A MODELAGEM DO FRACASSO

 

Ralph Waldo Emerson, famoso ensaísta americano, disse que todos nós trazemos à superfície fatos importantes da história em nossa experiência particular, e realmente, podemos comprová-lo. Com isso ele conclui que inexiste história, mas apenas biografia.

Em cima desse pressuposto, Bandler e Grinder, dois professores americanos que desenvolveram a técnica da PNL, criaram a chamada modelagem do sucesso, que consiste numa espécie de pedagogia para ensinar qualquer um a descobrir o que faz certas pessoas serem bem-sucedidas em tudo que empreendem.

Assim, modelar é aprender a duplicar as estratégias neurológicas que elas usam para obter sucesso na vida e repeti-las, de acordo com as nossas necessidades, o nosso contexto e os recursos que temos.

Acho que foi esse último parágrafo que o ex -magistrado Sérgio Moro e o presidente Bolsonaro não entenderam, e ao praticar a modelagem dos seus ídolos, se deram mal.

Bolsonaro, como se sabe, tentou modelar Donald Trump. Procurou copiá-lo até em seus comportamentos mais mesquinhos e odiosos. Não se deu conta de que o Brasil não é os Estados Unidos e que o ambiente por aqui é muito diferente do de lá. A começar pelo ordenamento jurídico, que está longe de qualquer semelhança com os dos americanos. Já fizemos  sete constituições e ele apenas uma. A nossa atual tem 250 artigos e mais de cem emendas e a deles cinco artigos e vinte e sete emendas.

Bolsonaro bota a culpa nos dois outros poderes da República pelo fracasso do seu governo. Diz que eles não o deixam governar. Esquece de dizer, ou não se deu conta ainda (apesar de militar no Congresso por mais de 20 anos) de que em 1988 nós fizemos uma constituição revanchista e garantista, justamente para evitar que novas aventuras golpistas, como a de 1964, fossem tentadas. E como era exatamente isso que ele tinha em mente quando se elegeu, fica possesso toda vez que o Congresso, ou o Supremo, barra alguma das suas pretensões.

Não são os demais poderes que não deixam Bolsonaro governar. São as leis do país que não deixa ele fazer o que quer. Ainda bem. Se deixassem, o Brasil estaria muito pior do que já está.

Já Sérgio Moro queria ser como Falconi, o juiz que dirigiu a Operação Mãos Limpas na Itália, botando na cadeia um sem-número de mafiosos, alguns deles cidadãos muito importantes.

Não sei o que deu mal na modelagem que ele fez, mas o fato é que ele também falhou rotundamente. Não obteve o resultado pretendido nem virou o herói nacional que pretendia ser.

Vale lembrar que nenhum dos dois modelos acima citados também se deram bem em suas estratégias. Trump perdeu a eleição e pode acabar na cadeia pelo papelão que seus apoiadores fizeram invadindo o Capitólio. Já o juiz Falconi foi assassinado pelos próprios mafiosos que mandou prender e o Supremo de lá logo soltou. Igualzinho ao que aconteceu aqui.

Como dizem Bandler e Grinder, a arte da modelagem pode abrir amplos caminhos para o sucesso. Mas é preciso ter muito cuidado com a escolha do modelo e principalmente com as condições da modelagem. Não desejamos aos nossos dois candidatos a mesma sorte dos seus modelos, mas seria bom que eles, e principalmente seus simpatizantes, estudassem melhor o assunto para não ficar cometendo tantos erros nesse processo. Por que, no fim, somos nós que pagamos por isso.