O DILEMA DE HITLER
Certa vez Hitler foi convocado para arbitrar discussão entre dois grupos “científicos” que divergiam sobre determinada questão. A dúvida era se o interior da terra era oco (tese defendida por um grupo de místicos teosofistas) ou se seu núcleo era preenchido por rochas e metais, como diziam os geólogos. Hitler, que não entendia absolutamente nada do assunto, deu de ombros e respondeu: “Tanto faz. Ambos podem ter razão”. Quando lhe objetaram que a ciência precisa ser coerente em seus postulados, ele respondeu que a coerência era um vício mortal.
Essa passagem está registrada no livro “O Despertar dos Mágicos” de Pauwels e Bergier. Lembrei-me dela ao ouvir alguns discursos do presidente Bolsonaro e conclui que Hitler tinha razão. Políticos, de fato, não precisam ter coerência em seus pensamentos e ações. Assim, podem mudar de idéia à vontade que ninguém vai lhes cobrar isso. Em política, principalmente no Brasil, a coerência é, de certo, um vício mortal. Se não fosse não haveria tantos partidos políticos, com tantas trocas de legenda entre eles, como acontece em épocas que antecedem eleições. Não há tantas ideologias no mercado das ideias para justificar a existência de tantos partidos nem tantos programas partidários para suportar um número tão grande de aventureiros em busca de uma mamata, ou uma sinecura qualquer no serviço público.
Bolsonaro diz uma coisa e faz outra. Diz para todo mundo que seu governo não se pauta por critérios ideológicos, mas age tão ideologicamente como o mais fundamental dos petistas. Um dia lamenta o quase meio milhão de mortes causadas pelo Covid 19 e no dia seguinte promove uma aglomeração digna da torcida do Corinthians. Fala que seu governo não faz negociatas, mas entra em acordo com o Centrão, grupo de políticos fisiológicos cuja única ideologia é o apego ao poder. Afirma não defender privilégios, nem beneficiar ninguém, mas vira garoto de propaganda de determinado remédio, contra toda opinião científica mundial; e de quebra aprova a realização de um insignificante torneio de futebol no momento mais agudo da pior crise sanitária que o país já viveu em sua história. Tudo porque uma rede de televisão, o SBT, sua grande apoiadora na mídia, comprou os direitos de transmissão pela TV. Não é demais lembrar que o seu Ministro das Comunicações, Fábio Farias, é genro de Sílvio Santos, o dono do STB. Aliás, o debate entre o uso da cloroquina no tratamento do Covid 19 e a realização da Copa América no Brasil, neste momento, é tão despropositado quanto o assunto da terra oca. Serve apenas para acirrar os ânimos entre duas facções rivais, cujos membros estão mais para torcida organizada de clubes de futebol do que para eleitores politizados e inteligentes. Tudo bem que é da essência dos políticos o desprezo pela coerência. Mas o presidente Bolsonaro e os senadores da oposição, responsáveis pelo ridículo espetáculo da CPI que está rolando em Brasília, não estão nada preocupados com ela. Nem o povo. Pois se estivesse, nunca mais votaria em nenhum deles.
Certa vez Hitler foi convocado para arbitrar discussão entre dois grupos “científicos” que divergiam sobre determinada questão. A dúvida era se o interior da terra era oco (tese defendida por um grupo de místicos teosofistas) ou se seu núcleo era preenchido por rochas e metais, como diziam os geólogos. Hitler, que não entendia absolutamente nada do assunto, deu de ombros e respondeu: “Tanto faz. Ambos podem ter razão”. Quando lhe objetaram que a ciência precisa ser coerente em seus postulados, ele respondeu que a coerência era um vício mortal.
Essa passagem está registrada no livro “O Despertar dos Mágicos” de Pauwels e Bergier. Lembrei-me dela ao ouvir alguns discursos do presidente Bolsonaro e conclui que Hitler tinha razão. Políticos, de fato, não precisam ter coerência em seus pensamentos e ações. Assim, podem mudar de idéia à vontade que ninguém vai lhes cobrar isso. Em política, principalmente no Brasil, a coerência é, de certo, um vício mortal. Se não fosse não haveria tantos partidos políticos, com tantas trocas de legenda entre eles, como acontece em épocas que antecedem eleições. Não há tantas ideologias no mercado das ideias para justificar a existência de tantos partidos nem tantos programas partidários para suportar um número tão grande de aventureiros em busca de uma mamata, ou uma sinecura qualquer no serviço público.
Bolsonaro diz uma coisa e faz outra. Diz para todo mundo que seu governo não se pauta por critérios ideológicos, mas age tão ideologicamente como o mais fundamental dos petistas. Um dia lamenta o quase meio milhão de mortes causadas pelo Covid 19 e no dia seguinte promove uma aglomeração digna da torcida do Corinthians. Fala que seu governo não faz negociatas, mas entra em acordo com o Centrão, grupo de políticos fisiológicos cuja única ideologia é o apego ao poder. Afirma não defender privilégios, nem beneficiar ninguém, mas vira garoto de propaganda de determinado remédio, contra toda opinião científica mundial; e de quebra aprova a realização de um insignificante torneio de futebol no momento mais agudo da pior crise sanitária que o país já viveu em sua história. Tudo porque uma rede de televisão, o SBT, sua grande apoiadora na mídia, comprou os direitos de transmissão pela TV. Não é demais lembrar que o seu Ministro das Comunicações, Fábio Farias, é genro de Sílvio Santos, o dono do STB. Aliás, o debate entre o uso da cloroquina no tratamento do Covid 19 e a realização da Copa América no Brasil, neste momento, é tão despropositado quanto o assunto da terra oca. Serve apenas para acirrar os ânimos entre duas facções rivais, cujos membros estão mais para torcida organizada de clubes de futebol do que para eleitores politizados e inteligentes. Tudo bem que é da essência dos políticos o desprezo pela coerência. Mas o presidente Bolsonaro e os senadores da oposição, responsáveis pelo ridículo espetáculo da CPI que está rolando em Brasília, não estão nada preocupados com ela. Nem o povo. Pois se estivesse, nunca mais votaria em nenhum deles.