A RIQUEZA DAS NAÇÕES

Perdoem-me a pretensão, este texto vai defender que o grande Adam Smith estava errado em sua obra homônima. O primeiro grande economista liberal da história pregava na extraordinária obra escrita em 1776, com argumentos que resistem até hoje, que os países deveriam buscar acumular capital pelo comércio e produção, que a riqueza das nações estava em sua capacidade de produzir e acumular bens pela livre negociação entre trabalhadores e patrões e comercializar com o mínimo de restrições possíveis do governo. Eu penso diferente, acho que a riqueza das nações está em sua gente enriquecer e que no longo prazo, os países com populações mais ricas serão os de real sucesso.

Tenho um amigo que diz que o longo prazo não importa, porque neles estaremos todos mortos, e ele tem certa razão. Porém, estaremos vivos em parte do trajeto e entender que a riqueza de um país está em sua gente pode fazer a nossa passagem ficar melhor e a dos nossos filhos e descendentes, a única riqueza que deixaremos, pode ser muito boa.

Minha crença se baseia em observações empíricas, altamente contestáveis, que têm sua lógica. Eu acredito que os países que cresceram no passado e os que crescem hoje tem um só fator crucial em comum, que é a inclusão da maior parte de sua população no mercado consumidor. Não há país desenvolvido com a maioria de sua gente na pobreza. As nações crescem quando suas populações entram no mercado, viram consumidoras.

Este movimento ocorreu primeiro na Inglaterra, depois em países europeus e EUA. Na medida em que as pessoas deixavam de ser camponeses e iam ser empregados em indústrias, começavam a receber e deixavam de produzir, tornando-se consumidores. Foi gradual a passagem deles à classe média, e quando superado o momento em que a maioria deixava de ser pobre e tinha o mínimo para viver, o desenvolvimento veio.

As guerras bagunçaram as coisas, depois delas Alemanha e Japão trilharam o rumo. Após eles, o único exemplo relevante é a Coreia do Sul. Muito se fala sobre a importância da educação e ela é crucial, no entanto, tirar os pobres da miséria e coloca-los na classe média é o que faz a diferença.

Hoje, isso está ocorrendo na Ásia, conforme conta Celso Ming “Fato pouco analisado é o de que está em curso a inclusão no mercado de grandes camadas de consumidores da Ásia. As estatísticas que tentam quantificar esse fenômeno são imprecisas, mas giram em torno de 40 milhões a 50 milhões por ano as pessoas que não consumiam por falta de renda e que estão sendo incorporadas ao mercado.”

O país que mais cresce no mundo e a futura maior economia é a China. Isso ocorre porque tem o maior mercado interno potencial, com mais de 1,2 bilhões de habitantes. Ainda hoje, a maioria deles é pobre, consome pouco. No dia que a maioria for classe média, o mercado interno chinês será o maior do mundo. A China tem vantagem sobre a Índia por não ter as profundas divisões de castas e conflitos religiosos da nação vizinha, entretanto, esta também será das maiores economias do mundo, assim como a Rússia, se um dia começarem a colocar a maior parte de sua gente como efetivos consumidores.

Não há perdedores em não ser os maiores PIBs, e sim em não estar no grupo dos desenvolvidos, nos maiores PIB por habitante. Mesmo a China sendo a segunda economia do mundo, tem um PIB per capita de US$ 17.192 por ano, é o 77º lugar neste ranking. Enquanto isso, na Dinamarca de menos de 6 milhões de habitantes, o PIB per Capita de US$ 58.933, é a 10ª população mais rica do planeta, seus habitantes vivem melhor do que os chineses. Imagine o que será a China se dobrar a renda da maioria da sua população. E isso não prejudicará em nada outras pessoas, só fará o mundo melhor.

Eu acredito que um dia o Brasil vai entender isso e trilhar este caminho. Uma nação com mais de 210 milhões de habitantes, com 80% deles pobres, tem enorme potencial, será um dos 10 maiores mercados do planeta no futuro. A questão é quando, pois há décadas isto tem sido apenas um sonho, uma promessa que não se cumpre.

Nosso problema é que as elites acreditam que vão perder com distribuição de renda e tudo fazem para evitar uma Reforma Tributária de verdade, manter o país bom para poucos. Elas não entendem que se vivessem num país com digamos 100 milhões de pessoas na classe média seus negócios seriam menos sensíveis a crises, e ainda que pagassem mais impostos, seriam ainda mais ricas.

A coisa é tão forte que só porque o governo propôs uma tímida redução no Imposto de Renda às custas de uma tributação de dividendos (que todos paises fazem, o "mercado" está em polvorosa, os ricos resistem bravamente. Não será surpresa se novamente voltarmos à e'staca ze'ro,.

Mesmo com a vontade de ter mais uns 50 anos, acho que não viverei tempo suficiente para que a mentalidade mude e nosso país se torne desenvolvido. Mas sempre vou escrever e lutar para que meus descendentes possam viver isso.


Texto Inspirador: A nova bonança e o risco de outra perda de oportunidade Celso Ming, O Estado de S.Paulo 19/05/21
Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 03/07/2021
Reeditado em 11/07/2021
Código do texto: T7291724
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.