AUXÍLIO EMERGENCIAL E DESIGUALDADE

Dados divulgados em 19/11/21 pelo IBGE mostram que em 2020 o Auxílio Emergencial reduziu a desigualdade no Brasil, propiciando até melhora no Índice de Gini, que mede a desigualdade no mundo. Essa é a boa notícia. A má é que mesmo essa melhora não mudou em nada a distribuição de renda no país e a vida dos brasileiros. Ninguém deixou de ser pobre, de classe média ou de ser rico por isso. É um fato importantíssimo, que merece muita reflexão.

 

O Auxílio Emergencial de 2020 foi a maior iniciativa de distribuição de renda da história do país. Por quase um ano, uma parte da população que começou com 30 e chegou a mais de 90 milhões de pessoas receberam de R$ 600 a R$ 1.200 por mês, com um gasto público de mais de R$ 230 bilhões. São valores mais de quatro vezes superiores aos pagos pelo extinto Bolsa Família e ao que poderá ser o Auxílio Brasil, e pagos a quatro vezes mais pessoas do que estes programas jamais atingiram ou atingirão. Ou seja, mais dinheiro para muito mais gente do que nunca houve.

 

Fui totalmente favorável ao Auxílio Emergencial, foi a coisa certa a fazer. Não fosse ele, muito mais gente teria morrido de COVID e passado necessidades no período de maior desemprego da nossa história. No entanto, a grande lição é que mesmo com este valor inédito e enorme para nossos padrões os brasileiros não saíram do lugar em que estavam na sociedade. Não quer dizer que nada mudou, é muito importante que 90 milhões de pessoas tenham podido ao menos comer melhor neste período, foi diferença de vida e morte.

 

Porém, mostra que para o Brasil mudar de patamar e deixar de ser um país de 80% de pobres é preciso muito mais do que programas de auxílio aos mais necessitados. É preciso por mais gente na classe média, entendendo esta como a camada da população que tem renda para viver sem depender do governo. São as famílias que ganham acima de R$ 5.000 por mês do salário mínimo do DIEESE, que dá R$ 1.250 por pessoa.

 

É preciso entender o que é média, que é dividir o total de algo pelo número de pessoas. Por exemplo, consumo de frango de duas pessoas. Se uma pessoa come dois frangos, e uma não come nenhum, na média cada um comeu um frango, parece ótimo. Mas na vida real, um ficou obeso e outro passou fome. Assim é com a renda dos brasileiros, que na média é de R$ 2.213. O problema é que enquanto uma pessoa na parte mais rica em média ganha R$ 15.816 por mês, que pode ser um bebê que não recebe ou gasta nada, na mais pobre uma pessoa ganha em média $ 453, que pode ser um chefe de família com 5 filhos. Um nasceu em berço de ouro, outro é miserável.

 

No ano que vem, teremos eleições. Bolsonaro vai tentar defender que pagou o Auxílio Emergencial e criou um Auxílio Brasil com valores maiores do que os de Lula, que dirá que trará o Bolsa Família de volta, melhor do que nunca antes na história do Brasil, e com certeza outros candidatos vão criar algo parecido. Vários governadores e prefeitos já criaram auxílios emergenciais para chamar de seus e isso é bom, dá votos e ajuda as pessoas a viverem.

 

Agora, se você quer viver num país melhor do que hoje, isso não basta. São precisas políticas para aumentar os níveis de emprego e acima de tudo a renda dos que trabalham para que atinjam valores que permitam viver sem depender do governo. Para ter dinheiro para isso, é preciso limitar gastos públicos ultrajantes como servidores recebendo mais do que o teto já escandaloso de R$ 39.000. Sem isso, vamos viver por mais quatro anos no mesmo país pobre de sempre, seja quem for o eleito.

 

Textos Inspiradores

Concentração cai, mas 1% mais rico ganha 35 vezes renda dos 50% mais pobres – UOL 19/11/21

Percentual de brasileiros com renda do trabalho cai ao menor nível em quase 10 anos – Folha de SP 19/11/21

Mais do que um economista, Lula, Moro ou “x” precisam mostrar um plano já Vinicius Torres Freire – Folha de Sp 18/11/21

 

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 19/11/2021
Reeditado em 21/11/2021
Código do texto: T7389402
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