A SÍNDROME DO BESOURO

                        
Uma antiga fábula conta a estória de um enorme besouro que vivia perseguindo um vagalume. Era só o pirilampo sair para o seu passeio diário, que lá estava o feioso, de tocaia, para persegui-lo. O vagalume escapava como podia. Mas já estava ficando cansado daquela brincadeira sem graça. Um dia resolveu encarar o importuno cascudão, que não lhe dava trégua. – Hei cara, qual é a sua? Porque você está me perseguindo? – perguntou o pirilampo ao besouro.
 – Eu quero devorar você – respondeu o besouro.
– Mas porque? Pelo que sei eu não faço parte da sua cadeia alimentar –, disse o pirilampo.
– Você não faz parte do meu cardápio – respondeu o besouro, – mas me incomoda muito. Você é bonitinho, tem luz própria. As pessoas olham para você com ternura e admiração. Os poetas se inspiram em você para fazer versos. Eu, ao contrário, sou olhado com constrangimento e horror. As pessoas têm medo de mim. Por isso vou devorá-lo. Quem sabe sua luz passa para mim.
O besouro matou o pirilampo e o devorou. Cinco minutos depois estava morto,  intoxicado.  Ele não sabia que a enzima que faz o pirilampo brilhar é venenosa.
Bolsonaro sofre da Síndrome do Besouro. Basta alguém começar a brilhar perto dele que ele logo o devora. Pode ser adversário, ministro, assessor, amigo, seja quem for. Primeiro foi o Sérgio Moro. Depois o General Santos Cruz, em seguida o Mandeta. Agora é o General Mourão.
Que o nosso presidente é muito ciumento a gente já sabia. Que também sofre de narcisismo parece incontestável. É uma coisa que lhe veio do berço. Haja visto o codinome que seus pais lhe deram: Messias. Mas que sofria da Síndrome do Besouro, isso só se revelou depois que assumiu o poder.   
Ciúme de homem é pior que ciúme de mulher. Mulher ciumenta arranha o rosto da outra, arranca-lhe os olhos, puxa os cabelos, estapeia. Homem, quando não agride, calunia, desqualifica o outro, procura, de toda forma, destruir o rival. É um ciúme mais mesquinho e perigoso.
Dizem que em política não há inimigos nem amigos. Apenas rivais e aliados. O adversário de ontem pode ser o aliado de hoje e vice-versa. Mas não podemos esquecer que somos todos seres humanos. E seres humanos tem memórias. Memórias não nos deixam esquecer certas coisas, principalmente quando elas nos trazem dor. Podemos perdoar todos os agravos que nos são feitos, por conta da necessidade de manter uma paz negociada. Mas esquecer, ninguém consegue.
Talvez Bolsonaro pense que pode ir engolindo impunemente todos os vagalumes que ousam mostrar alguma luz na sua frente. Mas não devia esquecer que toda luz que brilha dentro de um homem geralmente é produzida por um componente venenoso, chamado vaidade. Que consome a mecha que a sustenta e pode queimar a mão de quem a apaga.