A VERDADE DA POLÍTICA

 

“La pax vaut mieux que la verité” (a paz é preferível à verdade,é uma frase citada por Schopenhauer em um dos seus ensaios. Essa afirmação, em princípio, pode parecer chocante para quem acha que a verdade é um daqueles arquétipos que Platão classifica como uma virtude universal, abstrata e imutável, que vigora independente do homem acreditar na sua existência ou não.

Schopenhaeur era filósofo e todo filósofo, se realmente o for, sabe que a verdade é uma das gemas mais preciosas e raras que a mineralogia do espírito humano pode produzir. Ela é como o diamante mais precioso, de raro quilate, que só incidentalmente se encontra na natureza. E todos sabemos que o diamante, antes de tornar-se uma pedra preciosa, não passa  de um pedaço de carvão que é submetido a uma intensa pressão no interior da terra.  

Platão dizia que a verdade é “um conceito universal”, ou seja, um ser ontológico abstrato, imutável e absoluto.  Ele, como a grande maioria dos filósofos, acreditava que ela era algo que podia ser encontrado nas pessoas e na natureza. Por isso o filósofo era aquele que praticava a filosofia, que literalmente quer dizer “procura da verdade”.

Foi Nicolau Maquiavel que introduziu a relatividade da verdade na política quando afirmou que “governar é fazer-se acreditar”. Com isso, pelo menos nessa seara, ele a transformou numa nuvem que assume o contorno que os ventos da necessidade eleitoreira lhe dão. Ela tornou-se uma “gestalt”, ou seja, uma imagem que assume o contorno que a nossa mente quer que ela tenha. Principalmente a verdade do político, que está sempre sob pressão, embora dicilmente se torne um diamante.

Mas se a verdade, em política, é coisa difusa e relativa, mutante e abstrata, a paz, por sua vez, é concreta, palpável, real, mensurável e sensível. Todo mundo percebe quando ela está presente, pois aqueles que antes brigavam nos palanques, nas ruas e canais midiáticos, passam a dar tapinhas nas costas e amplos sorrisos uns para os outros, como se tivessem sido amigos desde sempre.

Imagino que seja essa descoberta que levou Bolsonaro a renegar as antigas crenças que demonizavam a “velha política” e os políticos que a praticavam. Ao filiar-se ao PL, o partido mais representativo da estrutura que ele tanto criticou e jurou demolir, ele preferiu a paz das alianças, ainda que espúrias, à verdade que pensava possuir.

A mesma coisa está fazendo o Lula com esse namoro com Geraldo Alckmin. Nada mais diferente do que as verdades que os dois defendiam até agora. Nesse sentido, mais que concordar com Schopenhauer, ambos estão dando razão à Maquiavel. Danem-se Sócrates, Platão, Aristóteles e todos os demais filósofos que procuraram incutir no espírito humano o amor pela verdade. Em política, ela se traduz pelo número de votos. O resto, como diz o irascível filósofo alemão, é puro bigotismo.    

(O Diário de Mogi- 8-12-2012)

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 06/12/2021
Reeditado em 08/12/2021
Código do texto: T7401283
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