DE QUAL PAÍS PAULO GUEDES ESTÁ FALANDO?
Paulo Guedes não era político profissional até ser chamado por Bolsonaro para comandar a economia brasileira. Desde então ele acrescentou à sua reconhecida sabedoria na área da economia esse importante conhecimento da lógica dialética, que Aristóteles chamou de erística, ou seja, a arte de construir discursos nos quais os argumentos que os sustentam parecem verdadeiros, mas os fatos, quando submetidos ao crivo das provas, não confirmam.
Exemplo disso foi o seu discurso em Dubai. Contrariando dados e projeções do mercado financeiro e de entidades como o FMI, Paulo Guedes afirmou que o Brasil cresce "acima da média mundial". "O Brasil foi uma das economias que menos caíram, voltaram a crescer mais rápido, criaram mais empregos, e estamos crescendo, também, acima da média mundial", disse ele.
Mas, na verdade, o PIB brasileiro caiu 4,1% em 2020, a pior queda em 24 anos. Essa queda foi menor do que a do México (-8,3%), da Índia (-6,8%), Colômbia (-6,8%), mas superou a de outros países, como Estados Unidos (-3,5%), Coreia do Sul (-1%) e várias outras nações emergentes que passaram pelas mesmas dificuldades que o Brasil durante a pandemia. Além de veicular informações falsas, ele omitiu o fato de que com a aceleração da inflação, que já passa de 10% em 12 meses, o aumento dos juros, os números altos de desemprego (13,2%) e o temor de descontrole das contas públicas, (com o governo patrocinando projetos que dão calote em dívidas e furam o teto de gastos) o panorama político e econômico do país piorou muito e as previsões para 2022 são ainda mais preocupantes.
No seu discurso, Guedes afirmou ainda que o Brasil "está crescendo 5,5% este ano". A previsão de economistas ouvidos pelo Banco Central é a de que a economia brasileira cresça 4,93% em 2021, abaixo da estimativa para o crescimento global, de 5,9%, e para a América Latina e o Caribe, de 6,3%. Eles estimam também um pífio aumento de apenas 1,5% no PIB do Brasil para o ano que vem, muito abaixo da previsão para o resto do mundo, calculado em 4,9%. Isso sem falar das estimativas mais pessimistas de alguns bancos, que temem até que o Brasil entre em recessão, com encolhimento de 0,5% no PIB. E quanto às reformas anunciadas com grande alarde por Guedes, a única que o governo conseguiu emplacar, até agora, foi a da Previdência.
De que país Guedes estava falando só ele sabe. Do Brasil é que não era. Quem sabe ele estivesse pensando no paraíso fiscal onde ele guarda o seu dinheiro. Lá, com certeza, a pobreza, o desemprego, a inflação, a doença e a desesperança que se vê no rosto das pessoas que vão ao supermercado e descobrem que o dinheiro que eles têm hoje não dá para comprar o que compravam na semana passada, nunca chagarão. Mas a dialética erística existe para isso.Quem quiser acreditar, que acredite.