O EFEITO LULA: EU SOU VOCÊ AMANHÃ
 
Foi Hitler quem disse que a coerência é um vício mortal. Pelo menos, em termos de política ele tinha razão. Decididamente, coerência não é uma virtude muito amada pelos políticos. Principalmente quando ela ameaça a sua sobrevivência. Não faz muito tempo O presidente e o senador Ciro Nogueira viviam trocando insultos. Ciro chamava Bolsonaro de golpista e o presidente dizia que Ciro era o que existia de pior na política brasileira. Agora Bolsonaro chamou Ciro para ser seu principal articulador político. Quem mudou nessa conjuntura? Foi Ciro quem se tornou um político ético ou Bolsonaro que virou amante da democracia?
Bolsonaro elegeu-se com um discurso que condenava a chamada “velha política” do toma lá dá cá, que sempre foi tradição imperativa na nossa república de coronéis. E o que é a “velha política”? Exatamente o lobismo praticado por pessoas e grupos políticos que vendem seu apoio ao governo em troca de favores pessoais. Bolsonaro jurou que jamais iria compactuar com esse tipo de comportamento e que nunca iria hipotecar o seu governo em troca desse tipo de apoio.
Entre a prática e o discurso há um imenso golfo a ser cruzado. Bolsonaro, durante mais de vinte anos elegeu-se deputado e se manteve nas sombras do baixo clero para não ter suas posições ideológicas de direita radical expostas. Soube aproveitar o desgaste do PT, provocado pela Operação Lava a Jato e elegeu-se com um discurso sedutor que prometia o enterro desse vício que corrói a política nacional desde os primórdios da nossa vida como nação: a corrupção. No começo até que tentou fazer algo a respeito. Diminuiu a quantidade absurda de ministérios que o PT havia criado para hospedar seus aliados e enxugou, em parte, a máquina pública que Lula e Dilma haviam inchado com os amigos do partido.  E afastou-se dos políticos fisiológicos que vivem grudados no poder como eternos carrapatos.
Mas agora que está vendo o seu governo ameaçado pelas más escolhas que fez em relação, principalmente à estratégia de combate à pandemia do Covid 19, Bolsonaro renega tudo que disse em relação à “velha política” e ele mesmo se diz um “membro do centrão”. 
Tudo isso prova que, em política, a única ideologia que realmente existe é a sobrevivência. E só há, de fato, um interesse a defender: a manutenção do poder que se conquista, muitas vezes, com engodos e falsas declarações de intenção. Nesse sentido Bolsonaro também traiu seus eleitores ideológicos, da mesma forma que o PT fez ao hipotecar seu governo aos banqueiros e empresários de obras públicas,  esquecendo de suas origens e desprezando a ideologia que seduziu os eleitores que o levaram ao poder. Os erros do PT elegeram Bolsonaro.  Agora Bolsonaro começa a trilhar os mesmos caminhos que levaram o PT ao abismo. É o Efeito Lula (que ameaça voltar com força) que começa a corroer o governo Bolsonaro. Será que algum dia escaparemos desse círculo vicioso?