Vamos abrir os olhos
Neste domingo, no dia 31 de outubro de 2021, em entrevista à TV italiana, o presidente Jair Messias Bolsonaro, mais uma vez, deu provas de sua insensatez e irresponsabilidade associando o ex-presidente Lula (sem nenhuma prova) ao narcotráfico, dizendo que a carreira política de Lula começou com as Farc colombianas. Bolsonaro ainda salientou que Lula o chama de genocida porque não passa de um oportunista. O que podemos dizer da fala de Bolsonaro, que faz uma declaração tão grave contra outra pessoa, atacando sua honra? Ao tentar fazer o leitor refletir, é preciso deixar claro que não se trata de ser esquerdista, petista nem de tentar endeusar Lula. Trata-se de mais uma tentativa de mostrar a quem ainda defende Bolsonaro quem ele realmente é.
Ao dizer que Lula é ligado ao narcotráfico, Bolsonaro está chamando Lula de criminoso. Se Lula tem ou já teve ligações com alguma organização criminosa, isso não se sabe. O que se sabe é que atribuir a alguém um fato criminoso é calúnia, um crime contra a honra. Nenhuma pessoa pode dizer que outra cometeu um crime sendo isto mentira ou não havendo provas. Infelizmente, quem insiste em defender Bolsonaro parece se recusar a verdade: que ele é alguém que atropela a ética na defesa dos seus interesses e quando tenta atacar os adversários. E ninguém precisa ser da esquerda para notar os muitos defeitos de Bolsonaro, que comprovam sua completa incapacidade para qualquer cargo eletivo. Mas o que dizer de alguém que, ao votar pelo impeachment de Dilma, elogiou o torturador Ustra? Quando elogiou Ustra, Bolsonaro cometeu o crime de apologia da tortura, previsto no Código Penal, art.287, e vale lembrar que a tortura é um crime hediondo.
Ao se escrever contra Bolsonaro, corre-se não apenas o risco de desagradar as pessoas que votaram nele e continuam a aclamá-lo. Corre-se também o risco de ficar repetitivo. Mas este é um risco necessário. Bolsonaro sempre mostrou sua incapacidade, grosseria e insensibilidade. Nunca foi segredo que ele jamais hesitou em desrespeitar adversários políticos, sempre foi pródigo em dar declarações preconceituosas que mostravam um ponto de vista limitado, uma mente retrógrada e falta de capacidade diplomática e que nunca hesitou em demonstrar preconceito contra homossexuais, negros e índios. Lamentavelmente, entre os que o defendem, há quem afirme que ele pode ser casca grossa, mas é honesto. Certo, o bom senso nos diz que é preferível uma pessoa grosseira mas de bom caráter a uma educada e de péssima índole. Mas desde quando Bolsonaro mostrou ter bom caráter?
Vamos ressaltar (mais uma vez), o quanto ele mostrou ser capaz de mudar de discurso quando isto lhe foi conveniente. Ele afirmou que teve uma filha mulher ao fraquejar. Mas, quando fez campanha para presidente, fez questão de aparecer abraçado à filha. E o que dizer da forma irresponsável que ele se portou quando a pandemia de covid estava no pico? Ele mostrou total indiferença e inabilidade para lidar com o problema. Não quis ouvir os ministros da Saúde, entrou em desentendimento com o então ministro da Justiça – Sergio Moro – e chamou o vírus que já matou mais de seiscentas mil pessoas de uma mera “gripezinha”. Também não podemos esquecer que ele, ao ser confrontado pelos jornalistas, agiu sempre com grosseria e total falta de tato, chegando a afirmar que era Messias mas não fazia milagres.
Dói, e muito, pensar que tantas pessoas votaram nele. Dói porque ele nunca nem mesmo escondeu o que realmente é: um ser ignorante, tapado e desprovido de ética. Ele nunca se destacou em nada, jamais apresentou uma proposta inteligente enquanto deputado e, em todas as vezes que falou em público, mostrou ser uma figura ridícula.
Talvez muitos falem que melhor ele do que o PT, porém a verdade é que estamos muito pior do que na época do PT. Quem insiste em defende-lo – mesmo com todas as provas de sua incapacidade – irá dizer que ele é patriota, um homem da família e vítima da Globo. Façamos então a seguinte pergunta: os mesmos que afirmam que ele é vítima da Globo e de um complô da esquerda brasileira diriam o que se fosse Dilma, Lula ou qualquer outro petista ou esquerdista que estivesse ocupando o cargo de presidente? Talvez estivessem dizendo: “A esquerda desgraçou o Brasil.”
Falar que Bolsonaro é patriota e pela família não serve mais de argumento para defende-lo quando apontamos seus muitos erros e defeitos. Hitler e Mussolini também eram patriotas e deve-se lembrar que não cabe a um presidente – seja de qual nação for – posar de paladino da moral e bons costumes. Presidente é para trabalhar para que todos tenham seus direitos garantidos, investir na educação, saúde e segurança. E isto é o que não o vimos fazer em nenhum momento. Está certo que o Brasil não vai se tornar uma grande nação do dia para a noite. Acontece que é necessário que se dê o primeiro passo investindo em educação e garantido que todos tenham saúde e segurança e isto é algo que com certeza nunca veremos alguém como Bolsonaro fazer.