TEMPOS LÍQUIDOS! EQUILÍBRIO DISTANTE.
TEMPOS LÍQUIDOS! EQUILÍBRIO DISTANTE.
VALÉRIA GUERRA REITER
Monges contemplativos, filhos e filhas de São Bruno e, como ele, os solitários, desde há nove séculos, procuram ser fiéis ao chamado que receberam de Deus. Com simplicidade tentam dizer quem são a favor de todos aqueles que estão atraídos por esta vida separada do mundo. No Brasil, na cidade de Ivorá, no Rio Grande do Sul, fundada há 33 anos, e que abriga um mosteiro cartuxo, onde a melhor comunicação, ocorre através do olhar. Fizeram realmente o voto do silêncio.
Será que ser um lobo solitário à lá cartuxa poderá ser a melhor saída, em tempos líquidos, tempos em que o Mercado se superou em sua prática secular de fazer seus usurpados de lenço de papel, que após o uso são jogados fora?
Vide tantos casos de artistas, que cumprem agendas agitadíssimas, por terem uma contrapartida mercadológica que lhes oportuniza (em tempo recorde) de se tornarem milionários de maneira nada paulatina. Os novos e líquidos talentosos, vamos dizer assim, não esperam muito pelo sucesso; sucesso que voa no rabo do cometa, e por isso, vemos aviões caindo, pessoas caindo de prédios, ou sofrendo acidentes nas estradas.
A estrada do sucesso na contemporaneidade se tornou voraz, e vai na contramão do naturalismo e do humanismo, que durante décadas passadas descobria talentos, à guisa do ator Alain Delon, que ao servir à mesa, de um produtor teatral, na função de garçom, recebeu o convite para um teste. O homem tinha a premonição, o feeling para detecção, e realmente, não foi só a beleza que pôs à mesa, em sua vertente plástica. Delon é excelente ator.
Militando na área cênica, entre oficinas teatrais transversas na área educacional, já vi alunos proficientes, assim como o personagem Neil de Sociedade dos Poetas Mortos: filme/símbolo que fora protagonizado e eternizado como emblema pelo saudoso Robin Williams. Há Neil (s) Perry, por aí a fora, submersos nas periferias do medo. Há Neil ( s) tolhidos por pais, que acham que a arte cênica, não é uma profissão digna. Onde está o senhor equilíbrio? E a resposta ressurge: Distante. “A balança igual” está “muito diferente”.
A reflexão (sobre a intempérie “tempo líquido”) confeccionada pelo filósofo Zigmunt Bauman se faz mister no fragmento a seguir: “Em primeiro lugar, a passagem da fase “sólida” da modernidade para a “líquida” – ou seja, para uma condição em que as organizações sociais (estruturas que limitam as escolhas individuais, instituições que asseguram a repetição de rotinas, padrões de comportamento aceitável) não podem mais manter sua forma por muito tempo (nem se espera que o façam), pois se decompõem e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-las e, uma vez reorganizadas, para que se estabeleçam. É pouco provável que essas formas, quer já presentes ou apenas vislumbradas, tenham tempo suficiente para se estabelecer, e elas não podem servir como arcabouços de referência para as ações humanas, assim como para as estratégias existenciais a longo prazo, em razão de sua expectativa de vida curta: com efeito, uma expectativa mais curta que o tempo que leva para desenvolver uma estratégia coesa e consistente, e ainda mais curta que o necessário para a realização de um “projeto de vida” individual”.
Basta dizer, meu digníssimo leitor que no ciclo jornalístico, nestes tempos fluídicos, a notícia, pode ser classificada como “antiga” a cada quatro horas. E agora, lhes pergunto, o que fazer para lidar com a alta rotatividade do tempo, que nenhuma culpa possui e sofre com o impacto residual e exclusivista que o capitalismo selvagem lhe impõe, dentro da medievalidade de uma fase histórica recheada de tecnologia arbitrária, e cada vez mais disruptiva quanto ao valor ético, contemplativo, intelectual e estrategista; dantes tão valorado?
#VALREITERJORNALISMOHISTÓRICO