A necessidade de um mínimo de confiança
A necessidade de um mínimo de confiança
Publicado no jornal Zero Hora de 16/11/21
Não há como organizar e fazer funcionar uma sociedade ou uma escola de samba, sem que haja um mínimo de confiança nos seus dirigentes e líderes. Não é possível prever, em Leis, todas as transgressões humanas.
O pensamento crítico, que deveria ser ensinado e incentivado nas famílias e escolas, quase não existe. Coletivamente exercido poderia bloquear as iniciativas dos mentirosos e incompetentes.
Pessoas honradas e competentes precisam ser eleitas, ouvidas e respeitadas - elas existem e são milhões. O sistema político partidário atual, podre, não permite que esses cidadãos e cidadãs apareçam.
Para aparecer precisam de oportunidades e confiança no que analisam e propõe. É o caso dos cientistas que alertam sobre o enfrentamento do Covid 19 e também sobre os malefícios do aquecimento da atmosfera. Outro aviso dramático é que não vai haver emprego para todos. O extraordinário progresso da tecnologia está substituindo pessoas por robôs, inteligência artificial, big data e toda uma série de aplicativos acessados, inclusive, pelos celulares.
Essas ameaças concretas não estão sendo repassadas para o povo, de tal forma que alternativas, para os malefícios do progresso, possam ser debatidas antes das catástrofes assinaladas acontecerem.
Poucos políticos têm competência intelectual, coragem e honestidade de apontar as mais justas opções para a vida em sociedade, que serão, necessariamente, mais austeras no consumo de bens e serviços e com menor desnível de renda entre as pessoas. Não há mais tempo para discussões sobre o óbvio, que há décadas estão sendo apontados. É preciso agir já: milhões de pessoas estão sofrendo na miséria.
As questões ambiental, do desemprego e da desigualdade de renda não serão resolvidas só com a aplicação correta de técnicas econômicas. Por mais que os políticos insistam em desconhecer, vai ser a adesão majoritária do povo à proposta política inicial da solidariedade social, que presidirá a reconstrução das sociedades democráticas, encaminhando-as para novas possibilidades de justa convivência.
Eurico de Andrade Neves Borba, 81, aposentado, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Caxias do Sul. eanbrs@uol.com.br