RETORNO Á REPÚBLICA DAS BANANAS
 
Confesso não ter simpatia por alguns dos ministros que compõem hoje o Supremo Tribunal Federal. Na minha opinião, há pelo menos uns cinco que não deveriam estar lá. Por definição, e principalmente por força do mandamento constitucional, o STF deveria contar com magistrados preparados, com grande saber jurídico e reputação ilibada, como compete aos defensores da Constituição do país.
Não é o que acontece com as indicações dos magistrados que lá estão. Elas geralmente são políticas e atendem mais aos interesses pessoais do mandatário de plantão do que aos interesses do país.
Pode-se até argumentar que alguns dos ministros, como no caso de Alexandre de Moraes, possam estar agindo com certa arbitrariedade no exercício dos seus poderes. Há opiniões a favor e contra e ambas são perfeitamente defensáveis no âmbito da legislação vigente. Mas o que não se pode negar é que, no caso, é a exacerbação do quadro político que estamos vivendo que faz com que a prisão de Roberto Jefferson em si, que pouca importância teria num quadro de normalidade política, assuma contornos tão perigosos, ameaçando inclusive a ordem institucional.
Mesmo não votando à atual composição da Corte Suprema o respeito que ela deveria merecer, em termos de competência profissional e independência intelectual - já que, em nossa opinião, alguns dos magistrados que lá estão fazem mais política do que direito e justiça - não podemos concordar com o presidente Bolsonaro nos ataques que vem fazendo ao STF.
Até porque desconfiamos bastante dos seus motivos. Desde a reintegração do Lula no cenário político nacional, Bolsonaro tem dado sinais de descontrole emocional e mostras de que está perdendo a confiança em si mesmo. E não é para menos. Afinal, em termos de resultados, o seu governo é o pior desde a redemocratização do país. Contabiliza a maior inflação do real, a maior taxa de desemprego do seculo, uma queda violenta no PIB e uma imagem para lá de funesta nas relações internacionais. Para piorar, as reformas prometidas não saem do papel, e quando saem, acabam sendo meros ratinhos paridos por montanhas, como a reforma tributária que está sendo discutida no Congresso, por exemplo, que nada muda no cenário atual, a não ser aumentar a tributação via Imposto de Renda. E para entornar de vez o caldo, encara, com muita incompetência, uma pandemia que já ceifou quase seiscentas mil vidas. Não tivesse ele se abraçado com o Centrão - grupo político que ele messmo cansou de criticar - já teria sofrido um impeachement.
Mas política, como religião e futebol, é uma paixão que alucina e deixa cegas as pessoas que se apaixonam. Elas não vêem, não ouvem e não pensam.
A ironia disso tudo é que  o “pivot” desse conflito é exatamente um político como Roberto Jefferson, cujo passado não é nada recomendável. 
Bolsonaro se elegeu com um discurso contra a corrupção. Seria cômico se não fosse trágico, se por conta de tamanha insanidade, o país voltasse ao status de “banana republic” que deixou de ser com a democracia reconquistada em 1988.