O Primo Presidenciável
No auge da campanha presidencial de 2018, estive em Fortaleza, num pequeno passeio turístico. Sempre que, por qualquer motivo, tinha de apresentar a minha identidade, e alguém via lá o "Gomes", eu perguntava: "como está a aceitação do primo aqui?"
Isto em relação ao candidato Ciro Gomes. Estranhamente, lançavam um rabo de olho para mim, com aquele gesto de reprovação: "Ih... ele aqui não tá com nada!"
É natural que pelo discurso as pessoas de fora valorizem mais do que os próprios conterrâneos, que vão mais pelo que fazem do que pelo que dizem.
Isto me fez lembrar a campanha de Collor, com a sua bandeira de acabar com os marajás e favorecer os descamisados, os pés descalços, os menos favorecidos. E a mídia, na sua
efeverscência, levava seu nome às alturas.
Um colega paranaense, que na época morava aqui Alagoas, e o conhecia mais de perto, foi ao Paraná, de férias, e, vendo aquela empolgação, achou de dizer para um seu conhecido: "rapaz, não é isso tudo que dizem não."
E o cara, sabendo que o outro estava morando em Alagoas, foi logo dizendo: "Ih... você deve ser um dos marajarzinhos de lá!"
Eis aí a confirmação de que quem está longe tende mais ao discurso e não a ação, que só quem está perto conhece.
E eu mesmo já vi muito esse filme. Nas minhas viagens, por esse Brasil afora, pergunto sobre determinados Senadores ou Governadores, dos quais aprecio os seus discursos, os seus pronunciamentos. E, quase sempre, a resposta é: "uma coisa é dizer e a outra é fazer". Nem sempre o discurso bonito corresponde à realidade. Assim, fico com a comparação humilde do vendedor de laranjas. Por acaso ele vai dizer que não é doce?