Xadrez político em 2022: promova mais Cavalos que Damas
Embora diversas pesquisas de intensão de votos apontem para uma esperança civilizatória nas eleições de 2022, a realização da projeção necessita de tantos desenlaces que a expectativa vai caindo a cada nova condição. O bolsonarismo tem que continuar derretendo, as esquerdas devem se engajar na internet, Lula não deve ser preso de novo, alianças devem ser feitas com prepostos da direita para garantir a governabilidade etc.
O presidenciável Lula faz um arrastado acordo com Geraldo Alckmin (PSDB), algo que pode abrir às portas da governadoria de São Paulo para Fernando Haddad. Isso pode ser ruim para Guilherme Boulos (Psol), que apesar de ser o político de esquerda com melhor engajamento em redes sociais, conta com a inexperiência em cargos eletivos. O tabuleiro vai se reordenando progressivamente em benefício de petistas e aliados.
Mas nem só da Presidência da República vive a política nacional. São 513 deputados federais e 81 senadores, numa salada partidária de 33 legendas (TSE, 2021). Levando em conta as bancadas de direita e de esquerda, temos um congresso centro-liberal até à extrema-direita.
À destra da democracia corresponde a 79,92% de deputados, contra apenas 20,08% de deputados de esquerda ou centro-esquerda (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2021). Levando em conta a representação do Senado por partido, temos 86,41% de centro-liberais até extrema-direita, e 13,58% de centro-esquerda e esquerda (SENADO, 2021).
Nesse jogo democrático, a esquerda insiste na mesma estratégia errática: promover a Dama e esquecer das outras peças. Uma Dama desprotegida não sobrevive a partida. Gastar 50% do fundo para eleger um presidente de esquerda e ter uma maioria congressista opositora não me parece o cenário mais vantajoso.
Mas novas peças vêm se mobilizando no tabuleiro. A fusão entre DEM e PSL parece ser uma última saída para abafar o Poder Executivo em 2022, prevendo o derretimento do bolsonarismo e a vitória de Lula. O novo partido se chamará União Brasil (nº 44), o que dará uma bancada de 82 deputados, cerca de 15,98% da Câmara dos Deputados, e 9,87% do Senado — se tornando a quarta maior bancada —, contando com um trunfo: a Presidência do Senado (G1, 2021).
A “Terceira Via” parece ser a estrada que o Brasil não quer tomar. São tantos presidenciáveis aleatórios que é mais fácil Cabo Daciolo (Brasil 35) abocanhar os votos dos bolsonaristas arrependidos e os antipetistas no próximo pleito do que o ex-superministro da Justiça Sérgio Moro e “pseudogamer” de rodoviária (Podemos).
Personas non gratas e desconhecidas do grande público se aventuram em desordenado desespero. Os exemplos de alpinismo político não faltam, principalmente aqueles que ganharam quinze minutos de fama após a CPI da COVID-19 como a “ingênua!?” Simone Tebet (MDB) e o bolsonarista arrependido Alessandro Vieira (Cidadania).
O “Centrão” se tornou uma fábrica de candidatos à Presidência da República, tão atrativos quanto um picolé de chuchu. Indivíduos estofados com muito ar e com muitas platitudes à boca. Mas ao menos temos mais memes para usar nas redes sociais — tinha que ter ao menos um lado bom.
Ciro Gomes (PDT), é o peão envenenado do tabuleiro, peça que nem os jogadores a direita e a esquerda querem. Historicamente odiado pela direita devido as suas críticas ácidas e políticas públicas macroeconômicas, ele inova em 2021 e 2022 e se torna rejeitado dentro da própria esquerda, diminuindo o seu já minguado eleitorado. Ciro Gomes é o Enéas invertido: com discurso de ódio à esquerda, tem cabelo e não usa barba.
Apesar do Plano Nacional de Desenvolvimento cirista, a política real tem se mostrado diferente das partidas do Ciro Games. Se o candidato continuar a alimentar o seu ostracismo político, logo entrará num game over. Uma possível aliança com Marina Silva (REDE) poderia melhorar a projeção eleitoral de Ciro Gomes, mas esse casamento político necessitaria de um divórcio prévio entre o pedetista e o marqueteiro João Santana.
Tem muita partida ainda a ser jogada até o segundo semestre de 2022. A corrida da esquerda é sempre à Presidência, enquanto isso o Brasil Paralelo vai às favelas ensinar que a terra é plana e cigarros curam câncer de pulmão. Estratégias políticas fracassadas continuam em vigor, divisão e autofagia esquerdista marcam a década. Enquanto isso, a Senhora Democracia adormece, ela está com sono, talvez tenha desmaiado com tantas ameaças a sua pessoa.
REFERÊNCIAS
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Bancada atual. Disponível em: https://www.camara.leg.br/deputados/bancada-atual, Acesso em 16 out. 2021, às 10:50 horas.
HANNA, Wellington. DEM e PSL aprovam fusão; novo partido se chamará União Brasil. G1política. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/10/06/dem-aprova-por-aclamacao-fusao-com-psl-novo-partido-se-chamara-uniao-brasil.ghtml, Acesso em 16 out. 2021, às 11:19 horas.
SENADO. Senadores em exercícios: 56ª Legislatura (2019-2023): por partido. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/senadores/em-exercicio/-/e/por-partido, Acesso em 16 out. 2021, às 11:02 horas.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Partidos políticos registrados no TSE. Disponível em: https://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/registrados-no-tse, Acesso em 16 out. 2021, às 11:05 horas.