VENDO MEU VOTO

Lá pelos anos 60 do século XX, comecei a tomar pé na palavra voto quando da eleição de Jânio Quadros, para presidente da República. Estava eu nos meus 6 anos de idade, vivendo esse rebuliço político na minha pequenina Correntina; onde a empolgação e a expectativa nos embalavam em toda cidade. A cada divulgação de boletins da eleição, disputada por Jânio versus Lott, a emoção ia crescendo e eu anotava numa parede os resultados ouvidos. Ao final da apuração deu-se a vitória de Jânio Quadros com uma boa margem. Assim eu comecei a engatinhar no acompanhamento político; tendo Jânio Quadros, o JQ da vassourinha (que era para varrer a corrupção no país) assumido o governo em 31/01/1961 e renunciado em 25/08/1961 movido pelas "forças ocultas" como ele assim justificou. Em seu lugar assumiu o João Goulart, vice-presidente eleito em votação separada para esse cargo, na mesma época da eleição do presidente JQ. Mas eu fiquei com a palavra voto incrustada em minha mente; e sempre dizendo que um dia eu iria votar. Realmente isso aconteceu a partir dos meus 18 anos, quando tirei meu 1º Título de Eleitor, com foto 3x4, para poder votar com voto impresso. Aí eu já era um cidadão reconhecido como tal, pois já participava de eleições. Nesse período do voto impresso o que mais se ouvia e havia eram os casos de roubos de votos na urna, quando não, os roubos das próprias urnas; às vezes violadas com votos adulterados. E fui dando meus votos a cada eleição, quando elas eram permitidas; nem sempre ganhando e nem sempre perdendo com os meus candidatos. Eis que nos anos 90 chegou a urna eletrônica, mais condizente com os novos tempos e o avanço da tecnologia que vivíamos em nosso país e no mundo. Aí eu já tinha adquirido uma certa formação que me dava maior consciência do valor do meu voto bem como do poder que cada cidadão tem ao votar. Voltando aos anos 60, recordo-me da figura do caminhão FNM ( Fábrica Nacional de Motores) que era o primeiro veículo daquele porte, de fabricação nacional. O nosso FNM tinha o que chamávamos de cara chata; um imenso motor à frente e que nos proporcionava um barulho imenso; sua lataria era em aço e seu desempenho nas estradas não era bom. Dirigir um FNM era uma árdua tarefa para um motorista que também era chamado de chofer; o qual teria que ter uma boa experiência, atenção, responsabilidade e ser conhecedor da causa. Já nessa era do voto eletrônico, pude trabalhar para a Justiça Eleitoral em diversas eleições que até perdi a conta. Isso me possibilitou conhecer melhor o funcionamento de uma eleição; verificando a segurança bem maior do que tínhamos na era do voto impresso. O sistema de votação atual em nosso país só não impede que candidatos despreparados, falsos patriotas, messiânicos, irresponsáveis e de baixa moral sejam eleitos.

Mas nada disso me desanima em continuar votando a cada eleição em que sou obrigado; pois sei do valor cívico que o meu voto tem. Mesmo votando e os meus candidatos tendo perdido algumas eleições, sinto-me realizado e com a consciência tranquila pois faz parte da democracia, ganhar ou perder. Os políticos passam mas a dignidade não.

E assim eu estou VENDO* o meu voto que só quer dignidade, saúde, paz e bem estar à nossa Nação; mesmo que os políticos eleitos para promover isso assim não queiram.

Enquanto isso, vejo o nosso velho FNM sendo dirigido por um chofer sem habilitação, embriagado no saudosismo autoritário; tentando engatar marchas erradas ("arranhando"); dando carona aos amigos do momento; ora batendo em rochas; e noutras atolando o nosso FNM nas velhas estradas não pavimentadas de verdades.

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(*) A palavra VENDO no conteúdo deste texto, diz respeito tão somente ao verbo ver, no gerúndio.

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Salvador-BA, 18-02-2022.

Alorof.

Alorof
Enviado por Alorof em 18/02/2022
Reeditado em 14/03/2022
Código do texto: T7455202
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