O VELHO OESTE NO BRASIL

 

Se é mais uma coincidência significativa, não sei dizer. Mas na mesma noite em que os ministros do STF votaram a questão da prisão do réu condenado em 2ª instância, um dos canais Telecine, da Globo, estava passando um filme chamado Matar ou Morrer, um faroeste clássico, de Fred Zinnemann, de 1952, estrelado por Gary Cooper e Grace Kelly. É um filme emblemático. Mostra, de forma insofismável, como as pessoas são mal agradecidas, infiéis e contraditórias. O filme conta a estória do xerife de uma cidadezinha do Velho Oeste que prendeu um bandidaço que vivia infernizando a vida das pessoas. Mandou-o para a cadeia, pacificou a região, virou herói. Mas cinco anos depois sua pena foi comutada e ele voltou para se vingar de quem o prendeu E o povo que o idolatrava se virou contra ele, passando a torcer para o assassino.  O xerife não encontrou uma única alma para ajudá-lo e teve que travar a luta sozinho.

Igualzinho à festa do Lula quando saiu da cadeia. No filme, Frank Miller, o criminoso, tinha uma comissão de frente esperando-o na estação ferroviária, formada pelos velhos companheiros de bandidagem. Todos com gana de encher o xerife de chumbo e mandá-lo para os quintos dos infernos. E na cidade grande parte da população esperava ansiosa pelo desfecho do tiroteio que iria fatalmente acontecer. Como à multidão que festeja a liberdade do Lula.

Mal comparando, parece exatamente o que está acontecendo no Brasil. O Lula voltou, louco para se vingar de quem o mandou para a prisão. No caso, o xerife é o hoje candidato Sérgio Moro. É contra ele que o Antonio Conselheiro de Garanhuns e seus asseclas do PT estão apontando as armas, não para matá-lo, como no filme de Zinnemann, mas para desacreditá-lo e provar que ele tinha intenções mal confessadas ao mandá-lo para a prisão.

A única diferença entre o filme e o quadro atual é que o xerife, no caso, o Sérgio Moro, também já perdeu a sua aura e se tornou um anti-herói ao mostrar sua face arrogante, ambiciosa e ávida por um holofote. Candidatando-se de cara à presidência, sem um mínimo de experiência política e administrativa, ele simplesmente jogou no lixo a sua biografia e deu aos petistas que o acusavam de parcialidade todas as armas que eles precisavam para fazer do Lula um injustiçado.

Resta saber se o povo deste país vai se comportar como os cidadãos da cidadezinha do Velho Oeste, que torceram abertamente para o bandido. As pesquisas estão indicando que sim. Se isso de fato acontecer então teremos que concordar com Gabriel Garcia Marques, quando diz que a nossa América Latina é, de fato, um continente surreal. De qualquer modo, a traição já começou com o STF, que deu o primeiro tiro a favor da impunidade, acabando com a Lava a Jato e libertando o Lula.

Fora o Moro, que deixou sua aura de mocinho para se tornar um personagem do filme Os Imperdoáveis, onde todos são bandidos, o resto parece tudo igual. É a realidade que serve de inspiração para a fantasia ou é a fantasia que dá o estofo para a realidade?