Grande ameaça pesa sobre Espanha!
Interroga-se se Marrocos constitui realmente uma ameaça para a Espanha?
Tratando da principal conclusão de um relatório do Instituto Espanhol de Segurança e Cultura (ISC) cujo título: "Marrocos, o estreito de Gibraltar e a ameaça militar contra Espanha", tal relatório foi publicado pela agência espanhola Europa Press.
De acordo com este relatório, a decisão do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump de reconhecer a soberania do Marrocos sobre o Saara fortalece a posição do Reino como potência regional e continental, passando através do seu rearmamento no sentido do seu rival da região, Argélia, considerando isso como um maior ameaça para a Espanha.
Os autores deste relatório, nomeadamente Guillem Colom, Guillermo Pulido e Mario Guillamó consideram a decisão americana não só reforça a aliança entre os Estados Unidos e Marrocos, mas também a sua posição no Saara, incluindo as águas territoriais.
Em relação às Ilhas Canárias, o relatório sublinha que Rabat não vai recuar perante à adaptação da sua legislação relativa à delimitação das suas águas territoriais, “contradizendo totalmente os interesses de Espanha, ao sobrepor as suas águas nas ilhas Canárias”.
O relatório anota também a adoção unânime das duas Câmaras do Parlamento marroquino em fevereiro passado de dois projetos de lei, visando o estabelecimento da jurisdição legal do Reino sobre todo o seu domínio marítimo. Referendo ao Projeto de Lei 37.17, alterando e complementando o Dahir referente à Lei 1.73.211 de 26 Moharrem 1393 (2 de março de 1973), fixando o limite das águas territoriais, bem como o Projeto de Lei 38.17 que altera e complementa a Lei 1.81 que estabelece uma zona econômica exclusiva.
Além disso, o relatório considera que o reconhecimento do caráter marroquino do Saara pelos Estados Unidos coloca Marrocos numa boa posição para assumir um papel de liderança na região e no continente em geral.
Acrescentando ainda que nos últimos anos, o Reino tem tomado as medidas para fortalecer ainda mais a sua posição, evidenciando a abertura de representações diplomáticas de 15 países africanos no Saara marroquino.
Tal relatório destaca , por outro lado, o fato de Marrocos ser uma ameaça aos interesses econômicos da Espanha. Cujo reconhecimento do Saara marroquino por Washington reforça a liderança do Reino na África, considerado como a quinta potência econômica.
Madrid, perante tudo isso, parece incomodar-se com por exemplo o mega projeto do porto de Tanger-Med, concorrendo com os de Algeciras, da Valência e Barcelona, além do projeto de construção de um gasoduto transsaariano, ligando Nigéria, a Marrocos e Europa, passando pelo Saara marroquino.
De acordo com o relatório do Instituto Espanhol de Segurança e Cultura, a posição de Marrocos no Magrebe e na África não se choca não só com os interesses da Espanha, mas também com os da França e Itália, exercendo a sua influência, sobretudo na Região do Sahel, onde grupos jihadistas são ativos.
Somando a isso as reivindicações legítimas de Marrocos para com os dois presidentes ocupados seja Sebta e Mellilia, considerados como um atentado à "integridade territorial da Espanha".
“Não se pode esquecer que parte da mentalidade e cultura estratégica marroquina faz parte de uma agenda que, segundo o relatório, passa pelo desejo de recuperar Sebta e Mellilia”.
Tais autores do referido relatório recordam a este respeito as declarações do chefe do governo, Saâd Dine El Otmani, em dezembro passado, sublinhando que " vai chega o dia em que vamos reabrir a questão de Sebta e Mellilia", suscitando a ira de autoridades espanholas.
Lahcen EL MOUTAQI
Pesquisador universitário, Marrocos