Rumo ao desastre
Rumo ao desastre
Publicado no jornal Zero Hora de 8/12/21
Uma tragédia humana está sendo construída.
Os empregos estão desaparecendo. A repartição da riqueza está ampliando a distância entre ricos e pobres. O aquecimento da atmosfera coloca a humanidade em risco de sobrevivência. O Estado Democrático de Direito é questionado na sua capacidade de promover o Bem Comum. Está diminuindo o nível de formação intelectual – não se formam mais cidadãos e sim agentes para o sistema produtivo.
Esses cinco fatos alertam para a urgência da reestruturação política das sociedades e estilos de vida, que deverão ser austeros e solidários, atendendo as necessidades básicas de todos.
É certo que os políticos, ao longo do último século, desiludiram as populações quanto a importância da política. Sem participação, consciente, da maioria, nada poderá ser feito democraticamente.
Foi criado uma estrutura sócio-política-econômica, interdependente, que gerou um mundo desenvolvido para uma minoria, a classe dominante que decide e opera a política e a economia, relegando a maioria à pobreza e à marginalidade.
O desenvolvimento da informática, da robótica, da inteligência artificial e dos grandes bancos de dados, elimina muitos postos de trabalho, desempregando milhões de pessoas, em todo o mundo. Somente as pessoas qualificadas encontrarão empregos no futuro.
A pregação cristã, alicerce da Civilização Ocidental, quase desapareceu como orientação ética para o comportamento coletivo, dando lugar ao individualismo egoísta.
São crenças morais que movem a história. Precisam ser redescobertas e voltarem a fazer parte da maneira de pensar e agir dos povos. Esta verdade é considerada, pelos atuais donos do poder, como uma proposta ingênua e sem sentido.
Os problemas apontados não serão resolvidos só com a aplicação correta de técnicas econômicas. Caso não haja, preliminarmente, uma democrática reorganização política, num ambiente social com alta densidade ética, que provoque mudanças estruturais nas sociedades - a austeridade no consumo, a perspectiva da solidariedade e da justiça nas relações sociais - o futuro será sombrio, com fome, miséria, confrontações e mortes.
Eurico de Andrade Neves Borba, 81, aposentado, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul. eanbrs@uol.com.br