistas - 1941/44).
Para uma melhor interpretação dos estopins políticos e ideológicos dessa horrenda guerra em pleno século XXI, precisamos saber:
- o que é a ONU;
- o que foi o PLANO MARSHALL;
- o que é a OTAN;
- o que foi o PACTO DE VARSÓVIA;
- o que foi (ou o que é) a GUERRA FRIA;
- a traição de um acordo e a fraudulenta expansão da OTAN até nossos dias;
- a UNIÃO EUROPEIA como estratégia político-econômica.
A ONU (Organização das Nações Unidas)
A ONU é uma organização internacional (constituída de 193 países, ou Estados-membros), com a missão multilateral de Promover a PAZ entre as nações:
- Data de fundação: 24.10.1945, logo após a 2ª Guerra Mundial (de 01.09.39 a 02.09.1945);
- Sede: em Nova Iorque (Estados Unidos da América - EUA);
- Finalidade: missões humanitárias (17 ao todo) voltadas para situações conflitivas que envolvam a sociedade como um todo, quais sejam:
- mudanças climáticas; desenvolvimento sustentável; direitos humanos; desarmamento; combate ao terrorismo; igualdade de gênero; produção de alimentos; emergências de saúde; incentivo à educação, etc.
(Ver, ainda em elaboração, o plano de atividades a ser implementado pela ONU até o ano 2030).
O PLANO MARSHALL
Criado em 1947 pelo general George Marshall, teve o objetivo inicial de financiar a reconstrução de edificações e indústrias danificadas durante a II Guerra Mundial, principalmente da França, Inglaterra e Itália.
Outros objetivos:
a) financiar a importação de alimentos e mercadorias industrializadas dos EUA;
b) financiar a agricultura;
c) conter o avanço das lutas sociais na França e na Itália, encetadas na Alemanha;
d) disseminar propaganda maciça contra a União Soviética, considerada vitoriosa na II Guerra Mundial e cujo exército se mantinha distribuído e presente nos diversos países da Europa Oriental (no entorno da Rússia);
e) fortalecer a internacionalização da moeda norte-americana no século XX;
f) superar o crescimento econômico dos países da União Soviética (URSS), que - unidos social e economicamente - tinham a participação intensa do Estado nos setores de trabalho, alimentação, saúde, educação, cultura e moradia (esse crescimento foi a preocupação maior do então presidente dos EUA, Winston Churchill, que optara pelo desenvolvimento baseado na iniciativa privada).
O Plano Marshall durou quatro anos (até 1951) e recebeu um aporte financeiro de 18 bilhões de dólares dos EUA.
A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)
A OTAN é uma aliança militar intergovernamental que teve a missão inicial de oferecer segurança ao Plano Marshall.
- fundação: 04.04.1949 (em Washington, no contexto da bipolaridade da Guerra Fria entre EUA e URSS);
- sede: Bruxelas (capital da Bélgica);
- Estados-membros: Estados Unidos, França e Itália (os pioneiros), seguidos da Bélgica (atual sede), Canadá, Dinamarca, Islândia, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal e Reino Unido.
A Alemanha Ocidental ingressou na OTAN em 1955 (ver Pacto de Varsóvia).
A Espanha Democrática ingressou em 1982 (pós-ditadura de Francisco Franco).
- Objetivo principal: reação pelas armas, na hipótese de agressão a um dos paises signatários (nos termos do Tratado assinado por todos).
Diferentemente da ONU, a OTAN não visa a PAZ entre as nações;
- Objetivo secundário: atuar no acesso a recursos naturais (petróleo, por exemplo) e a importantes mercados consumidores no mundo;
- Objetivo ideológico: impedir, com armas e tropas treinadas, os conflitos ideológicos e o avanço do comunismo na Europa Ocidental, nocivos à internacionalização do capital norte-americano no século XX.
- Mudança de objetivo: com a queda do Muro de Berlim (em 1989) e a independência (em 1991) dos países que constituiam a União Soviética (o que caracterizou o fim do comunismo, principal adversário dos EUA), o Ocidente (leia-se: a OTAN) assinou com a União Soviética o Tratado Sobre Forças Armadas Convencionais na Europa.
Esse tratado (obedecido na íntegra por Gobarchev, último líder da URSS, que cuidava de uma ampla reforma administrativa na Rússia) mudaria o objetivo principal da OTAN, pois que implicaria redução de sua capacidade militar em todo o Continente.
A missão inicial da OTAN duraria tanto quanto o Plano Marshall, cujas atividades cessaram em 1949. Como, na realidade, é o abre-alas da expansão do imperialismo norte-americano, a OTAN descumpriu o Tratado e continuou avançando no Atlântico Norte, unilateralmente, aumentando sua capacidade militar de forma mais vigorosa.
Sem nenhuma dúvida, uma corrida sem obstáculos desde 1991 que, a qualquer momento, poderá ser ganha por um único atleta (EUA), sem concorrentes.
A União Soviética, sua gigante barreira, já não existia desde o Acordo assinado.
Objetivo adicional: para justificar o oportunismo, i.e., o descumprimento do Acordo com a URSS (o Tratado Sobre Forças Armadas Convencionais na Europa), a OTAN, após contestações do então presidente russo, Boris Iéltsin, incluiu em seu regimento a atribuição de "ajuda humanitária" (um engodo que a Rússia engoliu, visto que coincidia com a principal atribuição e razão de existir da ONU). Basta raciocinar sobre o indecoroso paradoxo:
"Ajuda humanitária com armamento e treinamento de tropas em larga escala?!...".
Outro objetivo que a OTAN adicionou ao seu regimento: "Conciliar eventuais conflitos (?) e promover a paz (?) entre as nações" (Mais um drible. Trata-se da principal atribuição do Conselho de Segurança da ONU). Um contrassenso, pois que a ONU propôs a implementação do Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares, visando a eliminação total de armas nucleares no mundo. O Tratado, de enorme importância para a ONU e para a humanidade, não obteve progresso diante da forte resistência da OTAN.
Enfim, salvo melhor juízo, a OTAN existe, cada vez mais robusta, cada vez mais armada, com a finalidade de garantir a expansão imperialista norte-americana, não somente no Atlântico Norte, mas, provavelmente com outra sigla, em todos os quadrantes do planeta.
- Participação financeira dos países-membros: cada país vinculado à OTAN contribui, teoricamente, com até 2% do seu P.I.B. (produto interno bruto) para suprir as despesas de custeio militar da Organização (pessoal, armamento, equipamento, passagens, alimentação...).
Tomando como referência essa fórmula, os EUA participam com 79% do total das despesas, enquanto os demais países, somados, contribuem com apenas 21%.
Pela desproporção apontada, a lógica mostra ao mundo que os EUA são os senhores feudais da OTAN, que hoje tem seus tentáculos direcionados para os paises vassalos em toda a Europa Ocidental e - pasmem! - na grande parte dos países da Europa Oriental.
- Atuação da OTAN nas guerras do presente século:
> invasão do Afeganistão pelos EUA, em 2001 (represália à queda das torres gêmeas: 11.09.2001);
> guerra dos EUA contra o Iraque, em 2003 (a mentira das armas químicas que Bush inventou);
> guerra contra a ditadura de Kadafi, na Libia, em 2011...
- Países da Europa Oriental que ingressaram na OTAN, pós 1991, logo após o seu descumprimento do Tratado Sobre Forças Armadas Convencionais na Europa: Hungria, Polônia, Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Albânia, Eslováquia, Eslovênia, Croácia e Montenegro (todos, coincidentemente, ex-integrantes do Pacto de Varsóvia, apesar do acordo para cessar o expansionismo militar).
Países que aspiram ingresso na OTAN desde 2012: Bósnia, Herzegovina, Macedônia do Norte e Georgia.
Paises candidatos mais recentes (2021/2022) a ingressar na OTAN: Finlândia, Suécia e Ucrânia (todos situados na fronteira russa, fato gerador da reação belicosa da Rússia a partir de 24/02/2022).
A Ucrânia, que já é parceira da OTAN, chegou ao auge de incluir emenda na própria Constituição (em 2019), já no governo Zelensky, a obrigação governamental de filiar o país à OTAN e à União Europeia (o que acelerou a reação bélica da Rússia a partir de 24/02/2022).
Vê-se, no caso, uma tentativa de cerco e isolamento da Rússia, que considera essa expansão militar, via OTAN, como a continuação sub-reptícia da Guerra Fria - uma guerra unipolar desde 1991.
O PACTO DE VARSÓVIA
A Alemanha Ocidental ingressou na OTAN em 1955, o que precipitou o Pacto de Varsóvia (liderado pela Rússia), que demarcou os dois lados que se opunham ideológica e militarmente na Guerra Fria (início do Muro de Berlim, separando a Alemanha Ocidental da Alemanha Oriental).
O Pacto de Varsóvia (ou Tratado da Amizade, Cooperação e Ajuda Mútua do Leste) foi um acordo militar celebrado na capital da Polônia pelos países da Europa Oriental sob influência comunista (14.05.1955). O conjunto de países participantes formou um bloco denominado UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS (URSS). Defender-se-iam militarmente em comum. Atuariam, também em comum, nos programas de crescimento econômico e bem-estar social.
A queda do Muro de Berlim, em 1989, símbolo da Guerra Fria, sinalizou o colapso do Pacto de Varsóvia, liderado pelo principal adversário da OTAN. Para oficializar a grata possibilidade de paz, as duas partes - União Soviética e OTAN - decidiram assinar o TRATADO SOBRE FORÇAS ARMADAS CONVENCIONAIS NA EUROPA. O acordo previa a diminuição específica da capacidade e interferência militar em todo o Continente.
A União Soviética cumpriu o acordo.
A OTAN, desrespeitou o compromisso e continuou atuando no Atlântico Norte com maior intensidade, anexando aos seus quadros a grande parte dos países antes vinculados ao Pacto de Varsóvia.
A Rússia, evidentemente, se sentiu traída, o que, conforme já vimos, fez a OTAN acrescentar "novas missões" ao rol de suas atribuições, coincidentes com as já tradicionais missões da ONU.
GUERRA FRIA
Com o fim da Segunda Guerra Mundial (02/09/1945), os países da Europa Oriental formaram um bloco econômico, social e ideológico. Os países do Ocidente, principalmente os Estados Unidos, também formaram o seu bloco de aliados, visto que, no campo das ideias, divergiam dos seus antigos aliados na Segunda Guerra. Havia uma grande preocupação quanto à internacionalização da moeda norte-americana, tendo em mira um maior apoio à iniciativa privada. O lado oriental insistia em impor o desenvolvimento do capital social, claro, com a participação intensa do Estado. As divergências, as lutas de ambos para que seus ideais alcançassem o maior número possível de países, geraram conflitos que poderiam culminar numa Terceira Guerra Mundial. Ambos os lados se armaram e se tornaram grandes potências nucleares inimigas. Guerra iminente, embora implantada gradualmente desde 1947. Uma guerra vigiada e sem tiros, por isso denominada Guerra Fria.
A Guerra Fria propriamente dita, mais rigorosa e mais temida, se estendeu de 1955 até 1991 (coincidindo com o início e o desmantelamento do Pacto de Varsóvia).
A UNIÃO EUROPEIA
Conjunto de 27 países da Europa (Ocidental e Oriental), formado a partir de 1992 (Tratado de Maastricht), visando a integração econômica, política e cultural de seus membros. No acordo político-econômico, assinado por todos os países-membros, incluem-se: política externa comum; segurança comum (independentemente da OTAN) e utlização de instâncias judiciais supranacionais.
Objetivo principal: garantia de livre circulação de pessoas, mercadorias e serviços entre os países integrados.
Estratégia político-econômica: tornar-se um bloco forte que possa concorrer com as grandes potências econômicas do momento - de um lado a China, do outro lado os Estados Unidos.
Moeda comum utilizada: EURO, de grande aceitação e circulação no mundo financeiro.
Países pretendentes a ingressar na União Europeia (UE): Bósnia, Herzegovina, Montenegro, Kosovo, Macedônia do Norte, Albânia, Sérvia e Turquia.
A Ucrânia, apesar de, em 2019, o presidente Zelensky haver incluído emenda na Constituição obrigando seus mandatários a cuidarem da vinculação do país com a União Europeia e a OTAN, nada até o momento foi formalizado. Provavelmente, a filiação à OTAN seja o ponto nevrálgico da invasão russa, desde 24/02/2022.
Sob o ponto de vista econômico, a filiação à União Europeia traria grande benefício para a Ucrânia, Rússia e demais países da Europa Oriental. Seus mercados (desfeitos com o fim do Pacto de Varsóvia) se ampliariam.
Por outro lado, se acontecer uma vinculação com a OTAN, todo o território russo ficará vulnerável a ataques por mísseis norte-americanos em questão de segundos. Daí, a luta paralela da Rússia para anexar a Península da Crimeia, um corredor ainda sob relativo controle por parte da Ucrânia.
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RESUMO:
- a ONU foi criada no pós-Segunda Guerra Mundial com a missão de promover a paz entre as nações;
- o Plano Marshall foi implantado dois anos depois (em 1947) com o objetivo de reconstruir alguns países da Europa, destruídos pela Guerra;
- a OTAN nasceu em 1949 para dar suporte militar ao Plano Marshall e deter o avanço do comunismo na França e na Itália; objetivo não pacífico, avesso ao da ONU;
- o Plano Marshall foi encerrado em 1951 - a OTAN, não;
- a OTAN continuou armando os países europeus, incentivando-os a dar cabo aos ideais comunistas;
- para fazer face ao avanço da OTAN, os países comunistas, em 1955, uniram-se - política, econômica e militarmente - em comunhão e sob liderança da Rússia; a essa unificação deram o nome de Pacto de Varsóvia;
- para prevenir-se contra o Pacto de Varsóvia, a Alemanha (em 1955) decide entrar para a OTAN;
é erguido o Muro de Berlim, separando a Alemanha Ocidental da Alemanha Oriental, o símbolo visível da Guerra Fria;
- com a derrubada pacífica do Muro de Berlim, em 1989, intensificaram-se as relações diplomáticas visando a Paz no planeta;
- em 1991, finalmente, a União Soviética e a OTAN assinam um acordo de Paz: o Tratado Sobre Forças Armadas Convencionais na Europa; em consequência: os países que faziam a União Soviética se tornaram independentes (cessou o Pacto de Varsóvia); a OTAN pararia o seu avanço militar sobre os demais países do Atlântico Norte; cessou a bipolarização da Guerra Fria; o mundo respirou aliviado: enfim, a Paz;
- o governo russo cumpriu o acordo, mas a OTAN o desrespeitou e prosseguiu na sua jornada armamentista, dessa feita sobre os países que integravam o extinto Pacto de Varsóvia;
- restam poucos países, em torno da Rússia, a serem armados pela OTAN, entre eles: a Finlândia, Bielorrússia e Ucrânia, exatamente os que fazem fronteira com a Rússia;
- o governo russo reage porque sabe que, se a OTAN entrar em qualquer um desses três países, terá um corredor aberto para a penetração de seus mísseis contra a Rússia; isso porque a Guerra Fria, na verdade, não acabou, apenas tornou-se unipolar.
- Por fim: a participação dos Estados Unidos nas despesas militares da OTAN é de 79%, enquanto os demais países entram com apenas 21%, logo, o bom senso nos alerta que a expansão da OTAN significa o não muito distante domínio militar norte-americano nos quatro quadrantes do planeta.