O problema estratégico das "vacas sagradas"

Mulheres, em média, têm sido oprimidas por homens durante séculos. Mas isso não significa que todas as mulheres são boazinhas ou que são sempre as vítimas. O mesmo vale para outros grupos historicamente oprimidos e que continuam a sofrer discriminação: negros, LGBTs,  judeus... Sim, é muito importante nunca esquecer o histórico de injustiças que humanos têm cometido contra outros humanos (e também contra seres vivos de outras espécies). No entanto, isso não significa que devemos santificar os grupos mais oprimidos ou demonizar os mais opressores (isso também depende do grupo que estivermos falando), até por ser um tópico mais complexo do que aparenta. Por exemplo, se é verdade que mulheres, em média, têm sido oprimidas por homens, também é verdade que homens têm sido oprimido por outros homens e inclusive por mulheres, quer seja por sua orientação sexual, raça, religião, situação política ou socioeconômica. Só que as esquerdas, especialmente a liberal, não têm dado ouvidos ao bom senso, pra variar, criando "vacas sagradas" ou grupos superprotegidos,  querendo impor que, por causa de seus históricos e cotidianos de opressão e discriminação, estão isentos de qualquer crítica. Mas, mesmo em termos coletivos, nenhum grupo é moralmente perfeito e, portanto, incriticável.

Aceitar que homens também são oprimidos por outros homens e por mulheres (mesmo que isso seja menos comum) não impede que continuemos a ressaltar e combater o problema da misoginia, de sua história e na atualidade. Uma coisa não cancela a outra, não são dicotomias...

Propor o livre diálogo e, evitando santificar grupos historicamente oprimidos, é bom para os próprios grupos porque, ao super protegê-los, até por ser injusto ou inverídico, têm causado mais polarização e animosidade do que compreensão e simpatia às suas causas. Em outras palavras, censurar qualquer crítica, inclusive as que são educadas, ponderadas, precisas e necessárias sobre esses grupos, fomenta a ideia de que têm mais privilégios que outros grupos e até acaba incitando mais preconceito contra eles, sem falar que abre espaço para que a extrema direita faça contrapontos a esses excessos, se passe como mais sensata e ganhe mais apoiadores.