A Espanha e Marrocos: os desdobramento da crise diplomática e política

As relações entre a Espanha e o Marrocos, ou hispano-marroquinas, são mantidas por dois reinados geograficamente próximos, compartilhando uma longa fronteira marítima, mas também em terra ao longo dos presídios espanhóis de Ceuta, Melilla e o peñón de Vélez de la Gomera. 

O governo espanhol e o Governo marroquino nos últimos meses conheceram  uma crise diplomática e política sem precedente, primeiro por causa do separatista da Polisario, Ibrahim Ghali, hospitalizado em Espanha por complicações de saúde e coronavírus e também pela posição sobre a questão do Saara marroquino. Até hoje os dois países não conseguiram encontrar um compromisso e uma saída que agradasse os dois lados, face ao episódio da hospitalização do líder separatistas, Brahim Ghali,  apoio pela Argélia, além  da evasão dos imigrantes ilegais, invadindo a Espanha e logo Europa.

Tal crise diplomática e política se acentua com o processo da imigração ligado à segurança das fronteiras, da estabilidade socioeconômica e da paz duradoura em volta da região do Magrebe.

Tal crise não se limitou somente a estes aspectos, levando a Espnaha, sexta feira passada, 11-06-2021, a apresentar um moção votada no Parlamento europeu, denunciando o uso de menores por Marrocos, desconsiderando os acordos da luta contra a imigração ilegal e dos menores.

Tal ação espanhola, levou os partidos no parlamento marroquino a reagir, criticando a Espanha que busca envolver outros países europeus numa crise bilateral,  prejudicando a relação estratégica do Marrocos, como primeiro parceiro comercial da União Europeia.

Segundo a imprensa marroquina, a Espanha quer mudar o estatuto jurídico das cidades ocupadas de Ceuta e Melilla, situadas no norte de Marrocos,  impondo um visto aos residentes das cidades marroquinas, adjacentes ao Thaghrin, tal medida agrava ainda mais as relações entre Rabat e Madrid.

Sr Juan Gonzalez Barba, ministro espanhol responsável pelas relações com a União Europeia declarou durante a sua visita à cidade ocupada de Ceuta que o governo de Pedro Sanchez estuda a abolição do regime especial existente entre as partes, no sentido de obrigar os marroquinos que passam pelas duas cidades ocupadas a ter um visto ou seja a restringir o movimento e por consequências aumentar a ten;ção social.

As Autoridades espanholas querem afastar o Marrocos de qualquer negociação bilateral,  mantendo um clima de tensão, face a qualquer intenção da inclusão de Ceuta, prendendo  um regime aduaneiro da União Europeia ou do espaço Schengen, no qual se obriga o Marrocos a sentir os efeitos  contra sua posição, abrindo o caminho rumo a uma crise migratória. Afetando as cidades ocupadas objeto de uma eventual reclamação do Marrocos neste contexto sombrio.

Num primeiro momento o Marrocos pretende fechar as travessias  de Ceuta e Melilla ocupadas, antes do início do vírus “Corona”,  e depois entrar numa negociação com Espanha sobre  tais cidades, excluídas do processo de abertura das fronteiras para o retorno dos marroquinos do mundo, uma retaliação das autoridades marroquinas em relação a uma receita anual  para a economia espanhola.

Sr Habib El Malki, Presidente da Câmara dos Representantes do Marrocos, após votação do Parlamento Europeu, denunciando o Marrocos, cujas tentativas espanholas “enquadram-se num esquema da preservação do património colonial”, afetando diretamente a cidade de “Ceuta, ”traduzindo a persistência das posições entre as partes rumo a uma solução bilateral e não multilateral.

Sr Al-Maliki confirmou mais uma vez que os resultados da votação no parlamento europeu mostraram que a Espanha falhou na tentativa de empregar o dossiê de menores desacompanhados, após uma desaprovação  do Marrocos a atitude espanhol ao aceitar o líder da Frente da Polisario, Ibrahim Ghali no seu território, utilizando documentos falsos e usurpação de identidade.

Tal regime espanhol proíbe a entrada de alguns marroquinos em Ceuta e Melilla, motivo pelo qual a Espanha quer praticamente anexar as duas fronteiras à União Europeia, no âmbito da sua fuga da sua responsabilidade e a resposta às repercussões da verdadeira crise bilateral entre os dois países.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação Africana e Marroquinos residentes no Estrangeiro confirmou, sexta-feira, segundo o diário al Ahdat al Magrebia, que a decisão aprovada pelo Parlamento Europeu não altera em nada o carácter político da crise bilateral entre Marrocos e Espanha.

O ministério sublinhou ainda, num comunicado, segundo a imprensa local que as tentativas de europeizar esta crise são em vã, uma vez que o carácter da presente crise bilateral continua a ter suas profundas causas e a responsabilidade da Espanha e Marrocos pela  eclosão, o consensus, a incapacidade de levar a cabo esta crise diplomática e política.

Considerando os interesses comuns, tal crise deve ser levada ao planos supremos, os soberanos marroquino e espanhol, capazes de apaziguar as tensões, tornando as tentativas de europeizar esta crise bilateral numa fase terminal, sem portanto alterar o  carácter puramente desta crise bilateral, respeitando a soberania e os direitos humanos, um dos pilares que aprofunda as causas da crise, e acentua a indiferença entre as partes. 

Lahcen EL MOUTAQI

Professor universitário, Rabat, Marrocos

Doutorado da Universidade Mohammed V 2014, Rabat - Marrocos, licenciatura em ciências econômicas da Universidade São Paulo, Brasil, e Pós-graduado em Tradução da Universidade Estácio de Sá. Brasil.

ELMOUTAQI
Enviado por ELMOUTAQI em 13/06/2021
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