O longo subdesenvolvimento
O longo subdesenvolvimento
Publicado no jornal Zero Hora, de 29/09/21
Nossas elites são pobres de conhecimentos e individualistas. São hábeis condutoras da manutenção do status quo, o ambiente social de privilégios que não querem ver compartilhado às custas de perdas de poder político, de renda e de poder econômico. O ideal da solidariedade é praticamente desconhecido neste ambiente social excludente.
Sempre fomos um país subdesenvolvido, somos agora e continuaremos a ser no futuro. Muito pouco valerá a utilização correta de técnicas econômicas, sem, primeiramente, se ter a adesão consciente da maioria do povo à uma proposta política de construção de uma nova sociedade justa. O nosso subdesenvolvimento, e de muitos outros países, é o resultado do modo de ser do capitalismo mundial: um “centro desenvolvido” e uma “periferia” subdesenvolvida. Esta informação é negada à maioria da população. Mentem na tentativa de manter vivo o sonho de que, um dia, todos serão bem atendidos pela riqueza gerada coletivamente.
A sociedade brasileira deve se sensibilizar e agir em favor dos cerca de 45 milhões de desempregados, subempregados, pobres e miseráveis com fome. Eles não vão aceitar, por muito mais tempo, esta exclusão.
A classe dominante trata de manter a degradante situação com o auxílio de modernas técnicas de contenção social, utilizando o marketing com seus recursos de psicologia social, da inteligência artificial com seus algoritmos, do “big data” com seus enormes bancos de dados interligados, acabando, pouco a pouco, com a privacidade dos cidadãos e induzindo o povo a assumir comportamentos submissos e consumistas.
A “modernização” atual significa drástica redução dos postos de trabalho, progressivamente substituídos pela tecnologia informatizada que desemprega e marginaliza as pessoas que não têm escolarização de qualidade. No caso brasileiro e latino-americano a classe dominante reproduz, em restritos nichos territoriais, os estilos de vida e padrões de consumo dos países mais ricos, da Europa e América do Norte, sem que perceba que tal opção conduz a concentração de renda nas mãos de alguns poucos, determinando exclusão social e a perpetuação da tragédia humana do desemprego e da miséria.
Eurico de Andrade Neves Borba, 80, aposentado, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Caxias do Sul. eanbrs@uol.com.br