O HÍBRIDRO PROMÍSCUO
 
Pazuello deixou o cargo de Ministro da Saúde atirando para todos os lados. Não citou textualmente o presidente Bolsonaro, mas nas entrelinhas não o poupou pela orientação errática que ele, praticamente, o induziu a tomar na administração da crise sanitária que estamos vivendo. Em seu discurso de despedida também voltou suas baterias contra os políticos, que na sua avaliação, só pensam nos seus interesses pessoais. A frase que ele disse – aqui tem grana com fins políticos - não deixa dúvida com relação ao seu real significado: que há políticos se aproveitando da situação para tirar proveito dela.Isso, aliás está evidente.
Pazuello é um profissional das Forças Armadas, cujo histórico não apresenta máculas. Ele se envolveu com o governo porque acreditava nas boas intenções do seu chefe, o presidente. Saiu magoado e ferido em seus brios, porque, na prática o resultado da sua gestão não foi o que ele esperava. Nenhum general gosta de contabilizar derrotas. De quebra ainda poderá ter algumas dores de cabeça que poderão advir de investigações em curso, pois agora que perdeu o foro privilegiado, não faltará quem queira atirar pedras nele. Mas na verdade, não se pode culpá-lo de nada, a não ser a escolha errada que fez, em servir a um governo desgovernado.
Pazuello não é político e não conseguiu aguentar as pressões que foram feitas contra ele. Ele é um técnico, um estrategista em assuntos militares, e é claro, não poderia assumir um Ministério como o da saúde sem riscos. Ele mesmo foi bastante claro a esse respeito quando disse que o ideal teria sido uma composição entre ele e o Nelson Teich, médico que assumiu a pasta depois do expurgo do Mandeta. Mas Bolsonaro não quis essa composição. Optou por conduzir a política do Ministério de acordo com suas próprias ideias, as quais, todos sabemos, estão na contramão da ciência e de tudo que os profissionais da área recomendam.
Por não ser político Pazuello dançou. Bolsonaro, por seu turno, é um híbrido promíscuo. Mistura de político com militar, não se sabe quando está pensando com a cabeça de um ou de outro. Ás vezes pensa como militar e age como político; quando pensa como político é a sua parte militar que acaba falando. Assim, a sua personalidade bipolar acaba gerando mais insegurança do que confiança.
Pazzuello é mais uma vítima da personalidade descompensada do presidente. Mas agora ele não tem mais espaço para errar. Até seus aliados no Congresso já assinalaram isso, como o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse em seu discurso. Ou ele deixa quem entende do assunto trabalhar ou levará o país ao maior desastre da sua história.
Os nossos votos de boa sorte ao novo Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Á vista dos precedentes acima enunciados, ele vai precisar muito dela.