QUEM VAI BAIXAR?

QUEM VAI BAIXAR?

Era dia de algum espírito baixar num bolsonarista, no ritual semanal da Irmandade dos Descabeçados, uma organização formada por desmiolados que dão suporte às ideias malucas de um figurante de presidente em Brasilia. O espetáculo não pode parar, por exigência dele, tem que ter alguém para divertir a tropa. Juntaram todas as almas penadas num terreiro. Karluxo, com sua experiência em escolher, no dado, quem vai passar parte do salário, é o responsável pelo sorteio, ao seu lado, rodando o globo, a chacrete Micheque Bolsonaro, e como fiscal, o chefe do COAF, Fabrício Queiróz. A transmissão fica por conta da Rede Globo, com quem a Irmandade tem grandes enroscos. Ao som de: "Quanto riso, oh! Quanta Alegria" inicia-se a cerimônia. É só festa, afinal, o abençoado terá o privilégio de representar o gerente da Irmandade, algo que eleva a alto estima e impõe respeito. Ele vai ficar encarregado de dar o recado do Capetão. Uma mega operação foi montada, faixas, cartazes, disparos de Fake News, apostas. Deu trabalho, pois já se sabia que nenhum espírito estava disposto a incorporar naquele bagulho, até no além ele não é bem visto. O sortudo do dia para receber a graça ou espírito, foi um Deputado, Daniel Metidão, o famoso "ninguém aguenta", aos 38 anos, forte e com quase dois metros de altura, ele não se impõe apenas pela condição física, mas também pela virulência verbal e de seus atos. Uma toupeira. Chamaram o Malafaia para abençoar a cerimônia, pois de espírito ele é doutorado, vive recebendo a visita deles nos seus programas. Foram para o sorteio, a primeira bola, conhecendo o histórico do corpão, agarrou na saída. Emperrou! Eu! Nem pensar! Aquele corpo não me pertence. Se eu entrar lá, não vão me aceitar de volta. Tô bem aqui. Declino! A segunda bola também criou sérios problemas, disse que em nome da reputação faria piquete na saída. Protestou! Me ajudem, esse camarada já matou tanto, que se eu entrar no corpo dele, ele vai me matar também. Segundo ele mesmo fala, já matou uns doze, vai sobrar prá mim. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Micheque, ja nervosa, roda o globo. De lá a bola já mostra como vai ser o final. Eu tenho um atestado médico, estou com enjôo só de estar aqui participando desta festinha de bandido. Invoco a Constituição para me manter onde estou. Me reservo no direito de permanecer em silêncio. Tchau querida! Suado frio, a Primeira Brhama gira o bagulho, desce a bendita bola. Eu vou encarnar no Silveirado? É nunca! Quero minha demissão em caráter irrevogável. Já passei por Lula, Dilma, Cunha, mas seria humilhante eu ter que desfilar na pessoa desta figura repugnante. Peço clemência! Outra bola, mais confusão, ela conhecia o cara, pois viajava no ônibus onde ele era trocador. Silveirinha do Atestado? Tá me achando com cara de energético? Tô estressada, já me enfiaram num tal Pastor Everaldo e me ferrei. Ele era da mesma galera, fui com a comitiva batizar o Chefão lá no Jordão, tô precisando descansar. Aquele corpo de santo me deixou prá baixo. Mais uma bola, e a situação não se resolve. Tô menstruada, sem absorvente, não vai rolar, sou virgem. Além do mais, eu sou muito fraquinha, não vou aguentar aquela massa toda, é muita comida pro meu prato. Peço dispensa. O nervosismo tomou conta, ninguém aceita. Desce outra e já vai se explicando. Data vênia, senhores! Eu no Pit Bosta? Tais brincando! Pelo amor dos meus filhotes, me tira desta. Sou santo, puro, crismado e batizado, quando subi, deixei meu nome limpo. Agradeço. As últimas descem. Sou espírito, mas não de porco, nem que porca torça o rabo eu entro nesta encomenda, despacha este gastoso para outra seara, tô bem onde estou. Outra bola, de novo a recusa. O amiguinho do Xandão? Aquele cara é maluco, doidão, ele tem um Chip AI-5 na cabeça, faltam parafusos, e a lubrificação é com Óleo de Peroba. Não me dou bem com o odor. Prefiro ficar. Quisefonda! Sobrou a última, a torcida era grande, pois o tempo espiava e era urgente enviar o espírito ao corpo escolhido, porém renegado. Você vai topar? Perguntou o Cacá, já sem esperança. Vou, mas nas minhas condições, sem exigências. Seu nome? Humilhação! Vai, mas vê lá o que vai aprontar, o chefe não pode ser desrespeitado. Nem precisa continuar, se achando a mosca da merda, o tal deputado foi lá e deu o seu recado sem imaginar a humilhação que passaria. Nem com todas as desculpas esfarrapadas, nem com aquela cara de bundão arrependido ele conseguiu convencer. O pior foi que, por exigência de contrato, a humilhação foi fazer companhia a ele no xilindró. A capivara dele já deixava “cristalina a sua inadequação ao serviço na Secretaria de Comunicação da Irmandade”. Para ele, seria apenas uma passadinha “vapt vupt” pela delegacia, mas o flagrante promovido pela humilhação melou seus planos. Mas o brutamonte de bosta não se rende, agora a bandeira dele é: "Um povo armado, jamais será eliminado". Assim o Brasil vai conhecendo o mais novo mártir da Nova República, um Tira Mentes da Nação Bolsonariana. Viva a democracia!

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 21/02/2021
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