Pesadelo - meio milhão de containers
"Pesadelo logístico
Por Vilma Gryzinski
Para onde quer que se olhe no mundo, a Covid-19 plantou armadilhas que instabilizam os fundamentos da economia.
A crise do momento - sem que isso signifique que a escassez de energia e o aumento da inflação tenham sido escanteados - é no conjunto logístico formado por transporte marítimo de cargas, descarga e distribuição por terra.
Um número resume o tamanho do problema: quase meio milhão de contêineres ... aguardam para ser descarregados de 70 navios que não podem ser processados no complexo portuário de Los Angeles e Long Beach, o maior dos Estados Unidos, por onde passa metade das importações feitas pela maior economia do mundo.
O problema é tão premente que os gigantes do varejo como Walmart, Target e Home Depot estão fretando seus próprios navios para operar em portos menores e menos congestionados. A proximidade das festas de fim de ano torna a questão mais premente. Sem mercadorias para um público ávido por compras e celebrações depois que o pior da pandemia já passou, a melhor estação do ano será perdida.
O fenômeno está sendo chamado, à maneira americana de comparar tudo com filmes-catástrofe, de “containergeddon”.
No Reino Unido está acontecendo a mesma coisa. Os portos estão lotados de contêineres, os cargueiros fazem fila e faltam caminhoneiros para desafogar a cadeia de transporte. Há empresas deslocando navios para a Europa continental, onde as cargas são transportadas por embarcações menores, dirigidas a portos menos problemáticos.
Com o sistema congestionado, os custos disparam. Em comparação com maio do ano passado, o custo do frete de contêineres dos Estados Unidos para a Europa aumentou 303%. Da China e do Leste Asiático para a costa oeste dos Estados Unidos, 713%. (...)
“O problema primário está na disparidade entre demanda, que deu um salto enorme à medida que as economias se recuperaram da paralisação forçada da pandemia, e oferta, que não se recuperou na mesma velocidade”.
Ou seja, o mecanismo mais fundamental para o funcionamento das economias engripou. (...)
“Os americanos estão entrando numa nova fase da economia pandêmica, na qual o PIB cresce, mas também sofremos com a escassez de um número impressionante de coisas - kits de teste, autopeças, semicondutores, navios, contêineres, trabalhadores. É a Falta de Tudo ”, escreveu Derek Thompson na Atlantic .
“As cadeias de abastecimento dependem de contêineres, portos, ferrovias, armazéns e caminhões. Cada um dos estágios dessa linha de montagem internacional está vindo abaixo à sua própria maneira. Quando a cadeia global de abastecimento funciona, é como um sistema lindamente invisível de dominós caindo para a frente. O atual caos nos lembra que os dominós também podem cair para trás”.
“Tudo o que pode dar errado está dando errado ao mesmo tempo”, resumiu para a Bloomberg Isaac Larian, o dono da MGA Entertainment, gigante dos brinquedos e jogos. “Estou há 43 anos no ramo e nunca vi nada igual”.
Tradução: quem pode, antecipe as compras de Natal porque o mecanismo de oferta e demanda poucas vezes esteve tão exemplarmente demonstrado nas vidas do planeta inteiro."