Queimando a ignorância
- Os bandeirantes não eram "colonizadores", eram nativos da terra que sequer falavam português, só a língua geral (derivada do tupi). Quase todos caboclos ou indígenas (como o Cacique Tibiriçá, líder bandeirante) que eram frequentemente reprimidos pelos portugueses, sendo um dos episódios mais dramáticos a Guerra dos Emboabas, em que a Coroa portuguesa destruiu os bandeirantes para se apossar das minas de ouro e diamantes descobertas por eles e poder pagar suas dívidas com a Inglaterra.
- Os bandeirantes não eram "genocidas", simplesmente para entrar no interior tinham que tomar parte nos confrontos sanguinários e até mesmo canibais que existiam desde antes de 1500 entre tribos indígenas rivais. Não havia STF, ONU e Tribunal Internacional de Haia na época, os conflitos só podiam ser resolvidos na flecha e na bala.
- Os bandeirantes não estavam a serviço da Igreja Católica para catequizar indígenas, muito pelo contrário, eram quase todos pagãos e entraram muitas vezes em choque contra os jesuítas, principalmente no sul, onde os jesuítas eram mais ligados à Espanha, ainda que no norte, onde eram mais ligados a Portugal, alguns jesuítas tenham aderido às bandeiras.
- Os bandeirantes não eram latifundiários nem trabalhavam para senhores de engenho, pelo contrário, se fossem seriam sedentários e não se aventurariam pelo interior ocupando-o com a policultura de subsistência.
- Domingos Jorge Velho de fato reprimiu o quilombo dos Palmares. Contudo, quem enfrentou e matou os quilombolas, muitos dos quais indígenas, foram os próprios indígenas bandeirantes. A maior parte da repressão ao quilombo do Palmares não foi do branco malvadão de olhos azuis contra os pretos coitadinhos, mas índio matando índio, movidos por rivalidades tribais.
- Borba Gato não fazia parte das bandeiras de apresamento, mas de mineração. Foragido por matar um português, viveu décadas entre os índios, sendo por eles aclamado como líder.
- Os "paulistas", como eram chamados os bandeirantes, não eram apenas os nascidos onde hoje é o estado de SP, pois a capitania de São Paulo, até o início do século XVIII, abarcava também onde hoje são MG, PR, GO, MT, MS, TO e RO. Todos os nascidos nessas regiões, de ocupação bandeirante, eram paulistas.
- O sertanejo nordestino é descendente dos bandeirantes, que ocupou o interior do nordeste com o tipo mameluco predominante no planalto paulista da época. O matuto e o sertanejo vêm da mesma raiz bandeirante. Logo, não faz o menor sentido contrapor o nordestino ao paulista.
- A primeira experiência de democracia representativa no Brasil foi a eleição para a câmara de Cuiabá, no século XVIII, uma cidade bandeirante.
- Quem nacionalizou a imagem positiva dos bandeirantes não foi a oligarquia paulista, mas Getúlio Vargas, o maior inimigo dela. Ele exaltava os bandeirantes em discursos, panfletos e nos currículos escolares, além de ter criado o Museu das Bandeiras. A oligarquia paulista, ao contrário, sempre desdenhou dos bandeirantes, homens rudes e voltados para dentro do país, indiferentes e até mesmo hostis aos modismos estrangeiros (quando ajudaram a expulsar holandeses e ingleses do Brasil) tão ao gosto da oligarquia paulista. A mídia liberal paulista, inclusive, é uma das que mais se empenham hoje em desconstruir a memória bandeirantista. (Felipe Quintas)
Talvez muita gente não saiba, mas o exército dos Bandeirantes eram os índios. Não havia tanto português por aqui, e negros, mal existiam em SP, só em número muitíssimo reduzido, daí muitos dos topônimos paulistanos e paulistas serem de origem tupi, não de raiz africana. Os negros eram levados para o nordeste por causa dos engenhos de cana-de-açúcar que necessitavam de mão de obra. O afluxo de negros em São Paulo iniciou-se com as migrações internas fomentadas por Getúlio Vargas séculos mais tarde.
São Paulo era esquecida, perdida, nove dias para escalar a Serra da Mantiqueira e chegar no Planalto Paulista que se resumia só àquele trechinho do centro histórico inicial (Páteo do Collegio) que formava um triângulo com os rios Tamanduateí, o maior deles, retificado no início do século XX, e seus afluentes, Itororó, soterrado sob a Avenida Nove de Julho e, finalmente, o Anhangabaú, também sepultado sob a Avenida Vinte e Três de Maio.
A Ladeira Porto Geral era mesmo um porto fluvial que recebia víveres das fazendas em São Bernardo do Campo, pois a atual Vinte e Vinco de Março está onde era o leito do Tamanduateí antes da retificação.
Tudo era de pau a pique, taipa e adobe, tecnologia que os portugueses trouxeram para o Brasil (não, os índios não conheciam este tipo de construção, só usavam palha, não conheciam nem a roda!), conhecida no sul de Portugal após a invasão bérbere (islâmicos, sob Taric, que mudou o nome das Colunas de Hercules para Gibraltar que significa "Taric passou aqui"), no séc. VIII.
Não houve aquele massacre de índios que os supostos historiadores gostam de falar, também não havia milhões e milhões de índios como dizem.
Catequizados, alfabetizados, protegidos pelos jesuítas, muitos índios adotaram nomes portugueses e incorporaram-se ao exército dos Bandeirantes.
Já passaram na sinuosa Via Anhanguera? Era uma picada aberta pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva e apelidado de Anhanguera pelos índios, que significa "diabo feio" porque devia ser muito feio mesmo. Ele descobriu as minas de Goiás.
São Paulo era esquecida do mundo ou, como dizem, esquecida de Deus e do diabo. Era uma vida bem provinciana, logo, propícia a homens corajosos com sonhos de desbravamento.
Na época dos bandeirantes, Portugal estava sob jugo da Espanha, pois não tinha rei, até reconquistar sua independência com os Braganças. Sem nem saber do Tratado de Tordesilhas que dividiu o continente entre Portugal e Espanha, os bandeirantes foram muito além e formaram este território.
Até o arroz carreteiro e o feijão tropeiro, a bombacha e o poncho, eram tipicamente bandeirantes, dos paulistas que levaram seus costumes Brasil afora.
Quando leciono sobre o Barroco no Brasil (pois não existe um "barroco brasileiro", eles são muito diversos, existe o barroco mineiro, o carioca, o da costa nordestina, o paulista) conto todas estas histórias (com mais detalhes e vagar), mostrando a simplicidade do Barroco paulista onde muitas peças podem ser vistas (se não estiver fechado) no Museu de Arte Sacra, antigo Convento da Luz, ele também construído com taipas.
Só com o café que se adaptou bem por estas plagas é que São Paulo começou a enriquecer e construir em pedra no final do século XIX, usando o estilo eclético, comum na França do Segundo Império e o Art Nouveu Belga, o mais belo de todos os Art Nouveau. Ramos de Azevedo, arquiteto, embelezou muito aquela antiga aldeia que depois foi enfeiada por caixas estilo Le Corbusier, sem alma, e hoje é jogada às traças por mais de cinco décadas de sucessivas administrações que espalham drogados pelas ruas para acelerar sua destruição.
Quando um revolucionário destrói o passado, ele sequer conhece este passado, veja que quando os revolucionários depredaram Notre-Dame de Paris cortaram as cabeças das esculturas dos reis do Antigo Testamento supondo que se tratassem de reis franceses.
A história de São Paulo é linda, feita com muito esforço, muito trabalho e muita coragem. Naturalmente, os covardes jamais a compreenderão.
Na verdade, São Paulo, aquela heróica, já morreu na década de 1950. Hoje restam escombros imêmores.
RIP, São Paulo "
Lucília Coutinho